O insucesso escolar está em muitas crianças associado a infâncias marcadas pela falta de conversas ricas e variadas com os pais, susceptíveis de estimular os mecanismos da memória, revela um estudo divulgado pelo Instituto da Inteligência.
O estudo, realizado ao longo de seis anos pelo Laboratório de Neuropsicologia e Investigação do Instituto da Inteligência, "destaca o papel determinante que os pais exercem na consolidação das estruturas cerebrais que estão implicadas na memória das crianças", refere em comunicado o laboratório. "As crianças cujos pais conversam sobre o passado delas, lhes relatam episódios esquecidos ou desconhecidos e dialogam sobre os acontecimentos por elas vividos no passado imediato ou próximo, ajudam-nas de forma extraordinária e enriquecer a memória episódica", salienta o instituto.
A memória episódica, de acontecimentos vividos pela criança, é uma das categorias da memória humana, surgindo por volta dos 18 meses, até à sua consolidação, perto dos dois anos. Os autores do estudo concluíram também que as conversas com os pais ajudam a flexibilizar a capacidade das crianças de "viajar mentalmente no tempo", bem como a desenvolver as capacidades de antecipar o futuro, imaginar e planear. Durante a fase em que se desenvolve a memória episódica, "as experiências traumáticas podem ficar gravadas no inconsciente da criança e moldar os comportamentos futuros".
"Medos aparentemente sem explicação que surgem mais tarde resultam de experiências assustadoras vividas nesta época", sublinha o instituto, realçando que, "da mesma forma, experiências agradáveis ficam gravadas no inconsciente e proporcionam uma personalidade mais estável".
O Instituto da Inteligência destaca ainda as diferentes categorias de memória (genética, imunológica e cognitiva) que se estabelecem antes do nascimento e que podem influenciar comportamentos futuros. "Por exemplo, o registo de sensações de angústia produzidas pela mãe pode gerar uma criança ansiosa", salienta.
Data de introdução: 2005-04-22