Pioneira no distrito de Bragança, a Unidade Móvel de Saúde de Alfândega da Fé está há um ano a levar cuidados médicos, de 15 em 15 dias, às populações rurais do concelho, onde a maioria é idosa e com um elevado grau de dependência. Os resultados, dizem os responsáveis, “superam largamente” os custos do projecto.
O isolamento de muitas aldeias transmontanas, que ainda hoje se verifica, tem consequências a vários níveis, sofrendo os habitantes, na sua maioria idosos, de carências não só de bens acessórios, mas mesmo da falta de satisfação das necessidades mais básicas. Uma destas últimas é a prestação de cuidados de saúde. Encravadas nas montanhas da região, estas aldeias, muitas das quais de onde ainda é difícil sair ou entrar, são habitadas por pessoas que têm dificuldades económicas, de transporte e até de mobilidade, em termos físicos, para se deslocarem às sedes de concelho, seja para serem observadas por médicos e enfermeiros, ou simplesmente para comprarem medicamentos.
Muitas delas passam anos a fio com problemas de saúde, que vão arrastando, por não saberem como os resolver, e sem serem observadas por profissionais. Ora, foi precisamente para acabar com este cenário, que muitos municípios transmontanos, em colaboração com entidades locais, optaram por um sistema inovador: a criação de unidades móveis de saúde, que não são mais do que viaturas equipadas com material e pessoal de saúde habilitado, o que permite a quem não pode deslocar-se ter acesso a um vasto conjunto de actos clínicos e assistência médica. Um dos concelhos pioneiros nesta iniciativa – à qual também aderiram, por exemplo, os municípios de Chaves, Vila Pouca de Aguiar e Ribeira de Pena, no distrito de Vila Real – foi o de Alfândega da Fé, no distrito de Bragança. Aconteceu há um ano. E agora, feito o balanço do projecto, concretizado pela Câmara Municipal em colaboração com o Centro de Saúde e a Santa Casa da Misericórdia daquela localidade, o balanço é “positivo”, não só em termos estatísticos como clínicos e sociais.
A Unidade Móvel de Saúde de Alfândega, na qual prestam serviço cinco médicos de família, quatro enfermeiros responsáveis pelos cuidados ao domicílio, outros nove de internamento e um técnico de serviço social, abrange neste momento cerca de metade da população das aldeias do concelho, tendo efectuado 1.832 fichas clínicas, em mais de 36.600 atendimentos. O trabalho realizado neste último ano incidiu não só na prevenção primária e no controle de diversas patologias, como a diabetes (203 casos), a hipertensão (276 casos), o rastreio do cancro do cólon (575 casos), planeamento familiar e saúde mental, como também passou pela realização de consultas programadas nestas áreas, visitas domiciliárias a doentes acamados e prestação de cuidados básicos (por exemplo pensos).
Se, por um lado, há utentes que procuram a Unidade Móvel por apresentarem sintomas de doença ou necessitarem de cuidados, por outro, há quem aí se dirija apenas por uma questão de rotina e prevenção. No entanto, já foram detectadas situações “graves”, nomeadamente de cancro do cólon. Por isso, sempre que necessário, é feito o encaminhamento dos pacientes para o Centro de Saúde local ou o hospital mais próximo, conforme os casos.
Por tudo isto, a Unidade trouxe, segundo os responsáveis pela iniciativa, “ganhos óbvios”, que “superam largamente” os seus custos.
Data de introdução: 2004-12-18