ANTÓNIO JOSÉ DA SILVA

Erdogan e os direitos humanos

A Turquia moderna nasceu em 1923, e o seu fundador foi Kamal Atarturk, um militar que liderou uma revolução de jovens oficiais das forças armadas que ansiavam pela transformação do seu país num estado moderno. Esta uma transformação já tinha tido início em 1911, mas parecia demasiado lenta a esse grupo de militares. Estes atribuíam o declínio do então chamado império otomano ao regime social e político que vigorava no seu país, desde os século XV e XVI. Era um regime que consagrava o chefe religioso, o sultão, como líder político de um enorme império que se estendeu do leste da Europa e do Médio Oriente ao norte de África. Vitoriosos, os militares destituíram o sultão, dando início a um novo capítulo da história do país com a instituição de um sistema repúblicano.

Tal como acontecera antes com outros impérios que a História regista, também o império otomano foi dando, com o decorrer do tempo, sinais de grande dificuldade em manter a sua unidade política e o seu poder económico e militar. A sua aproximação à Alemanha que, no princípio do século vinte, já tinha conseguido o estatuto de grande potência eurpeia, foi favorecendo a transformação social e económica da Turquia, sobretudo na área da industrialização, mas teve a contrapartida de arrastar o país para a primeira guerra mundial que terminou de forma dramática para os vencidos. O mapa mundial foi drasticamente alterado e uma das alterações mais profundas aconteceu, precisamente, com o fim do império otomano. Morria um império e nascia um novo país que tinha pela frente grandes desafios.

Politicamente, o desafio mais difícil para o novo regime foi o de fazer funcionar normalmente um sistema pluripartidário. As tentativas de golpe de estado foram muitas, mas nenhuma delas teve como grande objectivo a restauração do sultanato. Apesar das tensões político-partidárias internas, a nova república turca foi alcançando sucessivos graus de desenvolvimento social e económico, sobretudo através de uma aproximação, lenta mas constante, ao mundo ocidental, e cuja maior expressão foi a sua tentativa, ainda não conseguida, de aderir à União Europeia. De qualquer modo, a Turquia é hoje uma verdadeira potência regional.

Tayip Erdogan, um verdadeiro muçulmano, embora moderado, venceu as várias consultas eleitorais a que concorreu desde que chegou ao poder, e com esses resultados foi cimentando cada vez mais o seu prestígio interno O mesmo não se pode dizer, no entanto, da sua imagem externa, já que esta foi profundamente abalada pela sua reacção ao falhado golpe militar de há pouco mais de um mês, um golpe que lhe terá dado o pretexto ideal para levar a cabo uma verdadeira limpeza no âmbito das forças armadas, das forças de segurança e do sistema judicial. Só que esta limpeza foi tão rápida e tão extensa que até os seus amigos ocidentais acharam que ela era susceptível violar os direitos humanos o que também muita gente pensa que está acontecer na sua luta contra os curdos.     

 

Data de introdução: 2016-09-08



















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