A Cooperativa António Sérgio para a Economia Social (CASES) entregou o Prémio Cooperação e Solidariedade António Sérgio 2017, numa cerimónia que decorreu na belíssima antiga igreja do Convento de São Francisco, em Coimbra, e distinguiu Celmira Macedo com o Prémio Especial Personalidade do Ano.
Mentora, fundadora e presidente da Associação Leque (Associação de Pais e Amigos de Pessoas com Necessidades Especiais), sedeada em Alfândega da Fé, Celmira Macedo foi apresentada por Eduardo Graça, presidente da CASES, como “uma verdadeira empreendedora social”, enquanto o padre Lino Maia, presidente da CNIS, se referiu a ela como “um ícone da Economia Social”.
Doutorada em Educação Especial pela Universidade de Salamanca, Celmira Macedo lançou em 2015 a EKUI, metodologia de alfabetização para pessoas com deficiência, utilizando quatro formas de comunicação (gráfica, língua gestual, braille e alfabeto fonético), isto depois de ter fundado a pioneira instituição na zona sul do distrito de Bragança (pode ver reportagem do SOLIDARIEDADE aqui).
Após receber o prémio das mãos do ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, José Vieira da Silva, Celmira Macedo, ainda a recuperar de uma recente intervenção cirúrgica, agradeceu a distinção e remeteu para a antiga forma de no Império Romano se homenagear os comandantes das legiões pelos feitos bélicos, para deixar três notas.
A premiada lembrou que ao longo do percurso pela cidade, um dos dois escravos que acompanhava o comandante glorificado repetia-lhe amiúde que também ele era mortal, apesar de todas as honras com que o acolhiam.
“Sim, também eu sou mortal. Sim, somos pequeninos, mas podemos imortalizar as nossas ações”, anotou Celmira Macedo, lembrando que “na Economia Social as batalhas estão longe de estar ganhas”.
Por fim, “para ser justo este reconhecimento que me prestam, vou reparti-lo com todas as pessoas que me ajudaram a estar aqui”, acrescentando que é bom ser reconhecido, porque “quando se está no terreno tornamo-nos invisíveis”.
“Há hoje uma realidade que marcará o futuro da Economia Social: a capacidade de incorporar toda a riqueza da inovação que nós vivemos. Celmira Macedo é um exemplo vivo dessa capacidade de inovar, de criar coisas novas”, diria depois o ministro Vieira da Silva, no discurso de encerramento da cerimónia, notando que o Setor Social Solidário tem tido “uma enorme abertura à inovação”.
No rol dos distinguidos pela CASES, a Associação Dignitude venceu na categoria de Inovação e Sustentabilidade, com o projeto Abem, um programa de apoio ao acesso a medicamentos.
O Abem procura dar resposta aos problemas de acesso ao medicamento motivados por condições socioeconómicas, sendo promovido pela Associação Dignitude, uma instituição sediada em Coimbra que nasceu de uma parceria entre a Cáritas Portuguesa e Plataforma Saúde em Diálogo com a Associação Nacional das Farmácias e a Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica.
Maria de Belém Roseira, que recebeu o prémio em representação da associação, sublinhou que, apesar do esforço do Estado com os medicamentos e de estes terem baixado de preço, continuam a representar “uma pressão e um peso”, num País com rendimentos médios baixos.
Por outro lado lembrou que este consórcio é possível porque “as instituições não concorrem umas com as outras, mas cooperam”.
Ainda na mesma categoria, a Cooperativa Eléctrica do Vale d’Este, de Vila Nova de Famalicão, e a Associação Algarvia de Pais e Amigos de Crianças Diminuídas Mentais, de Faro, receberam menções honrosas.
Sérgio Manuel Pratas foi premiado na categoria Estudos e Investigação, por um trabalho sobre o associativismo popular, enquanto o ISSSP – Cooperativa de Ensino Superior de Serviço Social, do Porto, foi distinguida em Formação Pós-Graduada.
Já na categoria Trabalhos de Âmbito Escolar venceram, «ex aequo», a Escola Frei Caetano Brandão, de Braga, e o Agrupamento de Escolas António Rodrigues Sampaio, de Esposende.
Na abertura da sessão, depois de umas breves palavras de acolhimento por parte do anfitrião Manuel Machado, presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Eduardo Graça fez algumas revelações importantes, como a de que a elaboração da nova Conta Satélite da Economia Social será empreendida este ano e que a próxima edição do Prémio terá uma nova categoria, dedicada à Comunicação Social, e a cerimónia de entrega acontecerá a 24 de janeiro de 2019, data em que se assinalam 50 anos da morte de António Sérgio.
Mais à frente, o presidente da CNIS, depois de lembrar que “a Economia Social é a economia das pessoas, com as pessoas e pelas pessoas”, destacou o papel do ministro, do conhecimento e inovação e da aliança com a Academia, a diversidade das oito famílias que compõem a Economia Social Portuguesa e ainda da necessidade de divulgar e reconhecer as boas práticas como essenciais para o desenvolvimento do setor.
“Este prémio evidencia a diversidade da Economia Social, também a sua enorme capilaridade e uma história complexa e rica”, referiu, no fecho da cerimónia, o ministro Vieira da Silva, acrescentando que esta é uma “realidade secular e do presente e em mutação muito acelerada”.
O governante recordou a “realidade singular que é a consagração constitucional da Economia Social, por vezes esquecida” e que “a lógica de cooperação com o Estado faz sentido, não tanto pelo reconhecimento das dificuldades do Estado em chegar a todas as áreas, mas porque há áreas em que não é obrigatório que seja o estado a chegar”.
Por isso, “o crescimento, diversidade e transversalidade da Economia Social exige que as relações com o Estado sejam cada vez mais aprofundadas e exigentes”, argumentou o ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social.
De seguida, Vieira da Silva elogiou o “esforço de convergência das diferentes famílias” em torno da criação da Confederação da Economia Social Portuguesa (CESP) “e contrariar isto é não viver o momento histórico”.
Para o ministro, “se queremos um setor que se afirme a nível nacional e na Europa é bom que este seja convergente”, sublinhando: “Convergir não é uniformizar, não é empobrecer, mas enriquecer”.
Antes já o padre Lino Maia se havia referido “à importância da comunhão de todas as famílias da Economia Social” em torno da CESP, “que por certo será um instrumento de visibilidade” e que, “consagrando a comunhão, não dissolverá as especificidades próprias de cada família nem atacará a sua autonomia”.
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