Há países cuja história é um rol de desgraças e tragédias. O Haiti, um dos estados mais pobres do mundo, é certamente um desses países.
Em 1492, Cristóvão Colombo descobriu uma ilha a que chamou Hispaniola e, desde então, pode dizer-se que os seus habitantes tiveram muito poucos anos de liberdade, de paz e de bem estar. Primeiro, foi o extermínio da população nativa pelos conquistadores espanhóis. Depois, foi a chegada de corsários que, sob a protecção francesa, ocuparam à força uma parte da ilha. A seguir, espanhóis e franceses disputaram a posse da ilha, com vantagem para os franceses. Estes mandaram vir de África levas de escravos para trabalharem nas plantações de açúcar e, no século XVIII, os escravos negros já suplantavam largamente o número de brancos, situação que levou a uma rebelião sangrenta.
A divisão étnica e geográfica da ilha acabou por dar origem a dois estados: o da República de S. Domingos e o da República do Haiti. No começo do século XX também os Estados Unidos da América decidiram intervir no Haiti, a pretexto de salvaguardar interesses económicos.
A instabilidade política permanente foi o pretexto para François Duvalier, o tistemente famoso “Papa Doc”, chegar ao poder, um poder que exerceu com mão de ferro durante trinta anos. Sucedeu-lhe o seu filho e imitador Jean Claude Duvalier, o também famoso Baby Doc, deposto em 1986. De qualquer modo, tal como no passado, os haitianos continuaram a viver, no século XX, na instabilidade política e num estado endémico de pobreza. Nem mesmo a eleição de uma figura carismática como era a do ex- salesiano Aristides Bertrand trouxe aos haitianos a segurança, a paz e o desenvolvimento. O país “teve” mesmo que ser intervencionado por uma força militar da ONU que ainda ali permanece.
Em Fevereiro deste ano, ocorreu um sismo terrível que faz cerca de 300.000 mortos e devastou uma área enorme do país. O terramoto levantou uma onda de solidariedade em todo o mundo, mas esta não foi nem suficientemente rápida nem suficientemente organizada para responder a tantos problemas. E, como se tudo isto não bastasse, os haitianos têm agora de enfrentar um surto cólera que já fez mais de um milhar de mortos.
A epidemia da cólera, recém chegada ao país, fez despoletar a raiva do povo que atribui as responsabilidades da situação aos governantes e à própria ONU. Os líderes desta organização afirmam, por seu lado, que, nestas circunstâncias, não têm condições para cumprir as suas tarefas de segurança e protecção social.
Até quando durará o sofrimento deste povo?
António José da Silva
Data de introdução: 2010-12-13