João Paulo II está "consciente", mas o seu estado é "muito grave", segundo a última informação à imprensa do Vaticano, dada 13 horas depois do anúncio de que uma infecção urinária complicou a difícil convalescença de uma traqueotomia.
Na informação divulgada às 12:30 locais (11:30 em Lisboa), o porta-voz do Vaticano, Joaquin Navarro-Valls, disse que a situação do Papa é estacionária, mas "muito grave", com os parâmetros biológicos alterados e a tensão arterial instável.
João Paulo II está "lúcido e extremamente sereno" e foi "informado da gravidade da sua situação", acrescentou. Navarro-Valls, visivelmente emocionado e que a certa altura irrompeu em lágrimas, voltou a dizer que João Paulo II concelebrou hoje missa nos seus aposentos e pediu para ouvir a leitura das catorze estações da Via Sacra. "Ele está plenamente consciente da gravidade real da situação, e perguntou se era absolutamente necessário ir para o hospital. Não sendo, decidiu permanecer no Vaticano", disse o porta-voz. Estes dados pressupõem um agravamento em relação ao anterior boletim, divulgado ao princípio da manhã.
"Esta manhã, o estado de saúde do Santo Padre é muito grave", anunciou então à imprensa o porta-voz do Vaticano, explicando que a infecção urinária detectada quinta-feira provocou "um estado de choque séptico e de falência cárdio-circulatória".
O choque séptico é uma complicação rápida da septicemia (alastramento da infecção à corrente sanguínea), que provoca uma queda da pressão arterial e leva, em muitos casos, à falência progressiva dos órgãos. O choque séptico causa a morte em mais de 50 por cento dos casos.
O porta-voz informou ainda que João Paulo II está a ser tratado por uma equipa médica nos seus aposentos, no Vaticano, e que lhe foi prestada assistência cárdio-respiratória. Junto dele, além do cardeal secretário de Estado, hngelo Sodano, e dos seus colaboradores mais próximos, estão, a prestar-lhe assistência, o seu médico pessoal, Renato Buzonetti, dois especialistas de cuidados intensivos, um cardiologista, um otorrinolaringologista e duas enfermeiras, segundo a mesma fonte.
A degradação da saúde de João Paulo II, de 84 anos e que há cerca de dez sofre da doença de Parkinson, acentuou-se no último ano e, especialmente, a partir de Fevereiro passado. A 01 de Fevereiro, o Papa foi hospitalizado na clínica Gemelli devido a uma insuficiência respiratória provocada por uma gripe que a doença de Parkinson complicou.
João Paulo II teve alta depois de nove dias de internamento, mas teve de regressar ao hospital a 24 de Fevereiro para ser submetido a uma traqueotomia, uma intervenção em que é feita uma abertura no pescoço para permitir a respiração, quando ela não pode ser feita através das vias respiratórias superiores (boca e nariz).
Depois da alta, a 13 de Março, João Paulo II conseguiu assomar algumas vezes à janela para saudar os peregrinos e turistas na Praça de São Pedro, mas não pôde participar nas celebrações da Páscoa, o que aconteceu pela primeira vez na história do Vaticano.
Quarta-feira, o Papa assomou à janela dos seus aposentos uma última vez e tentou falar aos fiéis sem, contudo, conseguir fazê-lo. No mesmo dia, horas depois, foi-lhe colocada uma sonda naso-gástrica por já não ser capaz de se alimentar.
Uma fonte do Vaticano que não quis ser identificada disse, na quinta-feira, que o Papa perdeu 19 quilos desde que foi submetido à traqueotomia.
Data de introdução: 2005-04-02