“É bem claro para nós que sem Acordo de Cooperação com os organismos competentes não é possível abrir a nova estrutura”, assevera Elisa Ferraz, presidente da MADI Vila do Conde, a propósito do novo equipamento que a instituição pretende colocar em pleno funcionamento já em Novembro e que integra um CAO, para 30 utentes, um Lar Residencial, para 24, “e ainda um espaço polivalente, uma quinta, que terá diversas actividades, que não só para a população do CAO”.
Seria a melhor forma de o Movimento de Apoio ao Diminuído Intelectual (MADI) de Vila do Conde celebrar o seu 37º aniversário, que se assinala a 10 de Setembro próximo. E o passo para a abertura do novo Centro de Ferreiró foi decidido perante as dificuldades em dar resposta a todas as solicitações.
“Acontece que temos uma sobrelotação, resultante de situações graves a nível social que frequentemente nos aparecem e às quais não podemos fechar a porta. E falo de situações que os tribunais e a CPCJ nos enviam… Depois, e isto é muito importante, a idade limite dos jovens que estão ligados ao Ministério da Educação é 18 anos e a seguir acaba-se o seu percurso de vida na instituição. O que fazer a estes jovens?”, questiona Elisa Ferraz, comentando: “Na verdade, não existem respostas e as que existem estão sobrelotadas. Portanto, não estamos só a falar de situações de multideficiência, mas de situações muito complicadas de crianças sem autonomia nenhuma e é lógico que não fechemos as nossas portas. Ora, este contingente vai sobrelotando o CAO, que em vez de 50 tem muitos mais. Por isso, achámos, e tendo em conta o nosso percurso de vida, que ainda havia este passo a dar”.
Face ao cenário vivido pela instituição, os seus responsáveis decidiram avançar para o alargamento da capacidade de resposta da mesma encontrando no POPH a aprovação para uma candidatura que os dois programas PARES haviam rejeitado.
“E, assim, temos um novo equipamento para abrir, a obra fica encerrada no final de Maio e pensamos inaugurar em Setembro ou Outubro, para em Novembro entrar em funcionamento”, revela a presidente da instituição, desde o ano passado igualmente da autarquia vilacondense.
Porém, este passo em frente do MADI necessita de terreno firme, ou seja, do apoio do Estado para o funcionamento da infra-estrutura.
“A única coisa que ainda está pendente, na qual estamos a trabalhar, e que é a única coisa que me preocupa no momento é a questão do Acordo de Cooperação”, sublinha Elisa Ferraz, que prossegue: “Esta é uma situação caricata, porque temos uma obra financiada pelo quadro comunitário e pelo nosso Governo, por via da Segurança Social, que reconheceram a necessidade da obra, e agora põe-se alguma questão em relação à celebração do Acordo. De momento, o nosso pedido ainda não teve qualquer resposta, portanto estou cheia de expectativa que o Acordo venha a formalizar-se”.
É que caso contrário… “Isso coloca gravíssimos problemas à instituição, que não aguenta, e aí não abriremos. É a tal sustentabilidade que é fulcral à nossa instituição. Nesse caso iríamos meter-nos numa situação incontrolável. É-nos absolutamente impensável abrir uma estrutura destas, que cada vez têm mais pessoas com menos autonomia, o que exige recursos humanos qualificados e uma vasta equipa, se não realizarmos o Acordo de Cooperação”.
A preocupação com a sustentabilidade da instituição tem acompanhado os dirigentes desde a criação do MADI, em 1977.
“O percurso tem sido feito com muitas cautelas, programando sempre o passo seguinte quando o primeiro se encontra perfeitamente cimentado e já com possibilidade de caminhar sem sobressaltos”, sustenta a presidente da Direcção, recordando que na base do crescimento da instituição ao longo dos anos está “uma gestão muito criteriosa e o cumprimento dos acordos de funcionamento por parte das entidades competentes”, pelo que “a instituição, porque sempre trabalhou dentro de parâmetros muito rigorosos de sustentabilidade, nunca teve problemas e nunca estremeceu no seu funcionamento”.
Exemplo desta visão, e na procura de uma maior auto-sustentabilidade, o MADI abriu, em 2010, um clínica fisiátrica, aberta à população e que se tem revelado uma mais-valia para a instituição.
“A nossa última criação, e em boa-hora percebemos que o caminho futuro passa muito também pela auto-sustentabilidade, é uma estrutura que também dá resposta à comunidade e que se enquadra nos objectivos da instituição, na área da saúde. É uma clínica de fisioterapia que dá resposta à comunidade e aos utentes. Para além de promover o emprego e dar respostas aos nossos utentes, dá uma resposta à comunidade e é um instrumento para a auto-sustentação da instituição”, ressalva Elisa Ferreira, que recorda como tudo começou em 1976, fruto apenas da vontade férrea de um grupo de pais em proporcionar melhores condições de vida aos seus filhos e demais portadores de deficiência do concelho de Vila do Conde.
“Em 1976 éramos um grupo de pais cuja única ferramenta que tinha era a vontade de criar uma estrutura que desse resposta ao cidadão deficiente… Nessa altura, não havia praticamente nada, a não ser uma ou outra instituição em Lisboa e Porto, mas na província nada existia e a única coisa que havia era a vontade… E até porque estamos em celebração dos 40 anos do 25 de Abril, havia muito aquele espírito de Abril e que passava por «se tens um problema, se tens um amigo que o tem, unam esforços e partam para um desafio»… E foi exactamente isto que aconteceu”, recorda Elisa Ferraz, acrescentando: “Não havia património, não havia verbas nenhumas, não havia nada. Encetámos uma caminhada, batemos à porta das entidades que podiam ajudar e começámos com 25 utentes e um acordo com o Ministério da Educação, algo que hoje já ninguém faz”.
O arranque da instituição deu-se pela vertente educativa, mas as necessidades exigiram mais e a instituição foi crescendo e alargando as respostas.
Já na Azurara, onde se instalou em 1982, a instituição abriu, em 1995, o Centro de Actividades Ocupacionais (CAO), para 55 utentes, encetou um programa de Formação Profissional, dois anos volvidos, nas áreas de padaria, jardinagem, serviços domésticos e lavandaria, e, em 2002, como que completou o ciclo com a inauguração do Lar Residencial «Sol Nascente», para 14 utentes.
Nos dias que correm, o CAO recebe mais 18 utentes do que os 55 contratualizados com a Segurança Social, no Centro Educacional estudam 6 crianças, sendo que o Acordo é para 25, e a Formação Profissional é frequentada por 15 formandos. Para além dos 14 utentes em Lar, a instituição apoia em CRI (Centro de Recursos para a Inclusão) 80 utentes, dispondo entre todas as valências de uma equipa formada por 80 funcionários.
“Sem hesitação nenhuma, a promoção da felicidade dos nossos utentes” é, para Elisa Ferraz, a grande virtude da instituição: “Os utentes são muito felizes como pessoas. Temos uma única finalidade que é promover os seus direitos e a dignidade da sua vida e construir felicidade para o seu projecto de vida, potenciando os recursos que alguns deles têm”.
Neste particular, a instituição tem alguns parceiros no sector industrial e alguns dos utentes realizam tarefas específicas para determinadas empresas, sendo que todo o rendimento daí advindo reverte exclusivamente para o «utente-operário».
ESCOLA INCLUSIVA
“Esta tem sido uma das minhas lutas ao longo da vida… Desde o início, logo após a celebração do acordo com o Ministério da Educação, começaram a levantar-se estas questões dos guetos e da acumulação de deficientes nas instituições… Isto são coisas que, de acordo com a modernidade do pensamento, aparecem ora de uma maneira ora de outra, porque quem tem que pensar sobre estas matérias, muitas vezes, o faz sem conhecimento profundo”, começa por referir Elisa Ferraz a propósito da Escola Inclusiva, criticando: “Eu falo com conhecimento profundo, porque sou mãe de um deficiente profundo e quero ter o mesmo direito para este filho que tenho para o meu outro filho. Quero escolher para onde o meu filho deve ir e não admito que me imponham para onde ele deve ir, que é o que está a acontecer. As crianças não vão para as instituições, os pais passam por problemas gravíssimos e, efectivamente, só quando se chega à batalha, e tenho vencido algumas, lá se consegue que uma criança venha para a instituição. Porém, depois, tenho um Acordo para 25 utentes, não tenho vagas na instituição e tenho apenas seis crianças na escola. Isto é impensável”.
Mas o que é que está mal? “Ficaria plenamente satisfeita se o meu filho fosse para a escola que me é proposta se essa escola pudesse dar-lhe as respostas de que ele precisa. O meu filho não vai para lá aprender a ler, porque é praticamente cego e não vai aprender as letras. A instituição faculta isto tudo, a escola não faculta, não facultou, nem nunca facultará! O que fazem é levar os meninos para lá e, agora é moda, os técnicos da instituição vão à escola e fazerem terapia da fala durante 20 minutos. Isto é fazer que se faz e, por isso, sou completamente crítica em relação a isto. Para além de achar que é inconstitucional que se faça uma coisa destas… O meu princípio é que deve ser dado aos pais a possibilidade de escolha”.
Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)
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