I ENCONTRO

Acolhimento de crianças e jovens em risco em debate

«Boas Práticas de Acolhimento Residencial de Crianças e Jovens em Risco» foi o mote para o primeiro encontro promovido pelo Centro Juvenil de S. José que decorreu na Plataforma das Artes e do Espetáculo, em Guimarães, e que marcou o arranque das comemorações dos 100 anos da instituição vimaranense.
Neste I Encontro pretendeu-se promover a reflexão sobre as práticas adotadas pelas instituições de acolhimento de crianças e jovens, muito em especial no que se faz e como se faz e ainda o que se conseguiu alcançar com a intervenção das instituições sociais.
Com um vasto programa de trabalho, em que participaram mais de 70 pessoas, na maioria técnicos de instituições que integram Lares de Infância e Juventude (LIJ) e Centro de Acolhimento temporário (CAT), a parte da manhã foi dedicada a quatro workshops, que versaram os temas: «Preparação da Autonomia», por Gabriela Nunes e Diana Teixeira, da Associação para o Desenvolvimento das Comunidades Locais (ADCL); «Participação Ativa», por Carla Oliveira, do Centro Juvenil de S. José, Sofia Lage, da Fundação EDP, e ainda de um jovem que deu o seu testemunho sobre o projeto «Assembleia de Jovens»; «Qualidade Estrutural do Acolhimento», por Arminda Timóteo e Patrícia Correia, da Associação de Apoio à Criança; e «Especialização no Acolhimento», por Tatiana Cosme, do LIJ Especializado Coração D’Ouro, de Gondomar.
Os dois primeiros workshops foram moderados por Filomena Bordalo, assessora da CNIS, que no final elogiou a partilha ocorrida nessas duas sessões.
“No primeiro estivemos a partilhar as questões da autonomia das crianças que são acolhidas em instituições e ficou muito claro que a autonomia tem que ser encarada sob duas perspetivas. A de que é um processo de construção no dia-a-dia, portanto, um processo dinâmico e participado e que acontece desde que a criança entra na instituição. A outra perspetiva é no momento formal da autonomia, quando as medidas de promoção e proteção terminam, ou seja, quando os jovens chegam aos 21 anos e estas medidas acabam, em que surge uma outra questão: como colaborar com estes jovens neste processo da sua autonomia, que muitas vezes os apanha no meio de um percurso escolar, ou no meio de um percurso de vida em que não têm emprego? Daí a urgência de se estudar e de se implementar o apartamento de autonomia como resposta social para estas situações”, resumiu Filomena Bordalo, que sobre o segundo workshop que moderou disse: “Partilhámos questões relativas à participação dos jovens na vida, nos seus projetos de vida e no quotidiano das instituições e foi apresentado um projeto do CJSJ, patrocinado pela EDP Solidária. A «Assembleia de Jovens» é um projeto que tem grandes potencialidades, pois há uma grande aprendizagem dos jovens dos princípios e dos valores da cidadania. Isto é algo que vale a pena disseminar para que tornemos os jovens que acolhemos cada vez mais autores e senhores da sua vida e construtores do seu futuro”.
Os outros dois workshops foram moderados por Margarida Pereira, em representação da Cruz Vermelha Portuguesa.
“A Associação de Apoio à Criança, que tem um CAT, apresentou a sua estrutura física e, ao mesmo tempo, a maneira como fazem o acolhimento às crianças e como se desenvolve todo o processo enquanto a criança está acolhida, desde a preparação na chegada à preparação da saída, independentemente se a criança vai para a família biológica ou para uma família adotiva. Foi um excelente contributo”, referiu a moderadora.
Tatiana Cosme apresentou o «modus operandi» do Lar de Infância e Juventude Especializado Coração d’Ouro, de Gondomar, que acolhe apenas raparigas e tem ainda uma curta vida, numa sessão que cativou muitos participantes.
A sessão plenária, da parte da tarde, foi moderada por Tiago Ferreira, do CJSJ, e versou três temas: «Potencialidades e constrangimentos do acolhimento em lares mistos», por Alves Pinto, da Lar de Santa Estefânia; «O trabalho da história de vida em contexto institucional», por Paula Cristina Martins, da Universidade do Minho; e, por fim, «A transição para a instituição e o papel dos cuidadores no processo de adaptação das crianças e jovens», por Catarina Pinheiro Mota, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).
“Abordou-se questões relacionadas com o acolhimento de crianças e jovens em risco. Em concreto, estivemos a falar do relacionamento interpessoal entre os cuidadores e os jovens e o seu efeito a médio e longo prazo no desenvolvimento deles”, disse no final, ao SOLIDARIEDADE, o moderador, acrescentando: “Uma das riquezas deste encontro foi a de complementar as perspetivas mais práticas de quem está no terreno e lida todos os dias com as dificuldades e as potencialidades deste tipo de resposta, mas também a perspetiva da academia baseada em corpos teóricos e em evidências retiradas de estudos realizados”.
Tiago Borges, diretor-técnico do CJSJ, era um homem satisfeito no final do dia, considerando ter sido “um dia muito produtivo, com convidados muito ilustres”, pelo que deixou um convicto desejo: “Queremos repetir mais seminários deste nível”.
De referir ainda a presença de Domingos Bragança, presidente da Câmara Municipal de Guimarães, e Maria Amélia Monteiro, em representação do Centro Distrital da Segurança Social de Braga, na sessão de abertura do Encontro e ainda de Paula Oliveira, vereadora da Ação Social da autarquia vimaranense, e de Conceição Marques, da Direção da CNIS, na sessão de encerramento, tendo Fernando Xavier, presidente do Centro Juvenil de S. José feito as honras da casa em ambas as sessões.
De notar que a representante da CNIS recordou aos presentes que “promover a elaboração de um manual de boas práticas na área do acolhimento de crianças e jovens em risco faz parte do Programa de Ação da CNIS”, sublinhando a oportunidade do encontro, deixando uma última palavra de “reconhecimento e admiração da CNIS pelo trabalho das instituições” nesta área.

PVO (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2015-03-23



















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