O recente ataque a um dos mais famosos museus da cidade Túnis, o museu do Bardo, veio confirmar os receios que acompanham a expansão do “estado islâmico” para o norte de África. Por se tratar de um museu, e pelo facto de algumas das vítimas do atentado fazerem parte de um grupo de turistas que participava num cruzeiro pelo Mediterrâneo, a notícia teve um grande impacto na maioria dos países da Europa, alguns dos quais parece não terem avaliado ainda suficientemente a ameaça da nova “guerra santa” liderada pelo EI.
Por muitas razões, o norte do continente africano transformou-se em terreno fértil para o crescimento de grupos islâmicos radicais, muitos deles com ligações à Al Qaeda, ligações que deram origem à AQMI, ou a Al Qaeda do Magreb Islâmico. A morte da Ossama Bin Laden representou um duro golpe para esta organização, mas o aparecimento e afirmação de um novo califado, ainda mais radical e ambicioso, veio renovar a militância desses grupos, cujo centro congregador mais próximo se situa na Líbia, um país que, após o desaparecimento de Kadhafi, mergulhou numa anarquia tão abrangente como perigosa. Os centros de acampamento e de treino dos voluntários que pretendem integrar as forças do novo califado situam-se bem perto da fronteira com a Tunísia, e esta corre assim o risco de se transformar em alvo fácil para esses militantes da nova djhiad. O que aconteceu com o ataque ao museu do Pardo é apenas um exemplo.
Foi na Tunísia que nasceu a chamada primavera árabe. Esta chegou a outros países, mas teve uma duração demasiado efémera e não deixou muitos sinais a não ser na própria Tunísia que resistiu, embora com muitas dificuldades, aos problemas levantados por avanços e recuos na procura da democracia social e política que tão festejada foi na sequência da queda de Ben Ali, em 2011. Esses avanços e recuos estiveram ligados à afirmação de partidos mais ou menos conotados com o islamismo, chegando-se a temer que a ditadura laica de Ben Ali viesse a ser substituída por uma ditadura confessional, protagonizada pelo partido Ennahda, o que não chegou a acontecer. Razão mais que suficiente para os radicais do novo califado tentarem integrar a Tunísia no mapa geopolítico do seu “estado islâmico”.
Para já, ainda não o conseguiram, mas nada garante que não continuem a tentar.
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