A2000, SANTA MARTA DE PENAGUIÃO

Formação à medida para melhor integrar

Fornecer competências, de todo o tipo, a pessoas portadoras de deficiência, mas detentoras de capacidades que fazem delas candidatas ao mercado de trabalho é o foco da A2000 – Associação de Apoio ao Desenvolvimento e que, atualmente, já preenche 99% da atividade da instituição sedeada em Santa Marta de Penaguião.
É que quando em Setembro de 2000 um grupo de pessoas, que trabalhava noutras entidades e instituições, mas “não concordava com a inércia criada em torno dessas mesmas entidades”, decidiu dar o salto e criar uma associação que agisse e reagisse à realidade, o grande objetivo – “formação profissional e emprego para pessoas com deficiência” – não pôde logo começar a ser perseguido.
“Juntámo-nos, reunimos e decidimos pôr em prática as nossas ideias, constituir uma entidade onde pudéssemos agilizar tudo o que gostávamos de agilizar no âmbito das pessoas com deficiência, da formação e do emprego”, começa por contar António Ribeiro, presidente da A2000, recordando: “Constituímos a associação em 2000 e menos de um ano depois arrancou a atividade de formação, mas, inicialmente, apenas de cursos EFA, educação e formação de adultos, e de formação na área profissional”.
Só em 2003 a associação conseguiu a certificação para dar formação a pessoas com deficiência, mas, como refere o presidente da instituição, “este foi o início desta linha de certificação das competências das pessoas ao longo da vida”.
Mais jovens agora do que nos inícios de atividade da associação, especialmente devido à falta de resposta por parte das escolas, que muitas vezes os enviam para a instituição, os formandos são “pessoas com deficiência, com capacidade de aprendizagem e de inserção no mercado de trabalho”, explica, concretizando: “São pessoas que em situação normal têm muita dificuldade em arranjar trabalho, mas que quando têm o arranque protegido, a formação é feita à medida e há uma experiência em contexto de trabalho que também é protegida, concluído o processo, muitas vezes, têm um contrato de trabalho. Mesmo assim, e durante algum tempo, ainda fazemos um acompanhamento pós-colocação, que é apoiado pelo Centro de Emprego”.
Na verdade, a taxa de colocação é bastante positiva e, em média nos últimos três anos, ronda os 75%. A isto não é alheia… a crise! De facto, para António Ribeiro, “a crise foi uma janela de oportunidade para estas pessoas, porque há mecanismos facilitadores à sua contratação”.
“Aliás, sentimos mais facilidade em integrar pessoas com deficiência no mercado de trabalho do que pessoas sem deficiência, pois quando tínhamos os cursos EFA tínhamos mais dificuldade colocá-los”, atalha Marina Teixeira, diretora-técnica da A2000.
Para o presidente da instituição, a oportunidade da crise surgiu porque há uma “necessidade da empresa, porque despediu pessoas, mas precisa de alguém que faça, e há a necessidade das pessoas, que precisam de um local que as acolha e onde lhes deem oportunidade de mostrar que sabem fazer”.
A isto junta-se o facto de o IEFP “apoiar fortemente” as entidades contratantes nestas situações e o êxito tem sido possível, lembrando que a área de abrangência da instituição é regional.
“O âmbito regional advém de intervir em três distritos, Porto, em Baião, Viseu, em Resende e Tabuaço, e Vila Real, em Santa Marta de Penaguião e concelhos limítrofes, Montalegre e Chaves. Nestes cinco concelhos identificados temos turmas de formação a funcionar”, revela António Ribeiro, recordando a falta de respostas na região: “Nestes concelhos era o deserto em termos de formação para estas pessoas. Os miúdos de Chaves se queriam formação profissional iam para o Porto. E nós vamos buscar muitas destas pessoas a casa. Tudo começou aqui em Santa Marta e agora estamos a replicar o que aqui fizemos noutros sítios, em parceria com entidades locais”.
Essencial para o sucesso de todos e de cada um destes formandos está, no entender dos responsáveis pela associação, na forma como a formação é encarada. A formação é ministrada em cursos de dois anos, em que no primeiro ano a formação é em sala e no segundo a formação é em contexto de trabalho, ou seja, em estágio.
“Para a maior parte dos formandos isto é suficiente, mas para alguns não é, pois necessitavam de mais tempo para desenvolver competências”, afirma Marina Teixeira, pelo que a instituição optou por fazer “uma coisa que nem todas as entidades de formação fazem, que é o Plano Individual”.
Segundo a técnica, “a maior parte das entidades fazem formação e limitam-se à formação, mas há uma outra área, que dá muito trabalho e para a que nem sempre há técnicos, que é fundamental, que é o aspeto pessoal”.
“Para estarem a 100% na formação têm que ter uma série de outras coisas estabilizadas, como a família, a namorada, a saúde, etc. Por isso, tentamos inserir no Plano Individual objetivos pessoais. Muitas vezes o sucesso vem disso. Se conseguirmos que o resto se harmonize, a formação corre muito bem e a integração é mais fácil porque eles também estão mais capazes e libertos”, argumenta a técnica.
“Não intervimos apenas na formação, depois há uma série de atividades transversais que contribuem para que haja motivação na formação e para que se atinjam os objetivos. O propósito é apoiar no início, alavancar a motivação destas pessoas e a sua capacidade de estar no mercado de trabalho, no café, seja onde for de uma forma normal”, sustenta António Ribeiro, acrescentando: “Quanto mais não seja, os cursos ajudam-nos nos aspetos pessoais. Pelo menos em termos de desenvolvimento e autonomia pessoal estas pessoas, com a formação que lhes damos, já conseguem uma série de competências, até no que diz respeito às atividades da vida diária”.
Para além do enfoque na formação para pessoas com deficiência, a instituição de Santa Marta de Penaguião promove ainda formações modulares certificadas para ativos, independentemente se as pessoas têm algum problema de deficiência, inclusive formação para colaboradores das IPSS da região.
“Somos adeptos da formação ao longo da vida, pois para sermos profissionais e eficientes a formação é fundamental, por isso também todos os nossos colaboradores fazem muita formação”, sublinha António Ribeiro, que vê com bons olhos o futuro nesta área da formação: “Desde 2000 que vimos crescendo, começámos com 28 formandos e, especialmente nos últimos dois anos, já em crise, disparámos de 50 para os números atuais de 143 formandos. Até 30 de Junho isto é financiado pelo POPH, a entidade intermédia é o IEFP, e isto vai continuar ao abrigo do PO ISE, do Portugal 2020, mas ainda não se sabe muito sobre se haverá e quais serão as alterações”.
Com os fundos europeus como principal financiador, por via do POPH nos programas de formação, ainda assim a associação tem conseguido diversificar as suas fontes de receita.
Assim, da Segurança Social recebe por via do Acordo de Cooperação para a resposta de Intervenção Precoce na Infância, em Santa Marta de Penaguião, Mesão Frio, Régua e Mondim de Basto, algo, no entanto, “minúsculo que nem paga os quatro técnicos, pois o Acordo é para 30 mas são 55 crianças acompanhadas”.
Depois há ainda a pequena contribuição dos associados – “temos muitos sócios, mas apenas metade paga quota e, acima de tudo, gostávamos que participassem mais” – e ainda alguns acordos locais com as juntas de freguesia e com a Câmara Municipal, em especial em torno do projeto Espaço de Convívio.
Elemento muito importante na economia da instituição é a angariação de fundos, que envolve todos os colaboradores. Assim, cada colaborador tem por incumbência angariar 600 euros/ano. Depois, há um «fund riser», que é uma das formadoras, que trata da angariação institucional. É nesse sentido que surge o Doador do Mês, normalmente uma empresa da região que a troco de algum dinheiro ganha um espaço publicitário no site da A2000.
Por tudo isto, e devido a uma “gestão financeira profissional”, o presidente da instituição considera “a situação financeira como saudável”, lembrando que houve momentos difíceis, mas já ultrapassados: “Em toda a nossa história só tivemos dois anos com resultado líquido negativo, que foi quando tivemos que fazer um ajustamento interno. Do antes para o depois da Troika houve aqui um momento de cortes e os ajustamentos não se fazem de um momento para o outro, leva algum tempo. Mas já estamos bem novamente”.
O momento leva mesmo os responsáveis pela associação a revelar alguns dos projetos que gostariam de implementar o quanto antes.
“Comprámos dois lotes de terreno para projetarmos umas instalações porque precisamos de mais espaço para fazermos outras coisas. Já temos um projeto para ter uma resposta de CAO e Lar Residencial, o que no sul do distrito não existe. A deficiência é uma prioridade no distrito, mas continua a ter poucos equipamentos, sendo que o mais próximo é em Vila Real. Para este tipo de pessoas a proximidade dos equipamentos é muito importante e não se pode pensar na economia de escala, porque não funciona”, alerta António Ribeiro, deixando um repto: “Se tivermos garantia de que temos Acordo de Cooperação para CAO avançamos já. O problema é que não vamos gastar umas centenas de milhar de euros, que não temos e que temos que ir buscar à banca, para fazer uma coisa que a Segurança Social nunca garante que haja. Agora vamos ver se dá para integrar o Programa de Inovação Social, do Portugal 2020”.
A vertente de ação social da A2000 não se esgota nisto, pois a associação vem desenvolvendo nas freguesias de Santa Marta de Penaguião uma atividade que designou de Espaços de Convívio, e que fomenta o envelhecimento ativo junto de idosos, autónomos, que vivem isolados e que não têm nenhuma resposta social a apoiá-los.
Uma tarde por semana, os idosos reúnem-se na sede da Junta de Freguesia e, sob orientação de dois técnicos da A2000, desenvolvem diversas atividades, desde exercício físico adaptado, culinária, informática ou, tal como o nome da resposta indica, simples convívio.
“Não é apoiada pela Segurança Social, mas é uma forma de rentabilização de recursos, da nossa parte e da das freguesias. Isto é uma atividade que foi posta em prática com quase nada, que funciona muito bem e que tem dado bons resultados. Ao fim de três anos temos a Câmara envolvida nisto a financiar uma parte do projeto”, revela António Ribeiro, acrescentando: “São os idosos que decidem o que querem fazer e gostam muito de TIC (Tecnologias da Informação e da Comunicação). E o que vemos, e era impensável, é aquelas pessoas a criar perfis no Facebook e a utilizar os computadores para comunicar com as famílias, pois estamos numa zona de emigração”.
Às sugestões dos idosos, a instituição aproveita para juntar alguns workshops a fim de promover sessões de esclarecimento sobre assuntos de interesse para aquela população específica, como questões de segurança ou de saúde.
“Foi uma inovação no concelho, uma experiência engraçada que começou apenas em uma freguesia e agora as freguesias já dizem que o ideal era ser duas a três tardes, porque os idosos querem mais tempo”, afirma, satisfeito António Ribeiro.
Na senda da inovação e melhoria contínua que pretende, a A2000 abriu também uma Clínica Social, para prestar serviços especializados a pessoas em situação de vulnerabilidade, como os de psicologia, massagem, fisioterapia, terapia da fala e terapia ocupacional.

Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2015-05-26



















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