ARIFA, SEIXAL

Há 35 anos a servir a população de Amora

Tudo começou quando um grupo de pessoas já retiradas da vida ativa quis mais para o seu dia-a-dia do que encontros e jogos de cartas nos jardins de Amora. Corria o ano de 1978 e volvido um ano, em Novembro, essas pessoas avançaram para a constituição de uma instituição que tivesse um espaço próprio onde diariamente pudessem conviver e fazer algo mais. Nascia assim a ARIFA – Associação de Reformados e Idosos da Freguesia de Amora que teve como valência inaugural, precisamente, um Centro de Convívio, situado no coração da freguesia e onde ainda hoje funciona a sede da instituição e alguns serviços de apoio à população. Atualmente, o Centro de Convívio tem uma frequência variável, funcionando habitualmente com cerca de meia centena de pessoas. Mas a intenção do grupo fundador era ir muito mais além do que a criação de um simples lugar de convívio.
“Na altura houve um grupo de associados que sentia a necessidade de ter um Lar. Então, foram junto da Câmara Municipal e solicitaram um espaço que era o Palácio de Cheira-Ventos”, começa por contar Fernando Sousa, presidente da ARIFA, prosseguindo: “ Tentou-se que fosse nesse local, mas o presidente da Câmara achou que não era o melhor local e sugeriu um outro, que era a Quinta da Princesa. Então, ficámos com este terreno todo, uma cedência municipal por 50 anos, mas como é óbvio isto nunca vai deixar de ser a ARIFA”.
Com um vasto terreno, a instituição começou desde logo a projetar edificar o tão desejado Lar de Idosos, cuja primeira pedra foi lançada em 1980, tendo a inauguração do equipamento acontecido apenas sete anos depois.
“Foi, então, criado este equipamento, com a ajuda do povo, da freguesia da Amora e, mais tarde, da Segurança Social. Aliás, este equipamento foi construído pela Segurança Social e foi entregue à instituição”, recorda o presidente, revelando que a estrutura abriu com um total de 72 camas, sendo que fruto de umas obras de alargamento recentes, ganhou capacidade para mais oito camas.
Com a construção do novo equipamento, a ARIFA passou a concentrar ali todas as valências, exceção feita ao Centro de Convívio, a única resposta que não está na Quinta da Princesa.
“O Centro de Convívio tem a particularidade de, para além das diversas atividades que os utentes desenvolvem, e são todos muito autónomos, ainda participam nas atividades do Centro de Dia. Para além do Centro de Convívio e da sede, nesse edifício no centro da cidade, funcionou, durante dois anos, o CLDS+, projeto que terminou em Junho”, explica Fernando Sousa, dirigente da instituição desde 1990, acrescentando: “No Centro de Convívio funciona também parte da Cantina Social, porque temos utentes desta resposta na outra parte da cidade, como a Cruz de Pau. Por isso, transportamos a comida para a sede e as pessoas vão lá buscá-la. Por exemplo, no período em que algumas instituições, que têm Cantina Social, fecham para férias, nós asseguramos o serviço e não queremos que nos paguem nada, porque as instituições são e têm que ser parceiras umas das outras. As pessoas é que não podem ficar sem alimentação”.
Logo na altura que abriu o Lar, em 1987, a instituição criou também no mesmo edifício um Centro de Dia, que acolhe 40 utentes.
“É um Centro de Dia muito sui generis, porque tem pessoas com muitas dificuldades ao nível de demências e de locomoção, mas, para além das atividades e da alimentação, como temos um corpo grande de profissionais de saúde também têm apoio médico. Isto tem a vantagem de elas não terem que ir às consultas no exterior. O grande problema destes utentes é o período noturno e quando a situação fica mais complicada sempre que há vaga entram para o Lar e são os próprios a pedir”, relata o presidente da ARIFA, que dá conta do encerramento de um segundo Centro de Dia, que funcionava no edifício da sede: “Em 2014 denunciámo-lo, porque não havia utentes e tinha custos elevados e exigências enormes, pelo que acabámos com a resposta. No entanto, havia pessoas que continuavam a ter necessidade do apoio alimentar ao almoço, pelo que continuamos a levar algumas refeições para lá para esses antigos utentes do Centro de Dia, que pagam um valor quase simbólico. As pessoas que queriam continuar a almoçar lá não deixaram de o poder fazer, porque nós fornecemos-lhes o almoço. Apesar de acabarmos com a valência, mantemos o apoio a quem quer e precisa”.
Neste sentido, Fernando Sousa explica que apesar do rigor necessário, há uma grande flexibilidade na forma de abordar o apoio às pessoas. “Normalmente, costumamos fornecer a alimentação ao fim-de-semana aos utentes de SAD mesmo que não estejam abrangidos pelo serviço de sete dias. Este é um serviço que as pessoas querem, porque muitas delas já não têm capacidade para ir às compras e até para fazer as refeições, sendo que muitas estão isoladas”.
O isolamento é também um dos problemas das pessoas mais idosas da freguesia, apesar de esta ser urbana e muito populosa.
“Esse é um problema grande, porque muitas das pessoas que moram na Amora estão fora dos seus locais de origem. Hoje, o relacionamento que existe numa aldeia ou numa vila é muito diferente do que existe numa zona como esta. Se calhar, no mesmo edifício, há pessoas que nem se conhecem… E isso acontece muito aqui. O isolamento das pessoas acontece nos edifícios, muitas vezes com problemas de acesso, devido às escadas dos prédios e às dificuldades de locomoção. Muitas vezes são pessoas que vieram para cá há 30, 40 ou 50 anos, quando eram novas e que moram em andares elevados, de prédios sem elevador, o que as isola. E muitas destas pessoas não têm relacionamento de proximidade com a vizinhança, o que é um problema. Depois nota-se que muitas dessas pessoas não têm familiares por perto. Não tem havido aqui daqueles problemas em que as pessoas estão em casa mortas vários dias, mas a verdade é que, estando em meio urbano, as pessoas estão isoladas”, explica Fernando Sousa, avançando com uma solução que poderia obstar a muitas destas situações: “O que sentimos aqui é a necessidade de implementar a valência de Centro de Noite. E gostaríamos de ter no nosso concelho uma participação mais ativa da Misericórdia, que não tem expressão no apoio direto à população. E é pena, porque normalmente as Misericórdias conseguem ter doações que as IPSS não conseguem e, talvez assim fosse possível fazer residências para instalar Centros de Noite”.
Mais recentemente, no ano de 2011, a ARIFA avançou com um novo projeto, criando uma Unidade de Cuidados Continuados Integrados (UCCI), que, segundo o presidente, constituiu uma enorme mais-valia para a instituição e seus utentes.
“Aqui há uns anos falava-se muito da necessidade de se ter um espaço onde as pessoas com doença e outras patologias pudessem ser tratadas. Muitas vezes as pessoas saiam do hospital e não tinham acompanhamento. Então quando apareceu o Programa Modelar, apresentámos uma candidatura. Os nossos associados diziam muitas vezes que o que fazia falta era um hospital de retaguarda, já que tínhamos tanto espaço onde o implementar. E, então, quando aparece este Programa Modelar, a Direção vislumbrou o hospital de retaguarda que os associados tanto pediam. Avançámos e não nos esticámos muito, ficando pelas 30 camas. E quisemos ficar com a Longa Duração e Recuperação no sentido de recebermos pessoas que iriam ser recuperadas e depois continuariam a sua vida”, recorda o líder da instituição desde 2003. O projeto teve comparticipação do Modelar em cerca de 750 mil euros e da autarquia na ordem dos 300 mil euros, o que “foi uma grande ajuda para a instituição”.
Porém, as coisas, atualmente, não são bem como a instituição pensava inicialmente.
“Apesar de a UCCI ter todas as condições para ser um equipamento de grande resposta na recuperação das pessoas, transformou-se, não numa unidade de recuperação, mas quase numa Unidade de Cuidados Paliativos, porque as pessoas que são colocadas na unidade raramente recuperam e hoje temos custos que não eram previsíveis”, sustenta Fernando Sousa, explicando: “A contribuição do Estado para este trabalho é muito inferior às necessidades. Na nossa unidade cerca de 50% dos utentes são alimentados por sonda, com cuidados muito especiais e muitas já não têm recuperação possível. Embora seja um trabalho com grande interesse, porque é muito personalizado, é muito dispendioso”.
Mesmo assim, o presidente da ARIFA não se arrepende, pois a instituição ganhou muito com esta nova valência: “Houve uma exigência grande, mas também uma grande mais-valia para a instituição, porque passámos a ter serviços na ERPI porque temos a UCCI. Por exemplo, agora temos apoio médico permanente, fisioterapia, nutricionista, etc. Tem custos elevados, mas a UCCI veio valorizar muito a nossa instituição”.
Tendo nascido e crescido a trabalhar a área da terceira idade, tendo dado um passo em frente na área da saúde, a ARIFA ultima mais um alargamento na sua resposta à população de Amora, com a criação da Creche Baleia Amarela, apesar de algumas resistências iniciais por parte das entidades estatais.
“É verdade, vamos agora abraçar a área da infância, porque consideramos que a família é tudo. Estamos junto a um bairro social e nascem aqui muitas crianças e, depois, temos um grupo de trabalhadores muito jovens ao qual queremos dar oportunidade de terem uma creche onde colocar os filhos. É muito mais confortável para os pais terem um sítio onde colocar os filhos junto ao trabalho”, defende, avançando qual será o passo seguinte da instituição nesta área: “Temos aqui ao lado um jardim-de-infância público, mas que está com dificuldades, e a nossa ideia é, mais dia, menos dia, estarmos ali através de uma parceria. E há também uma escola enorme que é necessário pôr a funcionar e estamos a pensar fazer esse caminho todo”.
Orçada em cerca de 500 mil euros e construída no âmbito do PARES, a creche social, com capacidade para 66 crianças, é um projeto anterior à UCCI, mas que sofreu alguma resistência por parte da Segurança Social que questionou a instituição sobre as suas intenções.
“O projeto inicial é de 2008, mas só agora pôde avançar, porque da Segurança Social diziam-nos por que é que uma associação de reformados queria uma creche! Não aceitámos essa posição, demorou um pouco de tempo, mas insistimos e conseguimos. Digo-lhe com franqueza e alegria que a ARIFA não vai investir dinheiro na construção da creche, porque é paga pelo PARES e pela Câmara Municipal, que mais uma vez participa”, afirma, satisfeito, Fernando Sousa, adiantando que, “neste momento, a situação financeira da instituição é estável”.
“Independentemente destes equipamentos serem comparticipados, antes de o dinheiro chegar é necessário avançar com algum. Tivemos um apoio à tesouraria, para termos dinheiro para funcionar, contraímos uma conta-corrente com uma instituição bancária a que recorremos sempre que precisamos e, neste momento, a instituição tem as contas em ordem e controladas e não deve nada”, sustenta.
Com a inauguração da creche prevista para o arranque do novo ano letivo, os dirigentes da ARIFA olham o futuro com otimismo e grande ambição.
“A ARIFA tem um projeto global para abranger outra área que é a da deficiência. No concelho do Seixal há um vasto número de pessoas portadoras de deficiência e muito poucas respostas. Só há a Cerci e há muita população a necessitar de apoio. Não tanto de lares residenciais, porque as famílias da população portadora de deficiência assume-a e mantém-na, mas o que a família precisa é um espaço onde possam deixar os filhos durante o dia, ou seja, de um CAO. É isso que pretendemos fazer, já temos um projeto para uma parte do nosso terreno e gostaria de, enquanto aqui estiver, de deixar a instituição com essa resposta. Estamos sempre a rentabilizar o espaço e os equipamentos que temos para melhor servir a população de Amora. Por exemplo, já aqui fazemos as férias inclusivas numa parceria com a APCAS (Associação de Paralisia Cerebral de Almada Seixal), dinamizando atividades e fornecendo a alimentação aos utentes”, revela Fernando Sousa, que considera que a cidade de Amora sem a ARIFA “seria uma freguesia com menos um braço”.
“Pese embora haja outras instituições, sem uma instituição com a abrangência da ARIFA ficaria mais pobre e não falo apenas da freguesia, mas também do concelho, porque durante muito tempo foi a única a ter um lar de idosos. A ARIFA hoje é uma resposta com uma abrangência muito grande e caso não existisse havia um défice muito grande o concelho, porque a instituição não apoia apenas as pessoas que precisam, como é também uma grande parceira de outras instituições”.
Atualmente, com um corpo de 128 funcionários, a ARIFA, para além das respostas já referidas, assiste em SAD 70 pessoas e fornece uma média de 110 refeições/dia no âmbito da Cantina Social.

Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2015-08-17



















editorial

TRABALHO DIGNO E SALÁRIO JUSTO

O trabalho humano é o centro da questão social. Este assunto é inesgotável… (por Jorge Teixeira da Cunha)  

Não há inqueritos válidos.

opinião

EUGÉNIO FONSECA

IPSS OU EMPRESAS SOCIAIS: uma reflexão que urge fazer
No atual cenário europeu, o conceito de empresa social tem vindo a ganhar relevância, impulsionado por uma crescente preocupação com a sustentabilidade e o impacto social.

opinião

PAULO PEDROSO, SOCIÓLOGO, EX-MINISTRO DO TRABALHO E SOLIDARIEDADE

A inatingível igualdade de género
A Presidente da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (CITE) foi à Assembleia da República no dia 3 de outubro com uma má novidade. A Lusa noticiou[1] que...