A CASES – Cooperativa António Sérgio para a Economia Social atribuiu pelo quarto ano consecutivo o Prémio Cooperação e Solidariedade António Sérgio, que pretende distinguir pessoas singulares e coletivas que, em cada ano, mais se tenham distinguido em domínios relevantes para a Economia Social.
Nesta quarta edição, a CASES decidiu atribuir, pela primeira vez, um Prémio Especial Personalidade do Ano e o escolhido pelo júri foi o padre Lino Maia, presidente da CNIS.
“A ideia é a de, através da escolha de uma personalidade, podermos não só reconhecer o seu trabalho no âmbito da Economia Social, como projetar a imagem da Economia Social na sociedade portuguesa”, começou por referir, ao SOLIDARIEDADE, Eduardo Graça, presidente da CASES, explicando, de seguida, as razões da escolha do presidente da CNIS: “Surgiram várias candidaturas, apresentadas por diversas entidades, e de todas o júri decidiu atribuir ao padre Lino Maia, porque, de facto, era de todas as personalidades candidatas a que tinha um maior, mais profundo, mais prolongado e mais intenso trabalho no âmbito da Economia Social”.
Para o presidente da CASES, “foi uma escolha fácil”, pois o presidente da CNIS “é uma pessoa que tem tido sempre ao longo do tempo uma capacidade muitíssimo forte de derramar uma luz sobre este setor, apontando caminhos e desenvolvimentos que são adequados à realidade do mesmo”. Considerando que “é a consagração de uma figura relevante desta área da Economia Social”, Eduardo Graça destacou a “personalidade incontornável, seja qual for o ponto de vista político ou ideológico, enquanto gerador da luz que ilumina o setor da Economia Social e Solidária, como ele gosta de dizer, no Portugal dos nossos dias”.
Na presença do ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, José Vieira da Silva, e ainda da ministra da Presidência e da Modernização Administrativa, Maria Manuel Leitão Barros, o padre Lino Maia recebeu a distinção das mãos do primeiro, a quem dirigiu as primeiras palavras, sublinhando a “enorme honra” em ter recebido o prémio das mãos de Vieira da Silva.
De seguida, o padre Lino Maia saudou os demais galardoados – “o vosso mérito alimenta a nossa esperança” –, dirigindo-se, depois, aos membros do júri: “Não posso sublinhar a vossa imparcialidade, porque se fossem imparciais certamente não atribuíam a mim este galardão, há muitas outras pessoas, e vós em especial, que mereciam de facto este galardão. Eu sou o menos merecedor. Mas se não sublinho a vossa imparcialidade, sublinho a excelência, o mérito e a dedicação à causa comum”.
Depois, o padre Lino Maia evidenciou “o muito mérito dos membros e colaboradores da CNIS”, afirmando-se um “companheiro com afeto”.
A fechar as saudações, o presidente da CNIS dirigiu-se a todos os agentes da Economia Social – IPSS, Misericórdias, Cooperativas, Mutualidades, Associações de Desenvolvimento Local e outras – para realçar a importância de todos e de cada um deles.
“Somos muitos neste País, segundo dados fidedignos, mais de 50 mil, e normalmente dizem que somos instituições que não visam o lucro. Eu sublinharei que nós procuramos, de facto, o lucro, não o lucro material, mas o lucro imaterial. Aquela alegria, aquele sorriso, aquela consciência de que as pessoas caminham com mais esperança, com mais solidariedade, com mais comunhão e com mais devir à sua frente é o lucro que procuramos, imaterial, mas que vale muitíssimo para nós”, argumentou, retratando, de seguida, o universo CNIS: “Se há mais de 50 mil organizações da Economia Social, IPSS somos mais de quatro mil. Fazemos muito e, segundo dados fidedignos, somos responsáveis por mais de 73% das respostas sociais neste País. Estamos desde a aldeia mais recôndita do distrito de Bragança à ilha mais ocidental da ilha das Flores, ou seja, por tudo quanto é sítio há uma Instituição Particular de Solidariedade Social. Representamos mais de 200 mil trabalhadores, que são nossos colaboradores e que vestem a nossa camisola, apoiamos mais de 600 mil utentes, somos responsáveis pelo muito que se faz bem neste País. O nosso grande mérito, não digo o meu, está, de facto, em sentirmo-nos corresponsáveis uns pelos outros. O outro para nós, ainda que eventualmente nos faça sofrer, é aquele a quem damos as mãos para que caminhe com mais esperança. Nós que procuramos sentir como desafio o fazer o que podemos na certeza de que quando cada um faz o que pode e o que deve acontecem, e desculpem-me a expressão religiosa, verdadeiros milagres. É nesses milagres que acredito, não propriamente nos outros”.
E porque a afirmação da Economia Social é uma realidade crescente, o líder da CNIS deixou uma mensagem de olhos postos no futuro: “As instituições de solidariedade não são Estado, nem atropelam o Estado, querem um Estado Social forte e cooperam com o Estado. E cooperando com o Estado podemos todos dizer que este País, não estando como nós sonhamos e havendo muito para fazer ainda, hoje tem menos pobres do que teria, muito embora haja muitos pobres, tem mais coesão social, tem mais igualdade, porque nós procuramos cooperar com o Estado na promoção da igualdade, da coesão social e na luta contra a pobreza. É este o nosso caminho, é este o nosso desafio e, diria, a consciência disso é o nosso mérito”.
GOVERNO APOIA
A relação do Estado com os agentes da Economia Social também foi aflorado pelo ministro Vieira da Silva na alocução que encerrou a sessão no Teatro da Trindade, no passado dia 27 de janeiro, deixando uma palavra de incentivo e de otimismo ao setor.
“Reconheço que se não existir esse dinamismo no próprio setor e um maior nível de convergência das várias famílias da Economia Social dificilmente é um Governo que se substitui à dinâmica do Setor. Nenhum governo o pode fazer pois se o fizesse estaria a adulterar os princípios de independência, de democracia e de autonomia do Setor Social. Entre o interesse público e o interesse social não pode haver contradições e a conjuntura envolvente é importante, mas muito do futuro do setor passa por ele próprio”, sustentou o governante, considerando que “nem sempre é possível que todas estas famílias da Economia Social convivam apontando no mesmo sentido e apoiando-se mutuamente, mas essa é a lógica da Economia Social. Este é, provavelmente, o caminho mais exigente, mas o caminho mais decisivo a percorrer pelo setor”.
Ciente do desenvolvimento crescente da Economia Social, cujas raízes podem estar no século XIX, mas a realidade diz que é uma estrutura voltada para o século XXI, Vieira da Silva expressou que “a entrega do Prémio António Sérgio é a prova desse dinamismo, dessa realidade, dessa visão de futuro”.
A terminar, o ministro reforçou a vontade do Governo em apoiar o crescimento e desenvolvimento da Economia Social.
“Apesar de todas as dificuldades quero deixar de forma expressa e muito clara o empenhamento do Governo na promoção da Economia Social. Ela está presente no programa do Governo, está previsto um Programa Nacional de Apoio à Economia Social, está previsto em diversas iniciativas, das quais lembro a construção da Cooperativa na Hora, ou seja, o trazer o Simplex para a Economia Social. São várias as áreas em que o Governo desenvolve a sua atividade e que são, sempre num contexto complexo e difícil, orientadas para promover o dinamismo deste setor”, asseverou Vieira da Silva, destacando a importância do setor no País: “Se olharmos para a última Conta Satélite da Economia Social, de 2010, ela aponta para um peso no emprego de 5,5%, salvo erro. Creio, infelizmente, que esse peso terá crescido nos últimos anos face às dificuldades de outros setores da nossa vida coletiva viveram, mas também no valor acrescentado, na riqueza criada, nas respostas sociais, nos setores agrícola e da cultura é uma realidade que não só tem dimensão quantitativa, como também tem uma importante dimensão qualitativa”.
A terminar, o governante expressou a “convicção profunda que não há nenhuma contradição insanável entre um Estado com uma intervenção forte e decisiva na promoção da coesão e do desenvolvimento, um setor privado dinâmico, vivo e com responsabilidade social e uma Economia Social e Solidária que, de alguma forma, concilia estas duas dimensões na valorização da iniciativa individual e coletiva, mas também no respeito pelo interesse público dessa mesma iniciativa”, concluindo que “é esta diferente equação entre o público e o individual, não diria o privado, entre o público e a iniciativa coletiva que está a matriz genética da Economia Social”.
Por tudo isso, é com otimismo que o ministro Vieira da Silva olha para o futuro da Economia Social: “Ela é uma realidade de hoje, de ontem, mas se todos, ou muitos de nós quisermos, porque haverá sempre gente que quererá outra coisa, será também uma realidade com muito futuro”.
OUTROS PREMIADOS
O Prémio Cooperação e Solidariedade António Sérgio 2015 é uma iniciativa da CASES, com o apoio do Plano Nacional de Formação Financeira (Banco de Portugal, CMVM e Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões), e distribuiu, para além do estreante Especial Personalidade do Ano, prémios e menções honrosas em mais quatro categorias. A saber: «Inovação e Sustentabilidade» - Coopérnico, CRL, tendo sido atribuídas menções honrosas à Câmara Municipal de Esposende, à ENTRAJUDA e à Horas de Sonho, CRL; «Formação Pós-Graduada» - Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa; «Estudos e Investigação» - Deolinda Meira e Maria Elisabete Ramos; «Trabalhos Escolares» - Escola Profissional Mariana Seixas (Viseu), tendo sido atribuída uma menção honrosa ao Sarau Solidário, da Escola Básica e Secundária de Fajões.
A cerimónia decorreu na belíssima sala Eça de Queirós, do Teatro da Trindade, em Lisboa, propriedade da Fundação Inatel, cujo presidente, Francisco Madelino, deu, no início, as boas-vindas às dezenas de pessoas presentes, entre as quais alguns dirigentes da CNIS.
Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)
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