Nos últimos tempos, a Turquia tem merecido um destaque muito significativo nos Meios de Comunicação Social. O agravamento das suas relações com Moscovo, na sequência do derrube de um avião militar russo e o endurecimento da sua política repressiva para com a comunidade curda que habita no país, de modo especial para com o chamado partido dos trabalhadores, o PKK, justificavam, só por si, todo esse relevo. Mas foi a tragédia dos refugiados que veio colocar aquele país no centro das atenções dos “Media”, sobretudo dos europeus.
Nos últimos meses, a Turquia tornou-se local de passagem, mais ou menos prolongada e difícil, para centenas de milhares de homens, mulheres e crianças que fogem à violência e à guerra que vêm destruindo as suas vidas nos seus países de origem, nomeadamente a Síria, o Iraque e o Afeganistão. Por via desse afluxo contínuo, o seu território foi-se enchendo de refugiados que, a partir dali, tentam encontrar os caminhos que os levarão para a Europa pacífica e rica com que sonham.
A União Europeia parece ter demorado demasiado tempo a tomar consciência do papel incontornável que a Turquia representa na solução deste drama, até que o governo de Ankara decidiu apresentar a factura dos custos financeiros e humanos do acolhimento ou da passagem desses milhares de deslocados pelo seu território. Começou então um “negócio” cujos termos não estão claramente definidos e cuja conclusão pode ainda estar longe. O governo de Erdogan pretende muito mais que os três mil milhões de euros que Bruxelas estaria disposta a despender para compensar financeiramente todo o esforço a que a Turquia foi e é chamada nesta conjuntura. O dobro dessa quantia parece estar agora em cima da mesa, mas Ankara pretende obter outras compensações, que são de natureza política.
Há já vários anos que a Turquia pretende integrar a União Europeia, mas essas pretensões nunca foram atendidas. As razões desta reacção negativa são diversas e foram claramente expostas por Sarkozi quando este era presidente da república francesa e não foram ainda postas em causa pelos grandes líderes europeus. Foram e são razões de ordem geográfica, cultural e demográfica, mas não suficientes para levar a Turquia a desistir do seu propósito. Agora que a Europa precisa da Turquia, Erdogan aumenta o preço do seu “serviço”, transformando os refugiados em moeda de troca. E, mais dia menos dia, vai conseguir os seus objectivos.
António José da Silva
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