JULHO 2016

Redundâncias evitáveis

1. Elaborar um plano de criação de uma rede pública de creches usando fundos comunitários, ter educação pré-escolar para todas as crianças a partir dos três anos de idade até ao final da presente legislatura, criar um plano extraordinário de combate à pobreza infantil, alargar amplamente o abono de família e reforçar a contratação de técnicos para as Comissões de Protecção de Crianças e Jovens. Sucintamente, são as principais recomendações que o PCP fez ao Governo em quatro projetos de resolução que entregou no Parlamento no dia 1 de Junho para, simbolicamente, assinalar o Dia Mundial da Criança. De acordo com os diplomas, o projeto de resolução pela universalização da educação pré-escolar a partir dos três anos de idade prevê essa implementação ao longo da legislatura e recomenda também que o Executivo faça o levantamento das carências de equipamentos públicos desta natureza para perceber o que é preciso reabilitar, ampliar ou construir na rede do parque escolar. Segundo as recomendações, este programa de alargamento do pré-escolar deve ser feito com o envolvimento dos Municípios e prever à partida um plano de financiamento, contando com os fundos comunitários. Esse é também o método que o PCP recomenda para financiar a criação de uma rede pública de creches de qualidade, objetivo inscrito noutro projeto de resolução. Primeiro há que fazer um levantamento de todos os equipamentos de resposta à infância existentes, nomeadamente creches públicas, privadas e do sector social.
2. Se há imagens de marca no PCP, a seriedade com que situa as suas propostas, o seu sentido de responsabilidade comunitária e a sua proverbial sensibilidade social são algumas delas. Pelo seu histórico de coerência e por integrar uma maioria parlamentar que respalda o XXI Governo Constitucional, não só tem legitimidade como também tem o dever de apresentar recomendações que visem uma comunidade menos pobre, mais justa e mais igual, e de apontar medidas que apontem para o apoio às famílias de baixos rendimentos, à conciliação trabalho/família, à diminuição do risco de pobreza associado ao trabalho, à inclusão social e à igualdade de oportunidades.
É o caso em apreço, e, enquanto tal, digno de louvor. Porém, o tema das competências do Estado, a nova discussão sobre “Contratos de Associação” e experiências recentes, como a do ATL e a dos Centros Escolares, recomendam cuidada ponderação. É evidente que não querendo agora questionar a opção pela “Escola a Tempo Inteiro”, essa teria sido uma medida muito mais me
ritória se, por exemplo, algo tivesse sido feito para integrar ou articular com a rede capilar dos CATL (centros de atividades de tempos livres). Saía melhorada a própria medida, que teria ganho outra consistência e outra durabilidade, e beneficiavam as crianças e as famílias enquanto se acautelava um Sector Solidário que merecia e merece muito maior acarinhamento.  Também a muito meritória beneficiação do Parque Escolar não protegeu suficientemente a resposta solidária do Pré-escolar, pelo que alguns Municípios e os seus novos centros 
escolares criaram redundâncias caras para o Estado e desincentivadoras do envolvimento das comunidades. Alguma turbulência se instala no Sector Social. O debate sobre Contratos de Associação talvez perdure. Não sendo propriamente tema que o Sector Solidário queira abraçar, constata-se, porém,  que nem sempre se tem querido evitar alguma confusão entre o que é particular e o que é privado, o que é lucrativo e o que é solidário. E na confusão floresce o desencanto, que, em tempos de crise, mais a agrava. E, à guisa de alerta, nota-se que o desencanto no Sector Social Solidário parece crescer e a comunidade parece desmobilizar-se...
3. O programa de alargamento do pré-escolar recomendado, e bem, pelo PCP, deve ser feito com o envolvimento do Sector Público (Estado com Municípios), do Sector Social Solidário e do Sector Privado, lucrativo. Os três integram a Rede do Pré-escolar, pelo que nenhum pode ser excluído. Como recomenda o PCP, tal programa também deve prever um plano de financiamento, contando com os fundos comunitários. Também a criação de uma rede de creches de qualidade. Mais do que pública, a prestar serviço público. Com o envolvimento do Sector Social Solidário que, também aí, tem uma  dimensão e uma prática que lhe conferiram uma competência e uma ciência que não têm concorrentes e que se consolidou numa proteção social direta assegurada por uma rede de entidades e instituições de natureza particular, fora do perímetro do Estado ou de outras entidades públicas e concretizada pela entidade mais próxima, numa escala territorial. Se no que a Creches concerne podemos falar de Rede, ela é essencialmente Rede Solidária. Ao Estado, central, com Municípios competirá consensualizar um programa sustentado. E, com o contributo da Rede Solidária, estabelecer um mapeamento, com identificação de todos os equipamentos existentes, faseamento de necessidades a responder e com afetação de recursos e agentes. Com o envolvimento das comunidades, o Sector Social Solidário uma vez mais corresponderá. Com serviço público, benefício de todos e significativas poupanças

 

 

Data de introdução: 2016-07-07



















editorial

O COMPROMISSO DE COOPERAÇÃO: SAÚDE

De acordo com o previsto no Compromisso de Cooperação para o Setor Social e Solidário, o Ministério da Saúde “garante que os profissionais de saúde dos agrupamentos de centros de saúde asseguram a...

Não há inqueritos válidos.

opinião

EUGÉNIO FONSECA

Imigração e desenvolvimento
As migrações não são um fenómeno novo na história global, assim como na do nosso país, desde os seus primórdios. Nem sequer se trata de uma realidade...

opinião

PAULO PEDROSO, SOCIÓLOGO, EX-MINISTRO DO TRABALHO E SOLIDARIEDADE

Portugal está sem Estratégia para a Integração da Comunidade Cigana
No mês de junho Portugal foi visitado por uma delegação da Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância do Conselho da Europa, que se debruçou, sobre a...