ANTÓNIO JOSÉ DA SILVA

Reino Unido e União Europeia: o fim de um casamento não consumado

O referendo britânico do passado dia vinte e três veio pôr fim a um “casamento” que foi quase sempre problemático: falamos da relação entre o Reino Unido e a União Europeia. No princípio, foram as reticências da ainda então CEE à entrada do Reino Unido naquele clube, criado em 1957 e formado então por seis países. As reticências foram assumidas particularmente pela França e pelo seu presidente, o general de Gaule, que transformou essas reticências numa recusa clara, além do mais por causa da relação, demasiado próxima para ele, entre Londres e Washington.

Foi o tempo em que Londres bateu insistentemente à porta da Comunidade Económica Europeia com o apoio da grande maioria dos britânicos que viam nessa entrada uma solução viável para os graves problemas sociais e económicos com que então se debatiam. De qualquer modo, a persistência britânica acabou por ter êxito em 1973, quando era primeiro ministro o líder do partido conservador, Edward Heath, e a França já tinha outro presidente da República, que se chamava Georges Pompidou.

A entrada do Reino Unido na CEE foi objecto de negociações, específicas, difíceis e, por isso mesmo, longas. Foram negociações que tiveram em conta a história e a cultura de um estado que era ele próprio líder de uma outra grande comunidade, a Comunidade Britânica e, por isso mesmo muito mais voltado para o mar do que para a Europa. E a verdade é que, por essas e outras razões, a Inglaterra, chamemos-lhe assim por uma questão de facilidade, não ficou obrigada, já nessa altura, ao cumprimento de todas regras vigentes para os restantes membros da CEE. Por isso, não faltou quem pensasse, à semelhança de De Gaule, que este novo estado membro nunca teria, verdadeiramente, os dois pés dentro do grupo. Seria um “casamento” sujeito a muitas crises. À última não resistiu.

Deve dizer-se que o Reino Unido é que insistiu em fazer parte da CEE, mas isso foi numa altura em que a União Europeia não passava ainda de um projecto que, depois de muitos altos e baixos, acabou por se concretizar em 1992 com o Tratado de Maastricht. Este tratado que, entre outras decisões, criou uma moeda única europeia, a que o Reino Unido não aderiu, tinha uma clara dimensão política, dando toda a impressão de se pretender transformar numa espécie de super-estado europeu. A criação das estruturas administrativas e burocráticas necessárias ao funcionamento desse novo super-estado despoletou reacções negativas, de tipo nacionalista, em muitos países. A do Reino Unido foi apenas a mais dramática. 

 

 

Data de introdução: 2016-07-11



















editorial

O COMPROMISSO DE COOPERAÇÃO: SAÚDE

De acordo com o previsto no Compromisso de Cooperação para o Setor Social e Solidário, o Ministério da Saúde “garante que os profissionais de saúde dos agrupamentos de centros de saúde asseguram a...

Não há inqueritos válidos.

opinião

EUGÉNIO FONSECA

Imigração e desenvolvimento
As migrações não são um fenómeno novo na história global, assim como na do nosso país, desde os seus primórdios. Nem sequer se trata de uma realidade...

opinião

PAULO PEDROSO, SOCIÓLOGO, EX-MINISTRO DO TRABALHO E SOLIDARIEDADE

Portugal está sem Estratégia para a Integração da Comunidade Cigana
No mês de junho Portugal foi visitado por uma delegação da Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância do Conselho da Europa, que se debruçou, sobre a...