“Eu estou feliz porque o meu filho está feliz na creche”. A frase ouvida por uma das educadoras de infância, coautora do livro «Juntos… pela criança na creche», da boca de um pai é meta que a obra agora apresentada pela CNIS pretende alcançar, disseminando boas práticas por todo o País.
E é, precisamente, na prossecução do objetivo, incluído no seu Plano de Ação, de fazer “a sistematização de práticas que promovam a conciliação da vida familiar e profissional do agregado familiar, para serem divulgadas e disseminadas”, que a CNIS acaba de lançar o livro «Juntos… pela criança na creche», um trabalho coordenado por Teresa Sarmento, docente da Universidade do Minho.
“A creche é uma resposta social, de natureza socioeducativa, destinada a acolher crianças até aos três anos, durante ao período de impedimento dos pais ou de quem exerça as responsabilidades parentais. Visa, pois, estabelecer a conciliação da vida familiar e profissional do agregado familiar, colaborar com a família no processo de desenvolvimento da criança, assegurar um atendimento seguro, afetivo e personalizado em função das necessidades específicas de cada crianças e ainda prevenir e despistar precocemente qualquer inadaptação, deficiência ou situação de risco e assegurar o encaminhamento mais adequado”, escreve padre Lino Maia, presidente da CNIS, no prefácio da obra, que pretende ser um manual de boas práticas, sustentado em valioso conhecimento científico.
Coordenado por Teresa Sarmento, a obra é da coautoria de um grupo de nove educadoras de infância e uma psicóloga, a saber: Ana Daniela Oliveira, Carina Miranda, Daniela Damas, Daniela Silva, Isabel Pereira, Marisa Freitas, Marta Fernandes, Marta Oliveira, Sandra Silva e Patrícia Bessa, respetivamente.
“Este é um livro sobre creches, centrando-se na temática da relação vida familiar/vida de trabalho e pensando a creche como resposta social que permite essa relação, mas, sobretudo, realça a perspetiva educativa das crianças e como se podem conciliar as duas vertentes”, começou por referir, ao SOLIDARIEDADE, a coordenadora do livro, Teresa Sarmento, acrescentando: “Para a construção do livro, entendi que só faria sentido se tivesse a colaboração de quem está nas creches, de quem conhece essa realidade, de quem define e engendra estratégias para essa conciliação. Ou seja, garantir os direitos das crianças, dar suporte e promoção da educação das crianças e, ao mesmo tempo, conseguir arranjar estratégias para se conseguir a articulação com a vida familiar”.
Para Teresa Sarmento, “os pais têm, de facto, algumas dificuldades em fazer o acompanhamento diário das crianças, e essa é uma das razões porque as põem em creches”, porém, a coordenadora do livro sustenta que a creche é muito mais do que a simples guarda das crianças: “Não queremos que a creche seja só isso, queremos que seja muito mais. E as estratégias que estas educadoras encontram mostram isso, ou seja, que a creche tem que ser, primeiro, uma instituição educativa para as crianças, em que estas veem reconhecidos os seus direitos, e que, ao mesmo tempo, dê também respostas aos pais”.
Para a responsável pelo livro, este é dirigido tanto aos profissionais de educação como aos pais.
“Muitas educadoras vão sentir-se identificadas com estas práticas e, provavelmente, outras vão encontrar práticas que não desenvolvem e, por isso, este livro acaba por ser um instrumento de trabalho e de reflexão importante”, argumenta Teresa Sarmento, acrescentando: “E é também para os pais, porque os ajuda a compreender o que se faz na creche, quais as finalidades da creche, como se organizam as creches e como podem estar mais presentes na creche”.
Maria da Conceição Marques, dirigente da CNIS com o pelouro da Educação, começou por dizer que a intenção inicial era a de “fazer um guia prático sobre creches”.
No entanto, “com o evoluir do projeto viu-se que se poderia fazer uma coisa bem melhor, com a colaboração da Universidade do Minho, através da doutora Teresa Sarmento e convidando algumas instituições que desenvolviam trabalhos interessantes”, sustentou a dirigente da CNIS, acrescentando: “Conjugando a vertente mais científica com a vertente mais prática, elaborámos este trabalho que nos deu bastante gozo e sentimos que é de grande qualidade”.
Com a obra realizada e pronta para consulta, Maria da Conceição Marques deixa um desejo: “Gostaríamos que todas as nossas educadoras o tivessem, o lessem, o estudassem e refletissem sobre ele e que fizessem, dentro da sua prática diária, o melhor, pois este livro pode ser um ponto de partida para o trabalho árduo que as educadoras têm nas suas creches”.
JÁ EXISTE UMA REDE DE CRECHES
A apresentação de «Juntos… pela criança na creche» contou, para além da quase totalidade das autoras, com a presença do presidente da CNIS, do presidente da Fundação Millennium Bcp, Fernando Nogueira, e ainda do presidente do Departamento de Educação da Universidade do Minho, Almerindo Afonso.
O padre Lino Maia começou por relevar o importante papel das IPSS na implementação da resposta social de creche, criando uma rede nascida na sociedade civil, na esmagadora maioria emergente no Setor Social Solidário.
“Iniciativa do Estado não há nenhuma e quase todas as creches são do Setor Social Solidário, havendo algumas do Setor Privado”, afirmou o presidente da CNIS, sublinhando: “Estas creches não são locais exclusivamente de guarda de crianças, pois trabalham o seu desenvolvimento integral. E não sendo locais apenas de guarda, são espaços educativos desde a primeira hora e, muito importante, de comunhão com as famílias”.
Avançando que há cerca de 35 mil crianças em creches das IPSS associadas da CNIS, o padre Lino Maia recordou que há toda uma rede solidária (informal) que foi crescendo à medida das necessidades das comunidades e que está implementada em todo o território nacional há muito tempo, deixando um alerta: “No passado dia 1 de junho, Dia Mundial da Criança, houve um partido político que, com toda a legitimidade, apresentou uma proposta no Parlamento no sentido de se criar uma rede pública de creche e para todas as crianças em idade pré-escolar. Esse partido tem toda a legitimidade para fazer o que fez, mas se falamos de rede de creche em Portugal temos que falar da rede social solidária que já existe e que tem assegurado essa resposta há muitos anos”.
Isto é tanto mais importante quanto se sabe, defende o líder da CNIS, que “as creches são lugares de inclusão social por excelência”.
“Se queremos lutar contra a pobreza e queremos fazer uma verdadeira inclusão social temos que ter creches nos territórios mais deprimidos”, defendeu o padre Lino Maia, acrescentando que “as creches com projeto educativo podem ser um bom instrumento para combater a baixa taxa de natalidade”.
Ainda sobre a obra agora publicada pela CNIS, em parceria com a Universidade do Minho e com o alto patrocínio da Fundação Millennium Bcp, o presidente da CNIS afirmou que “este livro pode ser um ponto de partida para uma alvorada de esperança”.
Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)
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