Os mais carenciados continuam a ser afetados pela crise económica dos últimos anos, sem que se note ainda qualquer melhoria, apesar de haver já sinais de “desanuviamento” em outras faixas da sociedade portuguesa, considera o padre Lino Maia, que sublinhou o papel das instituições na crise que ainda não passou para todos. A perspetiva do presidente da CNIS foi deixada em Trás-os-Montes, no 1º Encontro da União das Instituições Particulares de Solidariedade Social do Distrito de Bragança (UIPSSDB), subordinado ao tema «Economia Social, Qualidade e Potencial Humano nas instituições do 3.º Setor».
“O Setor Social Solidário está forte, operacional e é muito importante”, registando mais de 650 mil utentes apoiados diariamente nas diferentes respostas sociais operacionalizadas por 200 mil trabalhadores.
O presidente da CNIS recorreu a alguns números da Conta Satélite da Economia Social, elaborada pela CASES (Cooperativa António Sérgio para a Economia Social), e que evidencia a enorme importância do Setor Social Solidário na sociedade portuguesa.
O padre Lino Maia lembrou que das 56 mil organizações da Economia Social apenas cerca de 5.000 são do Setor Social Solidário. No entanto, “esses cerca de 10% são responsáveis por mais de 50% do volume económico e por cerca de 80% dos trabalhadores da Economia Social”.
A isto acresce que “dos 4,7% do PIB que representa a Economia Social 3,8% é o contributo do Setor Social Solidário”.
E a importância do Setor, que em tempo de crise “não só não despediu trabalhadores como ainda criou emprego”, vê-se todos os dias.
“À porta destas instituições por todo o país continuam a bater os utentes da crise, a pedir apoio, a não conseguirem pagar a comparticipação familiar porque ainda estão desempregados ou sem acesso a apoios sociais que já tiveram”, afirmou o líder da CNIS, realçando que “o Setor Solidário tem como público preferencial os mais carenciados”.
“E aí não se nota, de facto, melhoria. Nota-se esperança, mas não melhoria, isto ainda não está de facto a repercutir-se nas suas situações concretas”, disse o padre Lino Maia, acrescentando: “A classe média já nota alguma melhoria, porque há impostos que acabaram, há alguma retoma do emprego. Aí nota-se alguma melhoria, mas nos mais carenciados ainda não se nota”.
Esta condição reflete-se no funcionamento das instituições, com desafios para dar resposta, e a nível financeiro, com dívidas acumuladas das comparticipações familiares.
O dirigente deu o exemplo do distrito de Bragança, onde decorreu o Encontro, no qual “há muitas famílias que deixaram de comparticipar como seria justo, porque não podem, e as instituições não as mandaram embora, continuam a apoiar essas famílias”.
Este fator associado à comparticipação do Estado que “não acompanha o aumento dos custos” e, por isso, leva ao endividamento das instituições.
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