CENTRO SOCIAL PAROQUIAL DO BOM JESUS, S. VICENTE

Quebra da natalidade está a criar problemas

O fundador do Centro Social Paroquial do Bom Jesus, em Ponta Delgada, concelho de S. Vicente, foi o padre António Paulo, no ano de 1996, e “foi ele que despertou esta necessidade nas pessoas”, sublinha o padre Élio Gomes, atual presidente da instituição, recordando: “Estes terrenos eram parcelas diversas, não havia construção nenhuma e ele empenhou-se para que este equipamento nascesse. A ideia do padre António Paulo era criar outro centro em Ponta Delgada, dando uma certa dinâmica à zona”.
Atualmente, as respostas da instituição tocam a infância e os idosos, mas já passaram também pela educação especial, com a cedência de um espaço conhecido como a Casa do Romeiro.
Em jardim-de-infância, o Centro do Bom Jesus acolhe, de momento, apenas 14 crianças, quando tem capacidade para 40.
“A baixa da natalidade tem afetado muito o infantário, sendo que ainda há a resposta pública. As distâncias também fazem diminuir o número de utentes, porque agora, praticamente, só temos crianças de Ponta Delgada e de Boaventura. Perdemos as crianças de S. Vicente”, justifica o padre Élio Gomes, lembrando ainda que “o infantário foi construído em 2004, porque na altura havia uma procura grande”.
Porém, as coisas agora são bem diferentes e… para pior, em especial pela quebra na natalidade.
Mas foi a preocupação com os idosos que fez o padre António Paulo fundar a instituição, no ano de 1996. Na sacristia, umas senhoras voluntárias juntavam alguns idosos e serviam chá e bolinhos e foi assim que começou como Centro de Dia, passando depois para uns salões na parte debaixo da casa paroquial.
“Havia uma grande necessidade de apoiar os idosos, porque olhamos para eles e vemos que merecem ser reconhecidos. São pessoas que tiveram trabalho pesado, porque aqui era mais a agricultura e a construção, e muitos deles tinham famílias imensas, com cinco e seis filhos. Só que estes emigraram para procurar melhores condições de vida, e os pais ficaram sozinhos em casa, muitas vezes, casas sem condições”, sustenta o atual presidente.
E, para o pároco, para além “da necessidade de dar conforto aos idosos”, era necessário “também dar atenção e apoio às pessoas a nível do mercado de trabalho, pois dos 31 funcionários da instituição a maior parte são da freguesia”.
Depois, com o nascimento do Centro “houve ainda a valorização da zona, pois antes do Centro Social nascer não havia este edifício, não havia a estrada que há agora e agora esta é uma zona procurada até para lazer”.
A tal nova centralidade da freguesia que o fundador quis criar é agora uma realidade.
Na área dos idosos o Centro Social de Ponta Delgada tem uma capacidade para 36 utentes em Lar, sendo que 12 das vagas são em regime privado, o que é uma grande ajuda para o equilíbrio financeiro da instituição, e ainda 30 em Centro de Dia, fornecendo ainda serviço de lavandaria ao domicílio.
“A lavandaria começou em 1998 como apoio ao domicílio e a capacidade dessa resposta é para 30 pessoas”, revela, recordando um outro projeto que nunca saiu do papel: “Houve a ideia de fazer uma cozinha para confecionar refeições. Havia um terreno fronteiro à igreja, onde agora é um restaurante, que foi adquirido para se construir lá uma cozinha social. Deixava de haver cozinha aqui no Centro e seria ali confecionada comida para servir o Lar e o Centro de Dia, para o apoio domiciliário e também para um refeitório social. Mas isso não saiu do papel”.
O padre Élio Gomes considera que a população de Ponta Delgada em termos sócio económicos não se pode queixar muito.
“Isto era uma freguesia rica, porque a maior parte dos terrenos eram de colonos, que eram os donos disto. Depois, nos anos 60 e 70 do século passado, esses senhores começaram a morrer e a sair daqui e os trabalhadores ficaram com direito às terras. A nível económico é uma população equilibrada, mas vive-se muito da agricultura. Depois, existe a zona do centro de Ponta Delgada e a zona das lombadas, a parte das pessoas mais humildes, mas hoje essa diferença já não é tão vincada, já não existe. E há ainda a questão da emigração, em especial para a Austrália. Pode dizer-se que, a nível geral, as pessoas têm algumas posses”.
Mais difícil é os mais velhos terem os familiares por perto, devido à emigração. Porém, o padre Élio Gomes destaca que isso nem sempre é sinónimo de abandono.
“Temos aqui muitos idosos cujos familiares estão ausentes da terra, devido à emigração. As pessoas saíram por necessidade, mas isso não quer dizer que tenham abandonado os seus pais. Temos aqui um senhor que tem uma filha e um filho em Inglaterra e o filho vem cá vê-lo todos os meses. Muitas vezes a emigração não foi por questões financeiras, mas porque quiseram ir em busca das próprias vidas. Há aqui idosos que têm casas, terrenos e até dinheiro”, sustenta, apontando que cerca de 80% das pessoas que estão na ala privada são daqui de Ponta Delgada”.
Olhando às necessidades da freguesia, o padre Élio gostava de ver uma maior e diferente aposta no apoio domiciliário.
“Há uma instituição da Ribeira Brava que presta algum apoio ao domicílio, em termos de refeições e outros serviços, nesta zona, mas era importante que houvesse um apoio mais próximo e continuado”, refere, prosseguindo: “Há idosos para quem a única solução é o lar, mas eles vêm e estão cá contrariados, pelo que era importante que houvesse um apoio social que levasse ao domicílio outros serviços, que não apenas a refeição e a roupa lavada, mas algo que permitisse fazer algumas atividades com os idosos em casa”.
Aliás, quando faz visitas aos doentes, o padre Élio Gomes diz que “muitas vezes a necessidade é apenas de uma conversa e muitas vezes conversa-se de tudo menos de religião, porque estas são pessoas que sofrem de solidão”.
Em termos práticos, a situação financeira do Centro do Bom Jesus é “equilibrada”.
“No momento não temos dívidas. Existe um equilíbrio, porque temos o apoio social por parte do Governo para os que têm rendimentos mais baixos e temos a ala privada do lar e recebemos ainda apoio para o infantário, pelo que vamos fazendo a gestão dessas verbas. A instituição tem uma situação saudável, mas se for para adquirir um equipamento não podemos fazê-lo de repente. A verba que gerimos mensalmente é primeiro para os ordenados e depois para os fornecedores, agora para fazer grandes coisas não temos folga”.
Isso, porém, não impede que a Direção queira mais.
“Para fazermos projetos temos que elaborar um bom plano e pedir apoios, mas uma das nossas ambições era adquirir uma carrinha adaptada para dar mais segurança no transporte. E, por outro lado, gostaríamos que houvesse uma maior participação da comunidade nas atividades que desenvolvemos”, sustenta o presidente da instituição, ao que Joana Alves, diretora-técnica acrescenta: “A instituição está a tentar fazer uma remodelação do edifício, intervindo em alguns espaços para os melhorar. A Direção é relativamente recente e ainda está a estudar as necessidades e a tentar reunir apoios para manter ou melhorar as condições do equipamento”.
E como seria Ponta Delgada sem o Centro do Bom Jesus? “Seria apenas um lugar de passagem turístico, se bem que o lar também desperta alguma curiosidade aos turistas”, sustenta o padre Élio Gomes.

 

Data de introdução: 2017-06-08



















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