São quase, ou ultrapassa mesmo, os mil utentes e é uma das estruturas base no apoio social na cidade de Bragança, mas não só. A festejar 499 anos de vida, a Santa Casa da Misericórdia de Bragança (SCMB) acolhe e apoia centenas de utentes nas mais diversas respostas sociais, que vão da infância à terceira idade, da deficiência ao ensino escolar, nas seguintes valências: Lar Santa Teresa de Ávila (50 idosos), Lar Imaculada Conceição (71), Lar Santa Isabel (61), Centro Dia (9), SAD (89), Serviço de Amas-Creche Familiar (44 bebés), Escola do 1º Ciclo Dr. Diogo Albino de Sá Vargas (66 crianças), ATL (66), Centro Infantil S. João de Deus (35), Centro Infantil da Coxa (25), Centro Infantil Cinderela (45), Pré-Escolar da Coxa (25), CAO (77 utentes), Estrutura Residencial (69), Casa Abrigo a Mulheres Vítimas de Violência Doméstica (5), Apoio a Refugiados (4), Unidade de Cuidados Continuados: Média Duração (15), Longa Duração (25). A isto acresce o trabalho desenvolvido na RLIS com um número elevado de atendimentos.
Quase meio milénio a crescer e a desenvolver ajudas à comunidade que fazem da SCMB uma instituição de referência no Nordeste Transmontano, mas não só.
Adaptando a(s) sua(s) resposta(s) às necessidades, ao longo de 499 anos muita coisa mudou na sociedade e, claro, na Santa Casa brigantina. Com o fito no apoio a quem precisa, a instituição abraçou duas novas respostas sociais nos últimos quatro anos e com um forte investimento associado.
A primeira destas duas novas valências é o Centro de Educação Especial (CEE), que a Misericórdia passou a promover em setembro de 2013.
“Era uma resposta que não tínhamos e era interesse da Segurança Social entregar essa resposta a uma IPSS. Manifestou vontade que fosse a Santa Casa a assumir um acordo de gestão e nós entendemos que tínhamos condições para isso e que era possível criar melhores condições para que o CEE pudesse desenvolver em pleno a sua atividade, uma vez que só tinha cerca de 50% da sua capacidade a ser utilizada”, começa por explicar o provedor Eleutério Alves, acrescentando: “Percebemos que era possível melhorar a resposta a nível do distrito e foi o que nos levou a assumir esse acordo”.
Para a diretora-técnica, Virgínia Lopes, “uma das grandes diferenças desde que a Santa Casa tomou conta da resposta foi que passou a estar 365 dias aberta por ano, o que não acontecia, pois fechava aos fins-de-semana, Natal e mês de Agosto”.
Só aqui a melhoria do serviço e do apoio às pessoas com deficiência é exponenciado, pois “quem não tinha retaguarda familiar era colocado temporariamente em outras instituições da área e neste momento têm serviço de enfermagem permanente e ainda médico, sendo que dantes havia apenas um médico que vinha cá umas horas por semana”.
Uma das melhorias mais mediáticas e populares é a piscina, “que não estava em funcionamento”.
A Misericórdia fez obras e agora o equipamento está aberto à população não só do CEE mas também a outras instituições da cidade que apoiem pessoas portadoras de deficiência.
Atualmente são já mais de 100 utilizadores/dia. Das 9h00 às 20h00, com utentes das diferentes valências da SCMB, com utentes de outras instituições ou com os alunos da escola primária o horário está completo.
“Começámos por investir na piscina, porque recebemos o equipamento muito degradado. Ainda hoje se nota a necessidade de obras para a requalificação de alguns espaços. A piscina tinha sido construída com fundos transfronteiriços, mas não foi acabada. Nós finalizámos a obra com algum apoio financeiro da Segurança Social e nosso. Esta é a única piscina adaptada que há no distrito e que está a funcionar quer para a nossa valência da deficiência, quer como para outras instituições da área da deficiência do distrito de Bragança que manifestaram interesse em utilizá-la. A utilização é gratuita e é feita, pelo menos, pelas instituições da cidade”, sublinha Eleutério Alves, que acrescenta: “É solidariedade entre as instituições de solidariedade, porque percebemos que nem todos temos que ter tudo, mas o que temos podemos partilhar com as outras instituições. Temos um protocolo com outra instituição da área da deficiência, a ASCUDT, em que eles partilham a nossa piscina e nós a sala de snoezelen que eles têm. Este é a forma de estar que temos, em que tudo o que a instituição dispõe, se puder ser partilhado com outras que não têm, deve ser partilhado”.
João Genésio, técnico no CEE, é perentório: “Antes, isto estava para fechar. Atualmente temos pessoal técnico para todas as valências. Já temos fisioterapia, que não havia, sendo que o número de funcionários duplicou e preencheram-se as vagas todas. E mais vagas houvesse… Temos uma lista de espera de 14 pessoas”.
Atualmente, no CEE o utente mais novo tem 24 anos e o mais velho 78, sendo que a faixa maioritária fica acima dos 45 anos.
E esta realidade traz, segundo os técnicos, outro tipo de problemas.
“Vamos ter que mudar, porque isto funciona tipo escola. Eles levantam-se de manhã, vão para o CAO e só regressam ao apartamento ao final da tarde. Com o envelhecimento da população isso vai ter forçosamente que mudar… É uma questão a estudar, até porque em termos de autonomia vai mudar muita coisa”, alerta João Genésio, ao que a diretora-técnica responde com um pronto: “É uma realidade a que estamos atentos”.
Olaria, trabalhos manuais, expressão plástica, carpintaria, alfabetização, ludoteca, terapia ocupacional e um grupo de folclore são atividades que os utentes podem desenvolver, como ainda cursos de formação em jardinagem, hotelaria e lavandaria.
Quanto a projetos futuros, os responsáveis pelo CEE gostavam de recuperar uma horta que á valência já teve.
“Era uma horta com galinhas e coelhos e que proporcionava um leque vasto de atividades ao ar livre. Porém, a funcionária que tratava da horta foi para outras funções e o projeto perdeu-se. Dali saiam produtos para a nossa cozinha o que dava grande satisfação aos utentes que participavam ativamente na manutenção das culturas e no tratamento dos animais”.
A valência que a Santa Casa da Misericórdia de Bragança abraçou mais recentemente é a Unidade de Cuidados Continuados Integrados (UCCI), inaugurada em setembro de 2014, e que ainda não está a funcionar a 100%.
“Aquando da construção da Unidade fizemos uma candidatura para 60 camas, para as tipologias de Convalescença, Média Duração e Longa Duração. O equipamento foi financiada pelo ON.2 para 60 camas, com um custo total de cerca de quatro milhões de euros, mas quando foi altura de acertar o Acordo de Cooperação só foram protocolizadas 40 camas. Ou seja, ficaram 20 camas disponíveis. Temos um piso totalmente equipado, que pode entrar em funcionamento no imediato, mas são 20 camas que estão vazias porque não há acordo de cooperação”, lamenta o provedor, que, mesmo assim, se mantém otimista quanto ao futuro próximo: “Temos perspetivas de que a situação possa ser desbloqueada, até porque temos conhecimento que há falta de camas no distrito de Bragança e em toda a região norte. Por outro lado, sabemos que o Governo também sabe que tem ali 20 camas disponíveis e que foram cofinanciadas pelo Estado. Ora, é um desperdício ter ali 20 camas e, ao mesmo tempo, querer criar mais camas noutros locais onde não existem e que têm que ser financiadas de raiz. Depois, a ocupação das 40 camas que atualmente temos na Unidade foi feita logo desde o primeiro dia, tendo, em dois anos e meio, já passado por lá mais de 400 utentes, o que mostra bem a necessidade da sua existência e a procura que tem. Neste momento não temos lista de espera, mas temos manifestações de interesse de pessoas que gostariam de ir para lá e que estão há três meses à espera de uma vaga. Isto significa que a procura da nossa unidade é grande, porque é reconhecida como uma das melhores do norte do País, não só pela população, mas também pelas entidades oficiais”.
Desde que abriu, ocupadas estão 15 camas na unidade de Média Duração e Reabilitação e 25 na unidade de Longa Duração e Manutenção.
“Até agora tem corrido bem, temos uma taxa de ocupação bastante elevada, uma lista de espera em ambas as unidades, um feedback bastante positivo dos utentes e dos seus cuidadores e nunca tivemos nenhuma queixa”, começa por referir Suzete Abrunhosa, diretora-técnica da UCCI, que ressalva: “É óbvio que as coisas não são perfeitas, pois prestamos cuidados com pessoas para pessoas, mas temos conseguido gerir isso da melhor forma”.
Com a grande maioria dos utentes oriundos do concelho de Bragança, a UCCI recebe ainda utentes dos concelhos de Vinhais e Macedo de Cavaleiros.
“Esta é uma resposta de proximidade, que é também um dos grandes objetivos da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados, ou seja, promover a reabilitação das pessoas sempre próximo da família, considerando a dimensão bio-psico-social da pessoa e toda a sua envolvente”, explica, sublinhando que “a UCCI de Bragança não é um lar”, pelo que “a partir do momento em que os objetivos clínicos são atingidos os pacientes têm alta”.
Quanto ao futuro, e enquanto aguarda o preenchimento da capacidade da Unidade, Suzete Abrunhosa gostaria de implementar o projeto «Cuidar Mais».
“É um projeto para implementar com o objetivo de abrir um gabinete de apoio ao cuidador formal e informal. É um tipo de apoio que ainda não existe na cidade de Bragança, nem na proximidade. Com os recursos que a Santa Casa tem, a nível multidisciplinar, o propósito é dar apoio ao cuidador informal, porque é uma necessidade que quando acolhemos os doentes sentimos. As pessoas sentem-se bastante perdidas, não sabem o que é o cuidar, as doenças surgem de um momento para o outro e era bom que houvesse uma estrutura que as pudesse apoiar ao nível psicossocial e até jurídico”, explica a técnica.
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