Nunca terá passado pela cabeça de ninguém e, sobretudo do Governo e da Comunidade Política, que um incêndio, como o de Pedrógão Grande, pudesse abalar os alicerces da nossa organização como Povo valente e imortal, a ponto de toda a classe política, no Governo e no Parlamento, ter percebido que algo de grave tinha acontecido que reclamava muitas explicações que ninguém estava à altura de poder prestar!
Foi confrangedor verificar que, uma vez mais, se tenha utilizado o recurso sempre à mão em situações análogas a esta: uns a acusarem os outros, com promessas de instauração de rigorosos inquéritos que, por sistema, nunca levam lado nenhum!
Mas, desta vez, a coincidência de vários fenómenos em áreas que atingiram a responsabilidade do funcionamento do Estado, acompanhada de muitas e bem documentadas reportagens da comunicação social, semeou o pânico na classe política!
Convenhamos que, para além da tragédia que se abateu sobre Pedrógão Grande, a forma como o assalto a instalações militares, em Tancos, seguido de roubo de muito e muito perigoso armamento, como se de uma casa normal se tratasse, não deixa ninguém tranquilo!
Esperando que, desta vez, os políticos levem a sério todas estas ameaças à segurança das populações, aqui fica um modesto contributo para se poder compreender qual é o verdadeiro fundamento da “comunidade política”. Sendo verdade que é o voto que legitima o acesso ao Poder, nos seus diversificados patamares: Parlamento, Governo, Administrações Centrais e Locais, incluindo, naturalmente as Autarquias, convém ter presente que “a comunidade política deve ter na referência ao povo a sua autêntica dimensão: ser a unidade orgânica e organizadora de um verdadeiro Povo".
Quem se propõe assumir a responsabilidade de “governar um Povo” deve ter consciência de que um Povo não é uma multidão amorfa, uma massa inerte que se pode manipular ou instrumentalizar!
Talvez fosse uma boa ideia incluir nos cursos de verão, que costumam organizar-se para “formar quadros políticos”, este tema: “considerar a pessoa humana como fundamento e fim da comunidade política. Por isso, toda a ação política deve esforçar-se antes de mais, pelo reconhecimento e pelo respeito da sua dignidade, mediante a tutela e a promoção dos direitos fundamentais e inalienáveis do homem”.
Uma comunidade política que deseje credibilizar-se, terá de cuidar muito mais da dimensão ética, humanista, social, inclusiva, de coerência entre o ser e o parecer, de quantos vão ser convidadas para o exercício do Poder!
Pe. José Maia
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