«O velho era magro e seco, com profundas rugas na parte de trás do pescoço. As manchas castanhas do benigno cancro da pele que o sol provoca ao reflectir-se no mar dos trópicos viam-se-lhe no rosto. As manchas iam pelos lados da cara abaixo, e as mãos dele tinham as cicatrizes profundamente sulcadas, que o manejo das linhas com peixe graúdo dá. Mas nenhuma destas cicatrizes era recente. Eram antigas como erosões num deserto sem peixes. Tudo nele e dele era velho, menos os olhos, que eram da cor do mar e alegres e não vencidos».
Como fica patente neste excerto de «O velho e o mar», de Ernest Hemingway (tradução e prefácio de Jorge de Sena, 1956), a passagem dos anos desgasta, mas também permite acumular experiência, sabedoria e todo um combustível para alimentar a chama da vida. E estes recursos são cada vez mais importantes, pois estes são tempos em que cada vez se vive mais… e se quer viver melhor até ao fim!
Assim, as pessoas não se deixem vencer pelo peso dos anos e das maleitas, muitas a nível psicológico, pois a alegria é marca dos não vencidos.
E, neste particular, as IPSS podem ter um contributo essencial no sentido de dar às pessoas mais velhas uma vida o mais ativa possível.
No ano de 2002, a Organização Mundial de Saúde (OMS) definia Envelhecimento Ativo (EA) como o “processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida a? medida que as pessoas envelhecem”.
Partindo desta premissa e reconhecendo, pelo contacto diário com as pessoas mais velhas, que existem formas distintas de envelhecer, que, para além da saúde, abrangem aspetos socioeconómicos, psicológicos e ambientais, a OMS propôs seis determinantes do EA integrados num modelo multidimensional de envelhecimento: Fatores económicos; Serviços sociais e de saúde; Fatores comportamentais; Fatores pessoais; Ambiente físico; e Fatores sociais.
Nesta abordagem assumem papel de grande relevância a definição de um conjunto de atividades que permitam manter e fomentar um EA, com qualidade e numa perspetiva intergeracional. Para além de incrementar a melhoria das oportunidades de saúde, de participação e segurança, durante toda a vida útil, “pode modificar os fatores de risco, mesmo dos longevos, e promover o EA”, anotou a OMS, em 2005.
É neste contexto que surge, em 2014, a iniciativa da CNIS em implementar o que designa por «IPSS Amigas do Envelhecimento Ativo», que a CNIS tem vindo a reconhecer, valorizar e disseminar entre as suas associadas.
Estas, por si, devem promover nas suas respostas sociais vertentes como saúde e bem-estar, apoio psicossocial, ambientes institucionais, inclusão e participação, redes sociais e socialização.
Mas, então, o que é uma IPSS Amiga do Envelhecimento Ativo?
No fundo, são todas as instituições que assumem um papel proactivo na promoção do EA, que adaptam as suas estruturas e serviços para que sejam acessíveis e promovam a inclusão das pessoas idosas como seres biopsicossociais.
Neste sentido, todas as respostas sociais (da infância à deficiência) devem ser promotoras do EA, sempre na perspetiva de ciclo de vida.
Neste sentido, uma IPSS para ter o perfil para ser amiga do Envelhecimento Ativo deve: Adotar estratégias adequadas às necessidades da população idosa; Desenvolver respostas sociais com espaços e equipamentos seguros e acessíveis às pessoas idosas e profissionais diversificados; Garantir e fomentar a participação cívica, a todos os níveis de decisão; Promover a satisfação e integração dos seniores no ambiente social e físico em que estão inseridos; Promover a mudança dos estilos de vida; Promover a formação e sensibilização dos colaboradores das IPSS no âmbito da temática; e Delinear planos específicos de atuação.
Estes são alguns dos critérios necessários para que uma instituição possa ser uma IPSS Amiga do EA, cuja informação é recolhida através de um formulário, uma lista de verificação das caraterísticas essenciais e uma ferramenta para a autoavaliação e ainda um instrumento que fornece informação sobre atividades que podem ser desenvolvidas.
À CNIS cabe o papel de assumir e defender o conceito de «Envelhecimento Ativo», introduzido pela OMS em 2002, e que o EA é uma experiência positiva, que contribuiu para a construção de uma nova identidade das pessoas idosas como cidadãos de pleno direito, produtivos, seguros e com estilos de vida saudável. Deve ainda estimular a construção de ambientes favoráveis e propícios à participação dos seniores nas várias esferas de atuação (família, comunidade, instituições, mercado de trabalho, etc.) e gerar uma cultura institucional favorável ao envelhecimento ativo.
Por outro lado, a CNIS estabeleceu uma parceria com a DGS - Direção-Geral de Saúde, em novembro de 2015, a fim de “aprofundar a cooperação mútua, no sentido de fomentar um envelhecimento ativo, com qualidade e intergeracional” e cujo protocolo “tem por objeto regular a colaboração e cooperação direta e recíproca entre a DGS e a CNIS, visando a melhoria da qualidade de vida e bem-estar, inclusão, participação e a redução dos níveis de dependência das pessoas idosas”.
Decorre ainda a recolha e tratamento da informação fornecida pelas IPSS, a fim de se conhecer a listagem daquelas que são Amigas do Envelhecimento Ativo.
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