III CONGRESSO SICAD E 10 ANOS DE FNAS

CNIS realça importância das IPSS no combate ao alcoolismo

A CNIS, como membro do Fórum Nacional Álcool e Saúde (FNAS), participou no III Congresso do SICAD (Serviço de Intervenção em Comportamentos Aditivos e Dependências), subordinado ao tema «Humanismo na intervenção em CAD». Ao longo de três dias muito se refletiu e debateu, tendo cada um dos dias sido dedicado a um tema, a saber: canábis, jogo e álcool.
No final, João Goulão, presidente do SICAD, fez, para o SOLIDARIEDADE, “um balanço muito positivo” do congresso, “desde logo pela assistência, o que revela o interesse pelos temas que aqui estiveram a debate e depois pela qualidade das discussões que tiveram lugar”.
No primeiro dia de trabalhos discutiram-se questões relacionadas com a canábis, “um assunto importante no momento presente, com grandes desenvolvimentos, por causa da discussão do uso de canábis para fins terapêuticos e como impacta essa discussão e a aprovação, que acabou por acontecer, na questão do uso social ou recreativo”, referiu, acrescentando: “O que daqui ressalta é a importância de tomarmos decisões, tanto quanto possível, baseadas no conhecimento científico, na análise de experiências em curso. É importante que também possamos dar algum tempo ao desenvolvimento dessas experiências e ver como é que as coisas impactam no comportamento das populações e na saúde pública e individual”.
Em Portugal foi aprovado o uso de canábis para fins terapêuticos, mas ainda mais recentemente o Canadá liberalizou o consumo social. Para o presidente do SICAD, e um homem há muito envolvido nestas matérias, “é importante perceber como é que o novo paradigma regulador funciona”, e questiona: “Estamos todos de acordo que o uso de canábis não é inócuo, agora é preciso ver qual é a melhor forma de lidar com esses problemas, se é num paradigma de regulação ou se é neste paradigma de liberalização. Mas isto já é o que temos, pois temos um mercado apenas comandado pela oferta e a procura sem que haja qualquer interferência do Estado na qualidade dos produtos disponibilizados, nas condições de comercialização, etc. O que há aqui a sopesar é, de facto, saber qual a forma mais adequada para minimizar os efeitos negativos na saúde das populações”.
O caminho que está a ser feito na redução de riscos e na diminuição de danos nas novas circunstâncias acarreta igualmente novos desafios.
“Felizmente, temos os instrumentos legais e de estrutura adequados para enfrentar as situações à medida que elas se nos deparam, mas há novos desafios. O que passou nesta discussão sobre redução de danos foi a preocupação com o envelhecimento da população toxicodependente. E é necessário encontrar respostas para estar ao lado dessa população à medida que envelhece e à medida que vai evidenciando cada vez mais patologias, quer na esfera mental, quer física, quer social. Portanto, é necessário pensar em como podemos contribuir para que envelheçam de uma forma digna e com acesso a cuidados de saúde e a outras esferas que carecem”, sublinhou João Goulão, antes de abordar o segundo dia de congresso, dedicado às questões do jogo, “algo relativamente recente no mandato do SICAD”.
Para João Goulão, “ficou aqui patente a complexidade das questões em presença, desde o jogo em base territorial, como os casinos, ao jogo online, e como este depois casa com a dependência do ecrã”. Foram abordadas “questões bastante complexas”, mas “mais do que encontrar grandes caminhos é preciso identificar e elencar os problemas”, porque “o trabalho far-se-á, depois, de forma mais sistematizada e em esferas mais circunscritas”.
Já o terceiro e derradeiro dia de trabalhos do III Congresso SICAD girou em torno das questões relacionadas com o álcool e com a celebração dos 10 anos do Fórum Nacional Álcool e Saúde (FNAS).
Entre outros painéis de reflexão, a tarde foi preenchida por três workshops (Visão da Administração Pública, Visão da Economia Social e Visão da Oferta) e uma sessão de apresentação de conclusões.
“Abordaram-se os resultados que tem sido possível obter através desta plataforma que é o FNAS e os compromissos assumidos pelas entidades participantes. Estas formam três grupos principais: o dos representantes dos organismos do Estado; o das organizações governamentais, das sociedades científicas, das organizações sindicais, as IPSS, entre outros; e o dos produtores e distribuidores de bebidas alcoólicas”, relatou o presidente do SICAD.
O propósito é encontrar a “forma possível para concitar a participação destas entidades em medidas para reduzir os efeitos nocivos do álcool”, mas João Goulão alerta: “Não é fácil, sabemos disso. Desde há 10 anos que temos a consciência que há interesses conflituantes em presença, mas, apesar disso, estamos a dar alguns passos significativos. É o caso de algumas mensagens do género «grávida não bebe», que também é assumida pelos produtores”.
Em representação da CNIS e do seu presidente, Nuno Rodrigues, membro da Mesa da Assembleia Geral da CNIS, evidenciou os benefícios do trabalho do FNAS e a importância da rede de IPSS associadas na prevenção e tratamento dos problemas de alcoolismo.
Neste particular, lembrou que “a CNIS tem uma implantação em todo o território nacional, com mais de três mil instituições associadas, que permitem um trabalho profícuo no domínio da prevenção e do tratamento”, sublinhando ainda o facto de as IPSS terem mais de 220 mil trabalhadores e “uma intervenção direta num universo de um milhão de famílias”.
A isto acresce o facto de as instituições terem “um conhecimento estruturado e uma atividade permanente, através, principalmente, da sua integração na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados e da participação no domínio da saúde mental”, acrescentou Nuno Rodrigues, referindo a propósito do trabalho do FNAS que “os resultados apresentados evidenciam o muito que está feito, também uma ou outra fragilidade, mas são apostas para o futuro próximo”.
“O trabalho em rede trouxe um valor acrescido notável. A participação empenhada de todos os membros do FNAS veio trazer novas possibilidades de desenvolvimento na ação, na metodologia e nos objetivos e revelou a transversalidade da partilha de boas práticas, bem como um maior reconhecimento do empenhamento institucional”, destacou o representante da CNIS no FNAS, acrescentando: “Por outro lado, esta coexistência de diversos intervenientes nesta representação multissetorial e multidisciplinar em concentração de objetivos veio contribuir para a diminuição do uso nocivo do álcool e veio abrir uma janela de esperança”.
Neste workshop «Visão da Economia Social» foi realçada a importância e necessidade de articulação e de conexão. Criar a possibilidade de todos os agentes encaixarem as suas iniciativas todas umas nas outras e, assim, construir uma rede que tenha uma maior efetividade.
À mesa da reflexão estiveram a Câmara Municipal de Loures, a FETO, a Confederação Nacional de Associações de Pais (Confap), a Sociedade Portuguesa de Medicina do Trabalho (SPMT) e a CNIS, que deixaram “a mensagem da necessidade de respostas completas, não só complexas, mas bastante completas de apoio à integração e ao envelhecimento ativo, porque são pessoas velhas para o mercado de trabalho, mas bastante novas para serem institucionalizadas”, como referiu a relatora Sara Torgal.
Como há uma carência de respostas mais definitivas ou prolongadas no tempo para estas pessoas, “há que criar respostas mais integradas possível”.
Um dos dados abordados foi o de não só a prevalência de casos de internamento em comunidades terapêuticas por álcool tem vindo a aumentar substancialmente, ao contrário de outros comportamentos aditivos, como aumenta igualmente a faixa etária. Atualmente, a faixa etária entre os 50 e os 65 anos é que predomina nestes dados. Grande parte dessas pessoas vive sozinha, sem contexto familiar, o que se repercute na integração que depois se pretende em contexto social e/ou laboral.
A este propósito, e quando têm vindo a público casos de encerramento de serviços de internamento em unidades de tratamento de alcoolismo do Estado, João Goulão lamenta a incapacidade do organismo que preside.
“De acordo com o arranjo estrutural encontrado para enfrentar estas questões Portanto, não temos a ambição da mesma agilidade e o mesmo foco na resposta”, afirmou, explicando: “O antigo IDT [Instituto da Droga e Toxicodependência] era um organismo com capacidade de pensar as políticas e de as executar diretamente através de unidades próprias, mas também dedicava por inteiro a sua atenção a estas matérias e gozava de uma agilidade de resposta que o SICAD, enquanto direção-geral e sem instrumentos de intervenção no terreno, não tem. Por outro lado, as ARS [Administração Regional de Saúde] têm a responsabilidade de desenvolverem essa intervenção, mas diria que estas preocupações se diluem um bocado no universo enorme de preocupações que as ARS enfrentam. Tenho defendido, não exatamente com o mesmo desenho, o regresso a um arranjo em que a mesma entidade assegurasse os dois papéis, delinear as políticas e a sua execução, mas estamos na expectativa da opção que o Governo tomará, que parece estar para muito breve”.

 

Data de introdução: 2018-07-12



















editorial

O COMPROMISSO DE COOPERAÇÃO: SAÚDE

De acordo com o previsto no Compromisso de Cooperação para o Setor Social e Solidário, o Ministério da Saúde “garante que os profissionais de saúde dos agrupamentos de centros de saúde asseguram a...

Não há inqueritos válidos.

opinião

EUGÉNIO FONSECA

Imigração e desenvolvimento
As migrações não são um fenómeno novo na história global, assim como na do nosso país, desde os seus primórdios. Nem sequer se trata de uma realidade...

opinião

PAULO PEDROSO, SOCIÓLOGO, EX-MINISTRO DO TRABALHO E SOLIDARIEDADE

Portugal está sem Estratégia para a Integração da Comunidade Cigana
No mês de junho Portugal foi visitado por uma delegação da Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância do Conselho da Europa, que se debruçou, sobre a...