I CONGRESSO IBÉRICO EM CUIDADOS CONTINUADOS INTEGRADOS, BRAGANÇA

Abrir uma UCCI para robustecimento financeiro é mau negócio para as IPSS

“Se uma empresa privada ou uma IPSS me pergunta se recomendo ou não a abertura de uma Unidade de Cuidados Continuados Integrados (UCCI), eu normalmente digo: não!”.
Jose Ignacio Martín, docente e investigador da Universidade de Aveiro na área da gerontologia e com muito trabalho científico publicado, afirma-o sem peias, de forma crua e frontal.
A verdade é que muitas IPSS decidiram enveredar por tal caminho e as coisas não têm saído a todas como o esperavam. Para tal basta recordar as intervenções e os lamentos face às dificuldades de sustentabilidade da resposta por parte dos representantes das instituições, de há pouco mais de um ano (24 de julho de 2017), no encontro que a CNIS promoveu para as associadas a fim de debaterem a Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI). Logo aí ficaram evidentes alguns problemas que afetam transversalmente as instituições.
Para Jose Ignacio Martín, coautor do livro «Sustentabilidade das Instituições Particulares de Solidariedade Social» (2014), a abertura de uma UCCI “vai pôr em causa a missão da instituição”.
Aí coloca-se outra questão: “Está a instituição disponível para mudar a sua missão?”.
“Agora, se a instituição apenas quer a UCCI para robustecer os rácios financeiros, a minha recomendação é para não abrir. Para ganhar dinheiro há outros mecanismos, também legítimos”, sustenta o investigador, acrescentando: “E digo o mesmo aos privados, salvo se eles conseguirem estar associados a um lar de idosos, porque assim criam sinergias, tanto financeiras como de recursos humanos”.
Jose Ignacio Martín falava no I Congresso Ibérico em Cuidados Continuados Integrados, iniciativa integrada na Semana da Saúde, que a Santa Casa da Misericórdia de Bragança promoveu no âmbito das comemorações do seu 500º aniversário, e que levou até ao Auditório Paulo Quintela, em Bragança, o Coordenador Nacional da Reforma da RNCCI, Manuel José Lopes, entre outras personalidades de destaque na matéria dos Cuidados Continuados Integrados.
Para o docente da academia aveirense, a resposta passa por uma forte aposta de toda a sociedade no sentido de “reduzir o número de pessoas que no futuro vão precisar deste tipo de serviços”, ao mesmo tempo que defende a necessidade de “colocar a família como cuidador ativo”.
Já o Coordenador Nacional da Reforma da RNCCI havia, anteriormente, sublinhado a importância de “inverter a tendência da institucionalização e apostar no domicílio”, até porque os resultados têm sido evidentes.
Manuel José Lopes lembrou que “não há correlação entre envelhecimento e gastos em saúde”, pelo que o que se afigura “não é um problema, é um desafio”, frisando que “um bom envelhecimento depende de um bom ambiente sociofamiliar”.
Para tal, novas estratégias precisam-se e, Manuel José Lopes, começa por indicar o “cuidar em casa, que é mais barato e mais eficiente”, lembrando a questão do Estatuto do Cuidador Informal, algo “decisivo” para se avançar.
Para além disto, o responsável pela Reforma da RNCCI considera necessário “implementar a continuidade dos cuidados e integrá-los, e não fazer como agora que não comunicação entre as diferentes fases do processo”, defendendo “um sistema de pagamento dinâmico”, no que toca ao financiamento, que “é complexo” e “muito baixo”.
Também Jose Ignacio Martín, que lembrou que “enquanto nas IPSS olham para pessoas”, ele no seu gabinete olha “para números” e estes não são nada animadores, segundo demonstrou com alguns gráficos.
O também espanhol Ramón Martinez Riera começou por dizer que “é preciso incorporar a promoção da saúde” na ação das instituições e da sociedade em geral, acusando a “cultura hospital-centrista” de “obstáculo à coordenação”.
Sublinhando a importância da “continuidade dos cuidados”, o docente da Universidade de Alicante e presidente da Asociación de Enfermería Comunitaria do país vizinho sustentou que “é preciso olhar à pessoa e deve-se integrar nos cuidados o doente e o cuidador informal ou familiar”, realçando que “estes devem ser protagonistas e não recetáculos de informação e de ações”.
A jornada de trabalho levou ao Auditório Paulo Quintela diversos oradores, entre os quais Susete Abrunhosa, diretora-técnica da UCCI da SCMB, que abordou a temática da «Qualidade e boas práticas», baseando-se na experiência da unidade brigantina, ou ainda o psicólogo Quintino Aires, que colocou a ênfase da sua alocução na necessidade de se “dar mais vida aos anos e não tanto dar anos à vida”.
O I Congresso Ibérico em Cuidados Continuados Integrados terminou com um painel mais filosófico, em que «Os valores da vida nos Cuidados» foi o ponto de partida do debate e que teve como intervenientes o bispo de Bragança-Miranda, D. José Cordeiro, e o médico José Pinto da Costa, entre outros.

 

Data de introdução: 2018-10-11



















editorial

VIVÊNCIAS DA SEXUALIDADE, AFETOS E RELAÇÕES DE INTIMIDADE (O caso das pessoas com deficiência apoiadas pelas IPSS)

Como todas as outras, a pessoa com deficiência deve poder aceder, querendo, a uma expressão e vivência da sexualidade que contribua para a sua saúde física e psicológica e para o seu sentido de realização pessoal. A CNIS...

Não há inqueritos válidos.

opinião

EUGÉNIO FONSECA

Que as IPSS celebrem a sério o Natal
Já as avenidas e ruas das nossas cidades, vilas e aldeias se adornaram com lâmpadas de várias cores que desenham figuras alusivas à época natalícia, tornando as...

opinião

PAULO PEDROSO, SOCIÓLOGO, EX-MINISTRO DO TRABALHO E SOLIDARIEDADE

Adolf Ratzka, a poliomielite e a vida independente
Os mais novos não conhecerão, e por isso não temerão, a poliomelite, mas os da minha geração conhecem-na. Tivemos vizinhos, conhecidos e amigos que viveram toda a...