A Europa está a passar por um momento difícil no que respeita ao seu grande objectivo político de constituir e funcionar como uma verdadeira União, fazendo assim jus ao nome por que é reconhecida. Desta vez, o novo desafio com que o velho continente se depara prende-se com a chamada crise dos refugiados. Foi uma crise que começou por ser de carácter humanitário, mas que derivou perigosamente para o plano político, dadas as clivagens internas que já provocou.
É verdade que o primeiro grande golpe a ferir de morte a União foi o Brexit, mas o abandono do Reino Unido não provocou entre os restantes membros as tensões que parece estarem a acontecer agora nos outros países. Para se ter uma ideia do nível dessas tensões, basta ter em conta o que se passou na última cimeira dos ministros do Interior da União em que participaram também representantes de alguns países africanos. Foi uma reunião que, pelos excessos verbais de que se revestiu, diz bem de como está longe uma qualquer união nesta matéria, pelo menos entre alguns dos estados membros.
O clima de discórdia que caracterizou a cimeira foi protagonizado mais visivelmente pelos representantes do Luxemburgo e da Itália, a propósito do acolhimento, ou do não acolhimento, a refugiados que atravessam o Mediterrânio em busca de um porto de onde não sejam expulsos, como acontecera na ilha de Malta. O ministro italiano do Interior, o sr. Salvini, dirigente da Liga do Norte, um partido que não esconde o seu radicalismo, relativamente à política migratória da UE, não aceitou de bom grado as críticas do representante luxemburguês ao comportamento do seu governo nesta matéria, e fê-lo em termos que terão esgotado a paciência deste que, no calor da discussão, se exprimiu de modo claramente impróprio.
Poderia tratar-se apenas de um incidente menor na discussão de um problema que está longe de merecer unanimidade, mas infelizmente para a Europa pode significar que o longo e difícil caminho percorrido até agora na procura da unidade europeia pode regredir drasticamente. Ninguém diria, ao ver, já lá vão alguns anos, as primeiras imagens das tragédias marítimas que foram marcando a história recente do Mediterrâneo, que a Europa estava a dar os primeiros passos numa crise que poderia pôr em causa os seus grandes objectivos De tal modo que se poderá dizer que hoje não são apenas os refugiados a naufragar no Mediterrâneo…
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