Em política, nem sempre é fácil distinguir entre popularidade e populismo. É verdade que não estamos perante dois conceitos absolutamente idênticos, mas uma coisa parece certa: não há populismo que, pelo menos inicialmente, não se sustente, de popularidade, em maior ou menor grau. Quase sempre em maior.
Vem isto a propósito da situação política do México, onde se completaram recentemente cem dias sobre a tomada de posse de Lopez Obrador como seu novo presidente, cargo que passou a ocupar na sequência da estrondosa vitória que obteve nas últimas eleições. E falamos de vitória estrondosa, por duas razões principais: pelos números de que se revestiu e pelo facto de ter sido alcançada à terceira tentativa, o que diz bem do seu carácter de político confiante e resiliente.
É habitual os comentadores políticos estarem atentos aos primeiros cem dias de governação de qualquer político investido em funções de liderança, sobretudo quando se trata de chefes de governo ou de estado, já que esse período de tempo pode indiciar o que poderá vir a ser o mandato de que foi investido. Ora o novo presidente mexicano mão escapou a este escrutínio e a conclusão que resulta deste exame é a de que Obrador passou com distinção. As sondagens demonstram que o seu grau de popularidade e de fiabilidade supera largamente os números da sua própria eleição, bem se podendo afirmar que ele está a viver uma lua de mel com o México.
Lopez Obrador é um veterano político da esquerda mexicana, mas que não pretende ficar condicionado por esse rótulo. Com a sua enorme superfície, com mais de cem milhões de habitantes e, sobretudo, com a sua capacidade de produção petrolífera, o México tem muitas das condições necessárias para ser uma das grandes economias do continente americano. No entanto, essas condições não têm chegado, até hoje, para que a sua riqueza potencial tenha conseguido tirar da pobreza uma parte significativa da sua população. Daí que Obrador precise de todos e não queira afastar do seu projecto reformador mesmo aqueles que receiam a chegada de um homem assumidamente de esquerda à chefia do estado.
Para já, o novo presidente tomou medidas que são extremamente populares. Decidiu, por exemplo, cortar nos gastos inúteis ou supérfluos do Estado, tais como na utilização oficial de carros de luxo ou na ocupação de edifícios públicos desnecessários, cuja construção e manutenção ficam excessivamente caras ao erário público. São ainda medidas simples e aparentemente fáceis de tomar, mas sempre de grande impacto junto estratos mais pobres da população.
As grandes decisões estão ainda por tomar, e só então se verá se Obrador é um político verdadeiramente corajoso, capaz de enfrentar por exemplo os desafios levantados por Donald Trump, no que respeita à política migratória. Até lá, temos de esperar, para sabermos então se a popularidade de Obrador é ou não igual a populismo.
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