A Associação Social e Desenvolvimento de Vale da Estrela (ADM Estrela) cumpre 30 anos de existência este mês de dezembro e nasceu no sopé da Serra da Estrela. Inicialmente apenas com as respostas de Centro de Dia e Serviço de Apoio Domiciliário (SAD). Porém, e fruto da dinâmica e espírito de missão dos seus dirigentes, a instituição tem hoje uma dimensão nacional e internacional, continua a promover projetos inovadores e abre os braços aos desafios mais difíceis da área social.
Nestas três últimas décadas a ADM Estrela cresceu bastante e hoje encontra-se num processo de transição para Fundação Estrela, cujo presidente do Conselho de Administração é Bernardino Gata Silva, enquanto Josefina Almeida é a presidente da Direção da Associação.
“É um processo natural de evolução. Começámos há 30 anos na aldeia de Vale de Estrela, com um Centro de Dia e um SAD, e como qualquer instituição fomos evoluindo”, começa por referir José Almeida Gomes, diretor-geral da instituição, acrescentando: “Hoje, num contexto de distribuição nacional e até internacional, e sendo a instituição muito transversal em termos de valências sociais, com muitos projetos comunitários e interligação com outras instituições, sentimos a necessidade de ter uma postura pública e jurídica mais sólida e sustentável e que é a fundação. Com uma diferença e originalidade, é que todos os associados da ADM Estrela passam a ser curadores da Fundação Estrela”.
Atualmente, a instituição tem pólos em Vale de Estrela (ERPI com 20 utentes, Centro de Dia com 12, SAD com 20, CAO com 20 e Centro Juvenil com 35 jovens), na Guarda (CATL com 70 jovens, Academia Júnior com 70, Jardim de Infância com 25 crianças, Espaço Nov’idade com 40 idosos e Centro de Formação com 67 formandos), Pinhel (Lar Residencial com 24 utentes e CAO com 26), Manteigas (Creche com 15 bebés e Jardim de Infância com 25 crianças), Castelo Branco (Casa de Acolhimento de Jovens com 16 utentes), Lisboa (CATL para jovens adultos onde trabalha com cerca de 70 jovens) e ainda Belmonte, onde tem uma quinta pedagógica. No apoio a todas as estruturas, a instituição conta com um quadro de pessoal de 120 trabalhadores.
“Face à diversidade de respostas que temos, a ADM Estrela não é uma instituição típica”, sustenta o diretor-geral.
“Apesar de toda a diversidade de respostas, a área da deficiência é a menina dos nossos olhos”, acrescenta Bernardino Gata Silva.
“Sempre tivemos uma característica social, solidária e humanista, pelo que quase sempre escolhemos fazer o que era mais difícil. Lares de idosos há muitos e em quase todas as aldeias, agora atuar na área da deficiência e na formação dirigida a público que tem muitas carências já não é qualquer instituição que quer fazer, mas é isso que nós fazemos”, argumenta José Almeida Gomes, que destaca o trabalho desenvolvido na capital: “Por exemplo, o trabalho que desenvolvemos em Lisboa é algo difícil. Podíamos ter criado uma creche num bairro rico de Lisboa, mas não, temos CATL para jovens no Bairro da Serafina e Liberdade, que é um dos bairros mais difíceis”.
E por mais estranho que pareça uma instituição que nasceu no sopé da Serra da Estrela criar uma delegação em Lisboa, para os dirigentes da ADM Estrela isso é apenas a sequência lógica da sua forma de trabalhar em rede e em parceria.
“As coisas acontecem sem darmos conta. Há uns anos tivemos a ideia de criar uma fundação envolvendo grandes empresas em que os jovens da Guarda iam a Lisboa ou ao Porto e os de lá vinham à Guarda. E por determinados cruzamentos pessoais e numa parceria com uma instituição de Lisboa, que já não existe, passámos a dispor de um espaço na capital. O trabalho em Lisboa consiste em desenvolver uma série de atividades, com apoio essencialmente da Câmara Municipal, junto dessa população jovem do Bairro da Serafina e Liberdade, numa atitude de prevenção para os males que todos conhecemos”, explica José Almeida Gomes, ao que Bernardino Gata Silva acrescenta: “Para sermos considerados temos que ser reconhecidos e o reconhecimento que temos é fruto da nossa forma de estar e das ligações e parcerias que estabelecemos”.
Para além das respostas (ditas) típicas, a ADM Estrela investe muito em projetos inovadores na comunidade, como recorda o diretor-geral da instituição: “Aquando do lançamento dos projetos de luta contra a pobreza, a ADM Estrela criou três estrutura a que chamou «Cafés ecológicos», onde não se fumava e não se bebia, era gerido pelos próprios jovens e onde havia acesso livre à internet. Os impactos foram enormes junto da população jovem, que ainda hoje diz ser a «geração dos ecológicos». E foi daqui que nasceu o Centro Juvenil que, no fundo, é um ATL atípico, que desenvolve uma série de atividades que ocupam os jovens e os apoiam no estudo, misturando os da cidade com os da aldeia, sendo que estes são cada vez menos”.
Mais recentemente, a instituição abraçou dois outros projetos inovadores e bastante diferente entre si, mas que, no fundo, têm um objetivo comum: integrar e incluir quem é portador de deficiência.
“O CAVI (Centro de Apoio à Vida Independente) é um projeto, como há mais 29 em todo o país, em que a instituição contrata e forma assistentes pessoais que acompanham no dia-a-dia pessoas com dificuldades, normalmente, pessoas com um grau de deficiência de 60% ou mais e que não conseguem realizar as atividades da vida diária. São pessoas que não são institucionalizadas e que recebem um apoio de 40 horas semanais desse assistente pessoal”, refere José Almeida Gomes.
Por outro lado, e já com uma apresentação pública na cidade da Guarda, a instituição desenvolve desde setembro de 2018 o «Delyramus», um projeto cofinanciado pelo Programa Europa Criativa, que reúne essências históricas e culturais europeias, com atividades dirigidas a grupos com dificuldades de acesso à cultura, tendo como ponto central alguns instrumentos musicais medievais e renascentistas europeus.
Enquanto parceira, a ADM Estrela desenvolveu ateliês artísticos e visitas a espaços culturais, promovendo assim a integração das pessoas com deficiência através da música… medieval.
O trabalho com públicos socioeconomicamente desfavorecidos não faz os dirigentes esmorecer, pelo contrário.
“Somos uma instituição social, pelo que não há nenhum utente que deixe de ter o nosso apoio se não tiver condições financeiras. É claro que, no global, é necessário assegurar a sustentabilidade da instituição. Sabemos que há outras instituições que têm uma melhor solvência financeira do que nós, mas o que fazemos é uma gestão rigorosa, em termos de despesa e desperdício, e temos que conseguir uma receita minimamente equilibrada do ponto de vista das famílias. É neste equilíbrio entre as comparticipações do Estado e as das famílias e os custos que temos que assegurar a sustentabilidade da instituição”, afirma o diretor-geral, que acrescenta: “A saúde financeira está perfeitamente equilibrada, fruto da gestão rigorosa que fazemos. Costumo dizer que temos capacidade financeira para fazer tudo o que fazemos, sendo que só fazemos aquilo para o qual temos capacidade financeira”.
Nesse sentido, a instituição prepara já o futuro, tendo elaborado um plano estratégico de desenvolvimento para 10 anos.
“Este plano envolve uma verba entre os seis e os sete milhões de euros, sendo que estamos já a preparar um financiamento junto das entidades bancárias, com estudos económicos adequados em que se não conseguirmos alguma subsidiação pública, temos que arranjar forma de o concretizar na mesma”, explica, concretizando: “Por exemplo, temos a necessidade de construir uma nova ERPI, mas esta tem que ser sustentável por si, se não estiver na orla da Segurança Social. O nosso próximo lar, se não for construído com apoios públicos, terá que ser na orla do financiamento privado”.
E os projetos imediatos passam pela construção de uma nova ERPI, com capacidade para 40 camas e ainda um Lar Residencial, para entre 20 a 26 utentes, a fim de “dar resposta às solicitações que continuamente chegam à instituição, para além de que os utentes que hoje estão em CAO, com o envelhecimento das famílias, necessitam de um espaço com condições”.
Nesse sentido, a instituição pretende “adquirir uns terrenos onde instalar um Parque da Inclusão, com o Lar Residencial e oficinas para formação profissional, entre outras valências”, revela José Almeida Gomes, que aponta como grande dificuldade a inserção profissional dos formandos com deficiência.
“O grande problema que enfrentamos é a questão da inserção profissional, porque damos muita formação a pessoas com deficiência, mas se não houver mais apoio do Estado muitas destas pessoas serão sempre ostracizadas pela comunidade. Esta é uma luta nossa de há muito tempo. A governação tem que ver esta questão de outra forma e com outra atenção, porque é sempre mais económico para o país apoiar no ensino e na formação e no exercício profissional do que deixar essas pessoas andarem nos circuitos paralelos da sociedade”, afirma.
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