ASS. CULTURAL, SOCIAL E DE MELHORAMENTOS DA VERMIOSA, FIGUEIRA DE CASTELO RODRIGO

Faltam utentes em SAD mas a lista de espera cresce para ERPI

Nasceu da necessidade de apoiar a população, numa altura em que não havia nada na zona. SAD e Centro de Dia e um ATL deram o pontapé de saída nas respostas sociais, mas a construção de um lar, que primeiro era para ser uma unidade de cuidados continuados, sempre foi a grande ambição. Quando em 2015 foi inaugurado, com sete utentes, houve mais dois a sê-lo no concelho. Hoje já se debatem com falta de idosos, especialmente, em SAD, porque todos querem o lar. Por isso a intenção da Direção é completar o projeto inicial e disponibilizar não 17, mas 54 camas.
Espanha vislumbra-se no horizonte nada distante a partir da Vermiosa, freguesia do concelho de Figueira de Castelo Rodrigo, uma aldeia, como tantas outras na região, envelhecida e desertificada. Acresce que alberga uma importante e numerosa comunidade cigana, que tem sido o alimento de utentes nas respostas à infância e juventude.
“As crianças que temos em ATL e no CAF são todas de etnia cigana, aliás, as que não são estão em Figueira de Castelo Rodrigo ou em Almeida”, começa por dizer Tânia Salvador, diretora-técnica da Associação Cultural Social e de Melhoramentos da Vermiosa (ACSMV), acrescentando: “É uma questão essencialmente financeira, porque nós praticamos preços praticamente simbólicos, que nem se comparam com os praticados no resto do concelho”.
No entanto, a frequência das respostas de ATL e Componente de Apoio Familiar (CAF) é muito variável.
“Nós abrimos o ano letivo no ATL com 22 crianças e no Pré com 15, mas são miúdos que se inscrevem no início do ano e depois os pais vão para a apanha do morango, vão para Espanha e outros sítios e eles deixam de vir. Porém, mais tarde, acabam por regressar, pelo que a frequência vai variando”, explica Esmeralda Diogo, presidente da instituição da Vermiosa.
Apesar da resposta à juventude, com o ATL, ter sido das primeiras da instituição, a terceira idade era a preocupação principal.
“Como presidente da Junta, tive sempre a ambição de construir um lar na Vermiosa, não apenas uma instituição com estas respostas que agora temos, mas essencialmente um lar para os mais velhos. No entanto, era algo muito difícil, por questões financeiras”, começa por contar Esmeralda Diogo.
Após um período de interregno, Esmeralda Diogo regressa à instituição decidida a dar uma utilidade a uma espaço contíguo aos edifício da Junta de Freguesia, e no qual já funcionavam, desde 2001, o SAD e, desde 2002 o Centro de Dia e o ATL.
“Estas respostas eram muito pouco para o que eu ambicionava para a Vermiosa, pois não havia nada”, sustenta Esmeralda Diogo, recordando que foi nessa altura que decidiu pôr tudo em movimento.
“Em janeiro de 2011 tomei posse como presidente da Associação e prometi à população que em maio iríamos começar a obra. Fizemos um contrato de comodato com a Junta para ficarmos com o terreno onde agora está o nosso equipamento social e onde era antigamente o campo de futebol da freguesia, e em maio estava uma retroescavadora no terreno”, lembra.
A obra demorou quatro anos a ficar concluída e foi apenas metade do projeto inicial, pois as verbas disponíveis eram curtas para tudo os que estava idealizado.
“O projeto avançou com 40 mil euros que tínhamos em caixa, com os apoios da Câmara, que nesse aspeto foi fundamental, da Raio Histórica e alguns particulares que deram alguma coisa. Depois, a Direção fez um crédito com o aval pessoal dos dirigentes, que ainda perdura”, revela a presidente da instituição, ressalvando: “Convém referir que o projeto inicial era para uma Unidade de Cuidados Continuados, numa altura em que havia o Programa Modelar, mas que terminou quando pretendemos arrancar. No entanto, disse logo, ‘não há Modelar, mas vai haver o lar’. Aproveitámos o projeto, fizemos as alterações necessárias e avançámos para a construção do lar. E agora, depois do que tenho visto, não tenho pena nenhuma de não ter avançado com a unidade de cuidados continuados”.
Para Esmeralda Diogo, “foi muito difícil e demorou quatro anos, porque o projeto é muito grande”, contando que, perante as condicionantes financeiras, a instituição solicitou à Segurança Social avançar apenas com metade do projeto, o que recebeu luz verde por parte do organismo do Estado.
“O projeto está aprovado pela Segurança Social e pelo CLAS e prevê, pela última aprovação, ficar com 59 camas. É um projeto que tem sofrido várias alterações, porque como parámos a construção e tivemos que fechar determinadas áreas, que serão para abrir posteriormente, as coisas vão sendo alteradas, até porque as regras estão sempre a mudar”, argumenta Esmeralda Diogo, que fala com otimismo na conclusão do projeto a breve trecho.
Sem grandes folgas para investimento, a instituição, segundo a presidente, tem uma situação financeira “estabilizadíssima”.
“Pagamos aos fornecedores a 30 dias e os ordenados estão certinhos, porque temos as contas muito certinhas e somos muito poupadinhos. E é para assegurar esta situação que ainda não avançámos com a segunda fase do projeto. Não esqueçamos que todos os meses temos que pagar cerca de dois mil euros de gás, que assegurar os pagamentos da eletricidade e que dar de comer e não só aos nossos utentes”.
Atualmente, a ACSMV acolhe 17 idosos em ERPI, cinco em Centro de Dia e apoia 23 em SAD, dando resposta em ATL a 18 crianças e a seis em CAF.
E se em muitas regiões, aliás como aquela em que a Vermiosa se insere, há cada vez menos crianças e jovens, ali também já começam a faltar idosos.
Sintoma disso é o Serviço de Apoio Domiciliário da ACSMV que conta apenas 23 utentes quando tem uma capacidade para apoiar 54.
“E cada vez estamos a ficar com menos, porque as pessoas chegam a um ponto que já não podem ficar em casa, mesmo com o apoio, e procuram um lar. Como estamos lotados, as pessoas vão para outros lares noutros locais”, justifica Tânia Salvador, ao que a presidente acrescenta: “As pessoas aqui não preferem o SAD ao lar, porque a maioria vive sozinha. As pessoas querem o apoio domiciliário enquanto se podem mexer, mas quando começam a ficar mais dependentes e a ir muito ao médico e a ter que fazer muita medicação, os filhos é que não as querem sozinhas em casa, principalmente, à noite. E no lar têm todo o apoio durante o dia e a noite”.
E, pelos vistos, oferta não falta. “Aqui no concelho, foram inaugurados três lares no mesmo dia, aqui na Vermiosa, em Reigada e em Vale de Afonsinho, todos pelo ministro da Segurança Social. Com isto, as pessoas dividiram-se muito, apesar de termos pessoas de Reigada e de outros locais, os outros também têm. E as pessoas não são assim tantas”, recorda Esmeralda Diogo.
A propósito das preferências dos idosos, Tânia Salvador sublinha a qualidade do serviço da instituição, o que leva os utentes do Centro de Dia, após uma certa reticência, a querem logo ficar… no lar.
“É engraçado porque as pessoas quando vêm, pela primeira vez, para o Centro de Dia vêm sempre com uma recusa enorme, mas passados dois meses já não querem ir para casa ao fim do dia e já só pedem uma vaga no lar”, sustenta, explicando: “O nosso Centro de Dia não só acolhe os idosos durante o dia, mas é aqui que a maioria faz a higiene pessoal e ao fim do dia já vão de pijama vestido, prontinhos para irem para a cama”.
E tal acontece desta forma, porque “as pessoas têm muita necessidade de apoio, há muitas que não têm retaguarda familiar e as condições das casas não são as melhores até pelas condições climatéricas”, acrescenta a presidente da instituição.
E como seria a Vermiosa sem a Associação?
“Não sei… Metade das pessoas, se calhar, já cá não estava. Não haveria emprego, porque 13 das funcionárias são da Vermiosa e nós somos o maior empregador da freguesia. Nem imagino a Vermiosa sem a Associação”, afirma Esmeralda Diogo, ao que Tânia Salvador acrescenta: “Estaria ainda mais desertificada, porque há muita gente que ainda cá vem para visitar os familiares e, se eles já cá não estivessem, já não viriam. E as pessoas teriam que ir para lares de outras aldeias, sendo que toda a vida viveram aqui e isso seria ainda mais stressante. Ao nível das crianças seria a mesma coisa”.

Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2020-02-06



















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