ESTRUTURAS RESIDENCIAIS PARA IDOSOS

E, de repente, tudo mudou…

Com o encerramento das respostas sociais para a Infância, logo a 16 de março, tal como dos centros de dia, centros de convívio e outras valências que implicassem a mobilidade de utentes entre o exterior e o interior dos equipamentos sociais, as IPSS tiveram que redobrar esforços nas respostas residenciais.
“Esta é uma experiência que nos afeta e que se sente pela alteração da forma de vida. A inter-relação pessoal e profissional diária do Lar e Núcleo de Convívio e Partilha/Centro de Dia caracterizava-se por um termo usado e que aprendemos a perceber: «Sempre em Festa»”, começa por referir Luís Figueiredo, presidente da Associação Casapiana de Solidariedade, acrescentando: “De repente, quase tudo mudou, sem que fosse percetível para todos, mas os bailes pararam, os gestos afetivos passaram a ser mais distantes, , os passeios pela cidade foram interrompidos e as idas ao teatro, cinema e ao circo foram canceladas. Depois, as visitas de familiares e amigos passaram a ser menos frequentes e mais curtas”.
E não demorou muito a que também estas fossem suspensas, com a “tecnologia, não desconhecida de todos, a entrar pela casa dentro”, passando o novo normal a serem a videochamadas.
Logo de início, a Direção apercebeu-se “da dificuldade de se tomarem decisões impopulares e de difícil compreensão e aceitação”, mas a necessidade assim o exigia.
Iniciou-se logo a compra de EPI, higiene e limpeza para dois meses, triplicando o stock”, realizaram-se “ações de esclarecimento a todos os funcionários, alertando-os e sensibilizando-os para a importância dos cuidados a ter no ambiente do Lar e nas suas próprias casas incluindo com as suas próprias famílias e agregados.
Em termos de orgânica, “segmentaram-se os residentes e cuidadores em três grupos por três andares diferentes, de acordo com o estado de saúde e o grau de autonomia e mobilidade dos utentes”, ao passo que os frequentadores do Centro de Dia passaram a utentes do apoio domiciliário.
Foi ativado o espelho na reestruturação dos turnos da totalidade do pessoal, resultando 14 dias de serviço com dois turnos de 12 horas por dia e 14 dias em quarentena social em casa, entre outras medidas tomadas para mitigar a entrada do vírus na instituição. Por outro lado, quatro utentes foram colocados em isolamento, por segurança, motivado pelas idas frequentes ao exterior para sessões de hemodiálise e idas ao hospital.
Em todo este processo, que até ao fim de abril registava zero casos, “a maior dificuldade foi realmente lidar com o medo e estabelecer um clima de confiança na instituição que combata o permanente dia a dia de notícias alarmantes, mesmo que algumas reais, que fazem crer que os lares são todos uma desgraça, que vão ser todos afetados e que vai toda a gente morrer”, lamenta, Luís Figueiredo, que destaca ainda outra nuvem negra: “Depois temos as questões financeiras relacionadas com aumento brutal de gastos e a perda de receitas significativas provenientes de alugueres de espaços. Afinal a sustentabilidade por que tanto lutamos parece ir toda «por água abaixo»”.
Situação muito mais difícil e complicada viveu-se no Lar de S. José, pertença do Património dos Pobres, de Ílhavo, onde há a lamentar 12 falecimentos.
No entanto, como diz o povo, depois da tempestade vem a bonança, e após testes realizados a todos os 54 utentes e equipa de funcionários, no dia 24 de abril, é caso para dizer que a liberdade chegou para a instituição ilhavense. Em especial, para quatro trabalhadores, entre os quais o diretor-técnico, que durante quatro semanas asseguraram todos os serviços aos 30 utentes infetados que ficaram no Lar de S. José. É que para além dos utentes a dois de março 15 funcionários testaram positivo, entrando em quarentena.
No entanto, “o pior já passou, e após os testes de 24 de abril, apenas quatro utentes testaram positivo, “permanecendo no lar, isolados dos restantes 37”, permanecendo um ainda no hospital. Entre os trabalhadores já só dois deram positivo.
No entender de Paulo Edgar, apesar de a instituição ter implementado o plano de contingência na mesma altura que as outras instituições e o cancelamento das visitas, “o lar é um lugar de afetos e onde há muito contacto físico entre todos, as mesas de refeição são de quatro, pelo que o contágio é fácil”.
O primeiro problema surgiu a 12 de março e a partir daí foi uma bola de neve… de emoções fortes.
No período mais crítico, os voluntários não quiseram ir para o lar apoiar os idosos infetados, ficando-se por ajudar com os 10 não-infetados que foram transferidos para uma pensão local.
“Agora já se conseguem voluntários e temos também aí algumas pessoas da bolsa do IEFP, a quem temos que pagar a bolsa”, refere o diretor-geral do Lar de S. José, que recorda a tempestade que a instituição viveu: “Os óbitos foram momentos dramáticos. As auxiliares de ação direta, que as pessoas pensam que só lavam e mudam fraldas aos idosos, saíram dali destroçadas, porque são elas que lidam todos os dias com eles e lhes dão carinho e afeto. Quando saíram ao fim de quatro semanas, os trabalhadores estavam visivelmente afetados, porque foi muito violento”.
Paulo Edgar sublinha a solidariedade da população e o empenho das autoridades.
“Como não havia EPI no mercado, a Câmara Municipal e a Segurança Social arranjou algum, recorremos à população, que foi inexcedível, pois foi muito solidária”, destaca.
Já sobre a abertura do lar, o responsável é perentório: “Ainda não temos condições para pensar nisso. Em maio vamos trabalhar em espelho para garantir a segurança e esperemos que seja um mês de acalmia e de rotina… sem visitas”.

Pedro Vasco Oliveira (texto)

 

Data de introdução: 2020-05-06



















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