UDIPSS BEJA

Pandemia foi veículo de divulgação da existência da União Distrital

Até 2019 era o único distrito do país que não tinha União Distrital das IPSS. Entretanto, foi criada uma Comissão Instaladora, composta por cinco instituições, que tem funcionado a partir da Cáritas Diocesana de Beja.
A pandemia Covid-19 atrasou o processo de constituição da UDIPSS Beja, mas não parou o processo. Registada e legalmente instituída, a União Distrital, liderada pela Comissão Instaladora, presidida por Vítor Igreja, prepara o ato eleitoral de onde sairão os primeiros órgãos sociais, mas teve já um papel fundamental na defesa das instituições do distrito face ao ataque do novo coronavírus.
Nuno Farinha, representante da Cáritas na Comissão Instaladora, tem sido o elo de ligação às associadas da CNIS, e sublinha a notoriedade que a recém-nascida UDIPSS Beja granjeou durante o confinamento a que a Covid-19 obrigou.
“O que propusemos à CNIS é que, sendo uma organização nova e ainda nem todas instituições do distrito conhecem a existência da União, na próxima vinda a Beja para a explicação do Acordo de Cooperação, a que acorrem sempre mais instituições, então que fosse explicado o que pretendemos. Esse é o momento ideal para nos darmos a conhecer e lançar o ato eleitoral. Só que, entretanto, apareceu a Covid e isso não foi possível fazer”, explica Nuno Farinha, que acrescenta: “Apesar disso e de acordo com o fornecimento dos EPI enviados pela CNIS, a nossa ação tem sido mais conhecida e as pessoas já vão tendo noção de que existe uma União e, dentro de pouco tempo, virão participar na eleição, logo que seja possível”.
Dado a conhecer o processo eleitoral, espera-se a constituição de listas candidatas aos órgãos sociais, uma das quais será, certamente, saída da atual Comissão Instaladora.
Abrangendo um vasto território, no distrito de Beja há, atualmente, 60 IPSS filiadas na CNIS.
“Se a União fizer um bom trabalho, as que ainda não são, e que serão cerca de outras tantas, certamente entrarão também neste processo. Tudo passará pelo trabalho dos órgãos sociais eleitos e da vontade que estes tiverem em cativar essas IPSS que ainda não são associadas, oferecendo-lhes aquilo que elas precisam. É isso que elas querem, ou seja, cooperação, apoio jurídico e técnico, o que a CNIS fornece neste momento. No entanto, este apoio é diferente quando prestado do Porto ou prestado aqui na região”, refere Vítor Igreja.

SOLIDARIEDADE - Como tem sido o processo desde a primeira reunião da qual saiu a Comissão Instaladora?

Nuno Farinha - Logo nessa altura, começámos a reunir com alguma frequência para tratar de diversos assuntos. Os primeiros meses foram dedicados às questões mais burocráticas, mas depois fomos confrontados com esta situação da Covid. De início, começámos por contactar as instituições para perceber exatamente o que se estava a passar. Contactámos as instituições para lhes dizermos que já existíamos, para fornecer contactos e, de seguida, já em pandemia, o Centro Distrital da Segurança Social de Beja (CDSSB) pediu um interlocutor distrital e, então, integrámos o grupo de trabalho para partilharmos os problemas das instituições. E foi nessa altura que passámos a ter um contacto direto com as instituições quase diariamente. E a primeira tarefa, perante a grande necessidade de EPI revelada pelas instituições, foi tentar arranjar EPI. Conseguimos alguns junto do CDSSB e, depois, os municípios também apoiaram muito nesta matéria. Neste processo servimos de interlocutor. Quando começaram a chegar os EPI enviados pela CNIS, as instituições tiveram uma boa reação, porque não estavam habituadas”.

Então, pode dizer-se que estes tempos de pandemia, que temos vivido, vieram mostrar que a existência da UDIPSS faz todo o sentido?

Nuno Farinha - As instituições reiteram, precisamente, isso. Há, de facto, uma lacuna neste território, porque as instituições de Beja quando precisavam de alguma informação o que faziam era comunicar com o padre Reis que reencaminhava as questões para a CNIS. No entanto, em termos de acompanhamento técnico, formação, divulgação de iniciativas que aconteçam no território não há nada. Quando uma instituição de Beja quer formação tem que ir a Évora. Só que o distrito de Beja vai até ao Algarve e até ao mar, pelo quem quiser ir a Évora faz, pelo menos, 150 quilómetros. As instituições até são poucas por quilómetro quadrado, mas o território é gigante. Haver uma estrutura intermédia no terreno que permita fazer passar a informação das instituições para o CDSSB ou para a CNIS e também para fazer pressão é essencial.

Vítor Igreja - Estamos a falar do que é mais utilitário, mas o que considero ser mais relevante e que constitui o maior desafio é o que há para fazer para além disso. A primeira dificuldade em qualquer equipa que se constitua é a da disponibilidade para trabalhar todos os dias nisto e criar essa equipa é um desafio grande, porque os dirigentes já estão sobrecarregados com as suas instituições e a disponibilidade para desempenhar outra função nem sempre existe. O queremos fazer é criar uma equipa que esteja à altura das solicitações. Depois temos outros problemas, como a distância entre as nossas instituições e ainda as especificidades distritais que implica lutar muito para se conseguir fazer alguma coisa. Refiro-me, por exemplo, ao elevado desemprego e aos baixos rendimentos da maioria das famílias do distrito o que, em termos de comparticipação familiar, é um problema para as instituições. A receita não é suficiente para suportarmos os aumentos salariais dos trabalhadores e todas as despesas de funcionamento. Os rendimentos no distrito de Beja são muito baixos, pelo que é necessário esclarecer quem negoceia, no caso a CNIS, que Beja tem uma situação muito particular. E para conseguirmos prestar um bom serviço, o que a Segurança Social apoia não é suficiente. Estas situações específicas do distrito podem levar a que a União tenha um papel preponderante no encontrar de novas soluções para resolver estas dificuldades. Quero ainda relevar o papel da CNIS e do engenheiro Macário Correia que têm sido incansáveis em tentar que União vá para a frente, pois não faz sentido que este seja o único distrito a não ter essa estrutura intermédia. A CNIS tem-nos dado apoio efetivo, agora o resto cabe-nos a nós. Resta-nos eleger os órgãos sociais e depois justificar a existência da UDIPSS e trabalhar para a coisa funcionar.

Nuno Farinha - Agora temos um grande desafio à nossa frente. Já recebemos a solidariedade dos nossos vizinhos, principalmente de Évora e Setúbal, disponibilizando-se para apoiar em tudo o que precisássemos. E esta é uma ajuda preciosa porque eles têm anos de avanço em relação a nós.

 

Data de introdução: 2020-09-10



















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