1. Está completado um ano de uma Pandemia provocada por um vírus invisível e silencioso…
Precisamente no dia 2 de março, eram identificadas as duas primeiras pessoas infetadas com o Covid-19. Na mesma semana, no dia 6 foi detetado um primeiro surto num Lar e imediatamente foi decretada a suspensão de visitas aos Lares (de Idosos e Residenciais) e estruturas similares.
Entre Lares do Sector Social Solidário (CNIS, Confederação Cooperativa Portuguesa, União das Misericórdias e União das Mutualidades - 1.500), Lares lucrativos e Lares não legalizados, haverá cerca de 3.500 Lares em Portugal, onde residem cerca de 150.000 pessoas. De Instituições associadas da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade serão cerca de 900 Lares – todos legalizados, evidentemente.
Os surtos sucederam-se ao longo ano. Por vezes intensamente. Provavelmente o pico terá sido atingido por volta do dia 12 de fevereiro, quando em todo este conjunto de Lares havia 383 surtos ativos e cerca de 9.000 utentes e 3.780 trabalhadores positivos. No princípio deste mês de março restavam 265 surtos ativos, com 4.960 utentes e 1.648 trabalhadores positivos.
Ao longo destes 12 meses, houve 4.548 óbitos em Lares com Covid-19: cerca de 27% do conjunto de óbitos.
Chora-se um óbito e sofre-se com um doente. Comparativamente, porém, Portugal está melhor que o Reino Unido (33%), (França 42%), Espanha (44%) e a generalidade dos países europeus.
Também por aqui se confirma a validade do modelo português de proteção social…
2. Os professores Filipe Pinto e Filipe Martins, da UCP-Porto (Ates - Área Transversal da Economia Social), fizeram um estudo sobre o impacto da pandemia de Covid-19 nas IPSS e seus utentes. O estudo abrangeu 329 IPSS de todo o país e de diferentes formas jurídicas, que se disponibilizaram a responder a um inquérito on-line, durante os meses de junho e julho.
Os dados obtidos permitiram uma caraterização descritiva desta situação e também perceber as necessidades, os desafios e histórias de superação destas Instituições.
De uma forma científica e isenta os dados obtidos vieram asseverar a perceção existente.
Destacam-se algumas considerações finais:
- Como é sabido, a pandemia afetou e afeta particularmente as populações socialmente vulneráveis e com saúde mais frágil - é neste universo que as IPSS atuam - depararam-se com desafios diversos, complexos e que exigiram resposta pronta. As IPSS demonstraram capacidade de reação e atuaram com rapidez, num cenário de grande confusão e incerteza, adaptaram-se e mobilizaram recursos endógenos e exógenos que se traduziram em respostas flexíveis e criativas.
- A proximidade que têm com os territórios em que se inserem, com os utentes, com as suas famílias e com a comunidade envolvente, permitiu-lhes um conhecimento a partir de dentro, intervindo desde a primeira hora em vários domínios, os cuidados de saúde quotidianos, o isolamento, a segurança alimentar e os desafios associados à iliteracia digital.
- As IPSS demonstraram sentido de missão e compromisso solidário e atuaram muitas vezes para além dos serviços que prestam habitualmente para minorar ou suprir as necessidades das populações. Os seus recursos humanos mantiveram-se na linha da frente, com dedicação extraordinária, desgaste físico e emocional, até, risco de contágio para si e para as suas famílias.
- A fragilidade económico-financeira destas instituições ficou agravada pela diminuição das suas receitas e pelo aumento dos custos decorrentes da crise pandémica.
- A pandemia fez emergir um novo sentido de colaboração entre IPSS, que se manifestou na partilha de boas práticas, aprendizagem entre pares e suporte mútuo. A cooperação com autarquias foi visível em muitos territórios e a articulação com as unidades de saúde locais foi essencial.
- Uma interrogação: se o papel das IPSS na recuperação e planeamento futuro de emergência e saúde publica será reconhecido, uma vez que não parece ser possível uma estratégia eficaz de saúde publica sem saúde social.
- A pandemia provocou um impulso no sentido de soluções da iniciativa da comunidade e de colaboração com as IPSS.
3. No dia em que se completava um ano de Pandemia, a Comissão Permanente do Sector Social Solidário (Governo com CNIS, CONFECOOP, UM e UMP), que reuniu semanalmente para se reinventar e proteger a população mais frágil, concluía:
- Graças aos 230 mil testes já realizados, conseguiu-se prevenir mais de 800 surtos.
- Com o empenho de todos, introduziram-se novas metodologias de trabalho, como as equipas em espelho, para garantir o máximo de segurança aos utentes.
- A Segurança Social distribuiu mais de um milhão de equipamentos de proteção individual aos Lares. Graças ao programa MAREESS, foi aprovada a colocação de mais de 17 mil pessoas nestas estruturas.
- Centenas de voluntários por todo o país disseram “presente” para ajudarem nas tarefas essenciais, o que permitiu aliviar a pressão nos momentos mais difíceis.
- As Brigadas de Intervenção Rápida atuaram nos momentos de emergência e foram mobilizadas mais de 500 vezes.
- Com o apoio dos centros académicos de investigação, foi criada uma linha telefónica dedicada aos lares e preparada formação específica para situações de surto.
- O último ano fica marcado por um trabalho de equipa… do Sector Social, da Academia, da Segurança Social, da Cruz Vermelha, do IEFP. Todos juntos, para proteger quem mais precisa.
- Os desafios continuam, mas juntos vamos superá-los.
Data de introdução: 2021-03-10