EUGÉNIO FONSECA, PRES. CONF. PORTUGUESA DO VOLUNTARIADO

De Glasgow até às IPSS

Em Glasgow, na Escócia, de 31 de outubro a 12 de novembro, cerca de duas centenas de líderes e representantes estiveram reunidos, essencialmente, para verem como dar continuidade à concretização do Acordo Climático de Paris, de 2015.  Efetivamente, as designadas "Cúpulas do clima, as COPs - também conhecidas como a Conferência das Partes - com esta já é a 26.ª edição que realizam e nada do que acordam põem em prática. Alguns países, cinicamente, nessas grandes cimeiras afirmam as suas concordâncias com os compromissos estabelecidos e, depois, não só os não respeitam como até tomam medidas que agravam ainda mais os graves danos que reconheceram nesses encontros, estarem a causar ao nosso planeta.

Por terem sido constantes as faltas de respeito da maioria dos países pelos compromissos assumidos é que existe muita desconfiança e ceticismo no mundo sobre estas Conferências. Basta ver as grandes manifestações organizadas por movimentos ecologistas, nos quais se incluem os do nosso país, para pressionarem os decisores políticos a respeitarem as decisões que são assumidas e a irem mais longe nas medidas a tomar, porque “ontem já era tarde”, tendo em conta as gravíssimas consequências das nefastas alterações climáticas que já se evidenciam em todo o mundo. Como disse a nossa querida poetisa e humanista Sophia de Mello Breyner Andresen “Vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar”, e, acrescento eu, que a continuar-se por este caminho se irá destruindo em pedaços a Terra. É um assunto tão sério que levou o Papa Francisco a escrever a Carta Encíclica Laudato Si’ (LS) que veio a revelar-se o melhor e mais sério documento escrito, até hoje, sobre ecologia e que ele batizou por “O Cuidado da Casa Comum”. Diz Francisco no n.º 46 dessa Encíclica: «Entre os componentes sociais da mudança global, incluem-se os efeitos laborais de algumas inovações tecnológicas, a exclusão social, a desigualdade no fornecimento e consumo da energia e doutros serviços, a fragmentação social, o aumento da violência e o aparecimento de novas formas de agressividade social, o narcotráfico e o consumo crescente de drogas entre os mais jovens, a perda de identidade. São alguns sinais, entre outros, que mostram como o crescimento nos últimos dois séculos não significou, em todos os seus aspetos, um verdadeiro progresso integral e uma melhoria da qualidade de vida. Alguns destes sinais são ao mesmo tempo sintomas duma verdadeira degradação social, duma silenciosa rutura dos vínculos de integração e comunhão social.»

Dada a sua importância e evidência clara de que este é um drama mundial e que a todos diz respeito, realço a realização de um encontro sobre “Fé em Ação pela Justiça Climática” reuniu grupos de todo o mundo em oração pela “Criação de Deus”. Reuniram, assim como uma aliança global, mais de 145 igrejas e organizações que trabalham em mais de 120 países. É este amplo dinamismo que leva o “Movimento “Laudato Si’” a evidenciar que é, cada vez maior, “o apelo” dos líderes religiosos “por uma ação corajosa”. O próprio Papa e vários dos principais responsáveis religiosos mundiais, em 4 de outubro, no Vaticano, subscreveram um apelo comum para que parassem todas as ações que têm criado as prejudiciais alterações climáticas.

Não pode ser de outra forma. Todas e todos, a nível individual e coletivo, têm que assumir as responsabilidades condizentes com as capacidades e possibilidades de cada cidadã, cidadão e organização, porque «o tema da degradação ambiental põe em questão os comportamentos de cada um de nós.» (LS 206). Mesmo pequenas alterações de procedimentos ou promoção de simples ações de sensibilização, podem fazer a diferença. O que está em causa é o cumprimento de obrigações éticas e uma das maiores é a solidariedade, ou seja, a consciência que se tem da responsabilidade que devemos sentir uns pelos outros. Assim, As Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) nas suas múltiplas formas não podem dizer: “que temos nós a ver com isto”? Deixo algumas possibilidades de intervenção, sem as esgotar, podendo as nossas IPSS inventarem outras. Para além de algumas ideias pessoais, socorro-me, também, das propostas de Francisco contidas na LS. São apenas simples sugestões:

  1. Adaptar todos os equipamentos às exigências que se colocam para o melhor

e mais eficiente aproveitamento das energias naturais. A correta utilização da luz artificial, não deixando lâmpadas acesas sem ser necessário; a opção por lâmpadas LED; e se houver condições, a utilização de painéis solares para se ter acesso direto a energia e até poder vendê-la a terceiros;

  1. Optar por materiais reutilizáveis, seja nos produtos e equipamentos, como até

nos materiais para efetuar atividades com os utentes. Sei que esta já é uma preocupação da maioria das nossas IPSS, mas seria conveniente criar ações mobilizadoras dos que são cuidados pelas instituições, para que tenham as mesmas preocupações nas suas casas, e no caso das crianças, influenciando os próprios pais;

  1.  Investir na sensibilização para novos estilos de vida, onde imperassem critérios de responsabilidade na utilização de bens, para se evitar tanto desperdício e na não optação por aqueles que são supérfluos, pois «quanto mais vazio está o coração da pessoa, tanto mais necessita de objetos para comprar, possuir e consumir.» (LS 204);
  2.  Aderir à “Rede Cuidar da Casa Comum” e participar nas suas atividades.

 Ver https://casacomum.pt/a-rede/;

  1. Ler, quem ainda o não fez, a LS. É uma falha imperdoável não o fazer. Serve

para crentes e para os que o não são.

Ninguém se iluda. Colaboremos todos ou os nossos vindouros perecerão.

 

Data de introdução: 2021-11-10



















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