PRESIDENTE DA CNIS E AS NEGOCIAÇÕES COM O GOVERNO PARA A ADENDA 2022

Talvez seja necessário dar um grito de alerta

“Talvez seja mesmo necessário dar um grito de alerta”. O presidente da CNIS reagia, assim, ao desafio lançado por Rui Reis, presidente da UDIPSS Guarda, e por Jorge Gomes, também elemento da União Distrital guardense, durante a reunião entre a Direção da Confederação e os órgãos sociais das Uniões Distritais da zona centro, que decorreu na cidade mais alta de Portugal.
“Não quero deixar-vos apreensivos, mas eu estou muito apreensivo e, penso, que vai ser necessário dar um grito de alerta, como referiu o presidente da União da Guarda”, afirmou o padre Lino Maia, avançando com algumas preocupações em função do que ouviu no recente VI Congresso da CNIS, realizado em Viseu, em especial o que foi dito pela secretária de Estado da Inclusão, Ana Sofia Mendes: “Houve no Congresso algumas notas que me deixaram preocupado. Desde logo, a que caminhamos para a comparticipação de 50% no período de 10 anos. Apesar de o Pacto nada dizer sobre isto, o primeiro-ministro já afirmou que seria ao longo da legislatura. O Pacto tem um período de vigência de 10 anos, pelo que foi a primeira vez que ouvi aquilo. Senti-me defraudado, após aquela afirmação da sra. Secretária de Estado”.
Mas não foi isto apenas que deixou o líder da CNIS “muito apreensivo”, pois também durante o Congresso foi afirmado que “os direitos sociais são apenas os que estão inscritos na Constituição”, ou seja, são apenas “a escola pública e o Serviço Nacional de Saúde”.
Assim, “aquilo que as IPSS fazem, apoio social à infância, terceira idade, pessoas com deficiência e famílias em geral, apesar de ser serviço social e serviço público, não são considerados direitos sociais universais”, recordou o padre Lino Maia, deixando um alerta: “Suspeito que assim se caminhe para a mercantilização do que fazemos. As IPSS estão a ser asfixiadas e estão a empurrar-nos para os utentes que podem pagar e não para apoiar os mais carenciados. Temo que este discurso seja uma realidade”.
Na reunião com as Uniões Distritais da Guarda, Viseu, Castelo Branco, Leiria e Coimbra (Aveiro não marcou presença por impedimento de força maior), o problema da sustentabilidade, à semelhança das outras reuniões com UDIPSS de outras regiões, é o que mais preocupa os dirigentes, uma vez que se continuam a vislumbrar nuvens muito negras no horizonte. A este propósito  quando se está a poucos dias do início previsto para a negociação da Adenda 2022 ao Compromisso de Cooperação para o Sector Social Solidário 21/22, o padre Lino Maia foi perentório, considerando a matéria a negociar mais “premente é a atualização dos acordos de cooperação”.
“Não aceitaremos uma atualização que não cubra o valor da inflação, o brutal aumento de custos a que assistimos e ao cumprimento do que está no Pacto de Cooperação”, asseverou, alertando: “Temo muito, aliás, muitíssimo que as negociações sejam muito difíceis e que teremos mesmo que dizer basta!”.
O padre Lino Maia frisou ainda que, normalmente, o valor da inflação que conta para a atualização dos acordos de cooperação diz respeito ao ano anterior ao das negociações. No entanto, até 2021 a inflação pouco ou nada variava de um ano para o outro, sendo que, este ano, a inflação está galopante, encontrando-se já acima de 8%, que no ano passado a inflação média foi de 1,3%.
“Este ano não pode ser como costuma ser e temo que, talvez, seja necessário dar um grito de alerta”, afirmou.
O presidente da CNIS lembrou ainda que quando o Pacto de Cooperação fala na comparticipação equitativa é sabido que há respostas sociais, como o CATL e o Centro de Dia, que estão nos 20% e outras da área da deficiência que estão acima dos 50%.
“Esta compensação vai ser complicada de fazer, pois temo que queiram compensar umas com as outras e isso é inaceitável”, sublinhou, acrescentando: “A questão da sustentabilidade não se põe de igual modo em todas as valências. É preciso dar passos largos para equilibrar as valências que ainda estão abaixo dos 38%, que é a média atual. O grande problema da sustentabilidade põe-se, essencialmente, na área dos idosos. Apostou-se, e bem, na qualidade, mas os nossos idosos chegam aos Centro de Dia e às ERPI (Estrutura Residencial Para Idosos) muito vulneráveis e isso tem custos”.
A dias de se iniciarem as negociações entre o Sector Social Solidário e o Governo para a atualização da cooperação, o presidente da CNIS reafirma o seu “maior receio”: “É que sejamos atirados para a mercantilização”. 

Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2022-06-22



















editorial

O COMPROMISSO DE COOPERAÇÃO: SAÚDE

De acordo com o previsto no Compromisso de Cooperação para o Setor Social e Solidário, o Ministério da Saúde “garante que os profissionais de saúde dos agrupamentos de centros de saúde asseguram a...

Não há inqueritos válidos.

opinião

EUGÉNIO FONSECA

Imigração e desenvolvimento
As migrações não são um fenómeno novo na história global, assim como na do nosso país, desde os seus primórdios. Nem sequer se trata de uma realidade...

opinião

PAULO PEDROSO, SOCIÓLOGO, EX-MINISTRO DO TRABALHO E SOLIDARIEDADE

Portugal está sem Estratégia para a Integração da Comunidade Cigana
No mês de junho Portugal foi visitado por uma delegação da Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância do Conselho da Europa, que se debruçou, sobre a...