O Solidariedade esteve no Patronato de S. Sebastião, em Guimarães, há 11 anos, celebrava a instituição 50 anos de apoio à infância, cuja grande ambição era construir um equipamento de raiz, no centro da cidade e, assim, também poder agregar outras respostas sociais. Esta opção não foi possível de concretizar, tendo a solução sido a requalificação do edifício sito no Centro Histórico de Guimarães - Património da Humanidade.
“A requalificação do edifício era necessária para uma melhor resposta da nossa parte e para correspondermos às exigências dos ministérios da Educação e da Segurança Social. Esta casa precisava de ser requalificada, remodelada e de ser redimensionada de acordo com as regras”, começa por referir o padre José Antunes, lembrando as dificuldades que a localização da instituição implicaram.
“No Centro Histórico de Guimarães as regras são para se cumprir. Teria sido mais fácil deitar a casa abaixo e reconstruir de raiz, seria até muito mais barato, mas foi algo que o Gabinete do Centro Histórico não aceitou. Teve que ser na mesma deitada abaixo, mas mantendo a estrutura do passado. E isso é que onerou e muito a requalificação. Para o engenheiro Paulo Ferreira, das Obras do Instituto da Segurança Social de Braga, diz que esta é das obras modelo que ele fez a nível distrital. Tudo o que os ministérios nos pediram em termos de regras foi feito, cumprimos com tudo. Foi um processo difícil, com reuniões com muita dureza, havia exigências que ultrapassavam o limite do razoável, mas juntámos todas as entidades e tudo se resolveu com as normas que eram para se cumprir”, conta o padre Antunes, considerando que, agora, “temos uma casa discreta, mas onde estamos bem”.
Este foi um processo que se iniciou em 2017, tendo a instituição regressado a casa em 2019. Ora, entre 2017 e 2019, com a casa inativa para as atividades dos petizes, a instituição ponderava encerrar provisoriamente pela falta de solução.
Mas, como quem tem amigos não morre na cadeia, já diz o povo, o padre Antunes lá encontrou uma solução.
“Entretanto… foi obra de Deus! Eu costumo ir à piscina fazer desporto e um dia estava à conversa com um amigo a explicar-lhe que tinha obras no Patronato e não tinha onde pôr as crianças. Então, falei-lhe numa casa que conhecia e que poderia servir para acolher as crianças enquanto decorriam as obras, mas não sabia de quem era. E ele diz-me que a casa é dele! Eu disse-lhe logo que precisava dela durante dois anos! Disse-lhe que queria que o Ministério da Educação e a Segurança Social fossem ver o edifício para, dentro da contingência, sabermos se aceitavam a proposta”, conta o pároco, revelando outra dádiva da amizade: “Depois, ao lado, havia um apartamento de um outro amigo meu e, então, os meninos, transitoriamente, foram para um espaço que já tinha sido em tempos um infantário, que tinha fechado, e durante esse ano e meio as autoridades aceitaram e não tivemos de fechar portas”.
É que a alternativa “era fechar a casa durante ano e meio”! O padre Antunes ainda visitou o antigo Colégio de Nossa Senhora da Conceição, “mas estava tudo velho e a cair”.
Quanto ao financiamento da obra, as tentativas ao PARES e ao Portugal 2020 saíram goradas, pois “não era obra prioritária para esses programas, mais voltados para a deficiência e outra valência”, pelo que a instituição “teve de arranjar financiamento para avançar com a obra e que agora está a pagar”.
A obra teve um custo de 1,5 milhões de euros, com metade do financiamento a 2% e a outra metade a 0%, através do Fundo JESSICA.
“Neste momento, estamos a pagar aquela parte que tem juros a 0%. A outra metade, que é a 2%, com a subida da Euribor, na melhor renda que pagávamos, que era 300 euros por mês, passou para 1.100 euros! Então, a Direção reuniu e decidiu ir às economias da instituição e saldar a dívida dos juros daquela parte. Agora, pagamos uma renda pequena relativa ao Fundo JESSICA”, explica o presidente da instituição.
Atualmente, a creche acolhe 60 crianças, mais 10 do que antes de 2017, o Pré-escolar 75, mais nove, e o ATL, que tinha 12 petizes, encerrou.
“O aumento da área das salas já foi feito com o objetivo de aumentarmos a capacidade. Metade deste edifício era casa paroquial e o pároco fez um acordo de comodato com o Patronato, abdicou de metade do espaço e ficaram apenas dois quartos e uma kitchenette, na parte superior da casa. O padre não precisa de mais”, diz o pároco José Antunes.
Quando o Solidariedade passou a primeira vez pelo Patronato, o padre Antunes dizia que aquela era uma casa “era cheia e bonita”.
“Continua a ser assim e a nossa casa prima por ter uma missão de que não abdica, continua a ser um espaço em que os pais confiam nas pessoas que aqui trabalham. Por isso, é uma casa cheia e feliz”.
Há 11 anos, o sonho passava por abrir um SAD e, caso conseguissem um edifício de raiz, abrir um Centro de Dia e, eventualmente, um lar para idosos.
“Esses sonhos continuam presentes, mas não dependem só de mim”, atira, de pronto, o padre Antunes, explicando: “Em relação ao SAD, na altura colaborávamos com uma outra IPSS que conseguiu autonomizar-se e que prossegue esse trabalho. O sonho que mantenho é de abrir um lar aqui na cidade. Fazer um lar no meio do nada, não é saudável. Um lar deve ser feito no local onde as pessoas vivem e assim, tendo mobilidade, poderem estar junto dos seus”.
A ideia do padre Antunes “era usar o antigo Convento das Dominicanas, aqui a 50 metros, que era pertença da Igreja, mas agora não se sabe de quem aquilo é, para criar ali um lar”.
No entanto, o espaço, que já foi da Igreja, agora está a degradar-se e seu uso nenhum.
“Esse sonho do lar está um pouco no limbo. Comprar um imóvel aqui é impossível, porque está tudo caríssimo”, remata.
E como está, então, a saúde financeira do Patronato?
“Está razoável”, sustenta o padre Antunes, especificando: “Temos tido resultados positivos, porque também temos amigos que nos dão fruta e outras coisas e vamos tentando fazer esta gestão organizada. Financeiramente não estamos no fio da navalha. Fazemos uma boa gestão e conseguimos estar equilibrados. Estamos, mais ou menos, bem, mas há colegas meus de outras IPSS que enfrentam situações graves”.
Sendo a infância a área de ação do Patronato, a Creche Feliz entrou-lhe pela casa dentro.
“É uma grande mais-valia para as famílias, independentemente de terem rendimentos mais baixos ou mais altos. Depois, promove a natalidade, porque as famílias sentem-se mais confortáveis”, começa por dizer o padre Antunes, fazendo, porém, uma ressalva: “O Governo não viu bem o problema, pois, por exemplo, há pais que não trabalham e são as suas crianças as prioritárias na admissão e um casal que é trabalhador e não tem onde deixar os filhos não tem prioridade no acesso em relação aos que não trabalham e podiam ficar com os filhos em casa. A intenção é boa, mas esta questão das prioridades não está muito certa”.
Atualmente, a menina dos olhos do Patronato é o jardim sensorial, um projeto concretizado ao longo do último ano letivo.
“Um dos grandes estímulos que podemos dar a crianças destas idades é pô-los em contacto com incentivos exteriores que desenvolvam os sentidos”, começa por dizer a coordenadora pedagógica, Ana Baptista, que recordou o processo: “No início deste ano, quando assumi funções, o grande desafio que fiz à equipa educativa foi o da construção do jardim sensorial. E este apelo/sonho/vontade foi também feito aos pais, que são os nossos grandes parceiros. E foi nesta colaboração que conseguimos transformar o sonho em realidade”.
O jardim sensorial explora os cinco sentidos e é feito numa espécie de circuito e adaptado tanto à valência creche, como ao Pré-escolar. Todas as crianças podem usufruir do espaço adaptado à sua faixa etária, fazendo uma exploração gradual.
“Outra grande vantagem deste jardim é o contacto com a natureza. A equipa aceitou o desafio, houve uma mãe arquiteta que, segundo as nossas indicações, desenhou o projeto e depois os pais, juntamente connosco, meteram mãos à obra para fazer nascer o jardim sensorial. Demorou seis sábados e alguns finais do dia. Foi um projeto gratuito para a instituição, porque todos os materiais foram trazidos pelos pais ou nós tínhamos”, sublinha, com satisfação, Ana Baptista.
Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)
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