CENTRO DE BEM-ESTAR SOCIAL DA FREGUESIA DE URRA, PORTALEGRE

O Infantário de Urra quer crescer mas esbarra no obstáculo do financiamento

O Centro de Bem-Estar Social da Freguesia de Urra iniciou atividade em 1989, e fica sedeada em S. Tiago, freguesia de Urra, às portas da sede de concelho, a cidade de Portalegre.
Com resposta apenas à infância, e apesar de funcionar há 34 anos, o Infantário, como é conhecido na região, não consegue crescer mais do que as atuais 64 vagas em creche e Pré-escolar.
“O edifício onde desenvolvemos a missão não é propriedade da instituição, mas sim da Junta de Freguesia de Urra, com quem temos um contrato de comodato. Esta é uma situação que nos dificulta muito a vida em termos de investimentos. Esta é uma luta que as Direções têm tido, em especial as duas últimas, para que o edifício seja da instituição, uma vez que isto funciona e dá trabalho a muita gente”, argumenta Élia Correia, tesoureira da Direção.
Quando iniciou atividade, a instituição acolhia apenas 20 crianças, mas “a instituição tem crescido e dá apoio não só a pais residentes na freguesia, mas também de freguesias vizinhas”, revela Élia Correia, que avança uma das mais-valias que a instituição apresenta aos pais: “Este Infantário tem uma coisa que nós pais gostamos muito, funciona das 7h00 às 19h00, o que ajuda bastante e facilita, e muito, a vida dos pais. As pessoas trabalham em fábricas e em lares, o trabalho é por turnos, pelo que tem sido uma preocupação da instituição o horário abrangente para ajudar os pais trabalhadores”.
Mas há ainda outra virtude do Infantário que cativa os progenitores.
“A instituição tem cozinha própria, o que é muito do agrado dos pais. Trabalhamos com empresas locais, que nos fornecem os alimentos, o que é uma mais-valia na qualidade do produto. Aliás, essa é uma das questões que os pais colocam logo em primeiro lugar, se a alimentação vem por alguma empresa ou se é confecionada em cozinha própria”, sustenta Paula Martins, diretora-técnica da instituição.
A instituição tem quatro salas, três dedicadas à creche e uma ao Pré-escolar. Em creche estão 44 crianças e 20 em Pré.
Uma característica sublinhada pelas responsáveis da instituição é a fixação de crianças nas escolas da freguesia após frequentarem ali o Pré-escolar.
“Muitas das nossas crianças acabam por entrar nas escolas da freguesia, tanto na de Caia como na de Urra, mesmo que não sejam aqui da freguesia. Há muitos casos de crianças de Portalegre que ficam aqui na escola. Esta é uma freguesia pequena, mas tem duas escolas primárias a funcionar. Isto acontece muito porque, sendo uma freguesia pequena, há um ambiente familiar que os pais gostam”, afirma Élia Correia.
Com a Creche Feliz já com dois anos de implementação, Paula Martins refere que “ainda há crianças que não estão abrangidas e essas são crianças que não estão abrangidas pelos acordos de cooperação”, explicando que das 44 crianças em creche apenas 25 estão abrangidas pela gratuitidade.
“No nosso caso, a Creche Feliz é benéfica para a instituição, porque não tínhamos acordo de cooperação para todos os meninos. Com 44 meninos e apenas 20 acordos e com uma mensalidade máxima de 150 euros, ainda que não tivesse acordo, mesmo pagando a mensalidade máxima, eram 150 euros e nada mais. Agora, chegarem 460 euros é muito melhor”, considera a diretora-técnica.
Sobre a situação financeira da instituição, a tesoureira defende que é “estável”, mas houve grandes dificuldades, que, no entanto, já foram ultrapassadas.
“Ora bem, eu já vi a conta bancária da instituição com apenas três euros! Tem que se respirar fundo, pensar muito bem e trabalhar em equipa. Depois, é preciso dizer não a muita coisa e muita vez. Gostaríamos de fazer melhor por tudo e por todos, mas nem sempre conseguimos e já tivemos situações difíceis. Porém, com muito esforço e fazendo muitas contas vamos conseguindo, mas já tivemos muitos problemas, por exemplo, para pagar subsídios de Natal às funcionárias. Pedimos ajuda à autarquia, que acedeu ao nosso pedido e assim conseguimos resolver a situação. Mas tivemos que pedir e pedir… Com dificuldade, fomos sempre pagando as nossas contas, com paciência dos nossos fornecedores, porque a Segurança Social também não pagava atempadamente. Foi um período difícil que exigiu uma ginástica bastante difícil”, sublinha Élia Correia, que está de saída da Direção, que, normalmente, é composta por pais de crianças que frequentam a instituição.
“Apesar dos três euros na conta, continuámos, fizemos obras nas instalações, apesar de não serem nossas, que pagámos a prestações ao empreiteiro. Um senhor que nos ajudou imenso, porque fizemos obras sem qualquer apoio, nem tão pouco um empréstimo bancário conseguimos, porque a casa não é nossa”, reforça a tesoureira, que diz, com ar de satisfação: “Hoje, ultrapassámos essas situações todas, temos a obra paga, situações ainda por tratar, mas estamos com uma saúde financeira razoável. Está equilibrada, para que tudo possa dar certo, mas é preciso muita ginástica. Quem quer pegar numa IPSS que não tem dinheiro? Ninguém, mas estamos cá nós e outros virão”.
As obras, a que a tesoureira se refere foi para a criação de mais uma sala de creche, que foi feita reduzindo ao espaço exterior da instituição.
Tal como em outros pontos do país, com o lançamento da Creche Feliz, a procura disparou.
“Temos tido muito mais procura, mas não conseguimos receber mais. O problema é que há muito pai e mãe em casa que coloca os filhos na creche. Se pagassem mensalidade não vinham, pelo menos, para já”, afirma Paula Martins, pondo o dedo na ferida: “É injusto, porque há casais a trabalhar e, porque têm rendimentos, não conseguem vaga e outros casais desempregados ficam com as vagas pelos critérios de acesso. E nestes meios pequenos conhecemos as famílias e sabemos das suas situações e, por vezes, é complicado de gerir. Há pais que chegam aqui e dizem que pagam o que for preciso, mas o problema é que não há vaga”.
Construir um equipamento de raiz é “o sonho”, mas o grande entrave é o financiamento, porque sem a propriedade do edifício a instituição não consegue aceder à banca, como muitas outras instituições fazem.

Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2023-10-04



















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