Capacitar para o voluntariado foi o ponto de partida da Pista Mágica, uma instituição sem fins lucrativos, reconhecida como ONGD (Organização Não Governamental para o Desenvolvimento), fundada em 2008, atualmente sedeada em Rio Tinto, Gondomar.
Mas se, há 15 anos, nasceu como escola de voluntariado, “com o propósito de capacitar para um voluntariado mais capaz”, com o decorrer dos anos, “e com as alterações na sociedade, em especial com a pandemia”, os responsáveis pela associação sentir necessidade de alargar a ação da mesma.
“Também era necessário termos voluntários prontos a agir no terreno numa situação de emergência social, por exemplo, como foi o caso da pandemia. Então, começámos também a trabalhar na operacionalização de programas de voluntariado. Isto é, a preparar os voluntários para irem para o terreno”, começa por dizer Isadora Freitas, gestora de capacitação e cooperação, explicando: “A Pista Mágica nasceu para capacitar voluntários e gestores de redes de voluntariado e, desde a pandemia, ajudar as entidades a prepararem os seus programas de voluntariado para os colocarem no terreno, ao que a associação denomina por Fábrica.
No entanto, no ano passado, foi criado um terceiro eixo de ação, “que arrancou no início de 2022, através de projetos com o objetivo de trabalhar a prática do voluntariado como ferramenta de inclusão social de pessoas em situação de vulnerabilidade”.
Assim, para além da Escola e da Fábrica, em 2022 surgia a Oficina de Voluntariado, na qual o voluntariado é utilizado como ferramenta de inclusão social.
É neste âmbito que nasce o projeto-piloto Voluntalento, cujo propósito é combater a exclusão social de pessoas com deficiência.
“O projeto tinha este objetivo e foi trabalhado em dois eixos: um em que trabalhámos diretamente com pessoas com deficiência (leve a moderada); e um outro, a que chamámos de empoderamento das pessoas com deficiência, que trabalhava numa lógica mais sustentável, ou seja, com uma visão maior de futuro. Isto é, o que podemos pensar em termos de políticas públicas para que a inclusão no voluntariado seja uma realidade para todas as pessoas com deficiência em Portugal?”, sustenta Isadora Freitas.
No primeiro eixo de ação do Voluntalento, a Pista Mágica desenvolveu uma metodologia de raiz, denominada Voluntariado Apoiado.
“O que propusemos foi trabalhar, com pequenos grupos, na capacitação dessas pessoas para integração na comunidade sempre com apoio de um técnico”, explica.
A integração dos voluntários decorreu de maio de 2022 a maio de 2023, período durante o qual o trabalho se desenvolveu com três grupos, o que permitiu ir melhorando a metodologia.
“O objetivo era também testar a metodologia aos poucos. Ao longo desse ano fomos alterando algumas coisas pela aprendizagem que íamos retirando do projeto, que era um projeto-piloto”, refere Isadora Freitas, que foi a coordenadora do Voluntalento.
Inicialmente foi feita uma parceria com o Centro de Inclusão Social de Avintes, onde foram recrutados voluntários, que integraram as duas primeiras gerações do projeto.
“Então, a Cercigaia abriu-nos as portas, permitiu-nos trabalhar com um grupo de utentes e, apesar do projeto já ter acabado, eles continuam a fazer atividades de voluntariado. A Cercigaia reconhece as vantagens e indicou em especial a questão da autonomia, um ganho grande para os utentes, que, agora, vão para fora sozinhos fazer voluntariado”, revela a coordenadora do projeto, que revela ainda as outras duas entidades que participaram: projecto Sim Somos Capazes e a Associação Somos Nós.
Já no eixo do empoderamento é onde, entre outras entidades, entra a CNIS.
“Convidámos um conjunto de entidades para integrarem um grupo de trabalho com o objetivo de problematizar questões como: o que é o voluntariado? O que é que existe? O que falta fazer? O que é que está feito e não está tão bem feito e como se pode fazer melhor?”, afirma, explicando o processo de reflexão e os seus resultados: “Integraram o grupo de trabalho 12 entidades e uma ativista pelos direitos das pessoas com deficiência e, ao longo de quatro sessões online, trabalhámos na construção de um documento de recomendações para políticas públicas, que, agora, estamos a fazer chegar a decisores políticos para partilhar algumas das nossas aprendizagens no terreno e o conhecimento que todas estas entidades trouxeram. No fundo, é para dizer que é possível que o voluntariado seja um lugar para todos, mas precisamos de fazer tudo aquilo que está no documento de recomendações”.
Reconhecendo que “é um documento ambicioso, mas que, aos poucos, pode ser implementado”, Isadora Freitas faz um balanço muito positivo do projeto que terminou a 30 de junho de 2023.
“O balanço humano, dado pelos voluntários, é muito positivo. São pessoas que se sentiram excluídas e o voluntariado trouxe-lhes a oportunidade de se sentirem úteis. E também com as entidades, que não estavam habituadas a receber pessoas com esta ou aquela característica e, de repente, por haver aquele técnico de voluntariado apoiado, acabaram por abrir as portas e agora sentem-se confortáveis no acolhimento destas pessoas”, congratula-se a coordenadora do projeto, sublinhando: “Esta é uma metodologia que consideramos vantajosa para as instituições que trabalham na área da deficiência promoverem o voluntariado no seu interior, de preferência em parceria com uma entidade que trabalhe esta área, a fim de fazer a ponte com a comunidade. Aliás, elaborámos um guia que ajuda a implementar e a lançar as bases de algo muito positivo para os utentes”.
Quanto à replicação do projeto, Isadora Freitas indica que na associação perceberam que “esta metodologia pode ser aplicada a diferentes públicos em situação de vulnerabilidade”.
Lembrando que, em paralelo ao Voluntalento, foi desenvolvido um projeto com jovens residentes em bairros sociais ou em casas de acolhimento, em que se fizeram ligeiras alterações, a associação tem, atualmente, um projeto que está a aplicar a metodologia com pessoas com problemas de saúde mental e um outro com pessoas seniores que estão na transição da vida ativa para a reforma.
“O nosso objetivo, agora, é testar com diferentes públicos”, argumenta Isadora Freitas.
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