Quando em 2001, um grupo de 10 alcaçovenses fundou a Associação Terra Mãe tinha um propósito muito bem definido. No entanto, como diz o presidente da instituição do concelho de Viana do Alentejo, João Penetra, “a Associação tinha apenas uma ideia e muita boa-vontade”.
“Esta Associação tinha como objetivo principal criar um Centro de Acolhimento Temporário para jovens. O que se passou é que a Associação apenas tinha uma ideia e boa-vontade, não tinha mais nada. Mas, construir fosse o que fosse, havia o problema de arranjar o dinheiro. Nesse sentido, não foi possível avançar com essa obra”, explica João Penetra.
Apesar do contratempo, a vontade de ajudar a população de Alcáçovas e do resto do concelho era mais forte, o que levou os responsáveis da instituição a abraçar outras respostas.
“A Associação não ficou parada, arranjou duas valências que atualmente ainda mantém. O Serviço de Atendimento e Acompanhamento Social (SAAS), que há cerca de um ano foi municipalizado. Aqui, o município de Viana do Alentejo entendeu que devia ser a Associação Terra Mãe a continuar a fazer o serviço, porque já estava no terreno, tem o know-how e a experiência adquirida que é muito grande. E, passado algum tempo, acolhemos também a Intervenção Precoce, ambas as respostas a nível concelhio”, sustenta o presidente da Associação.
Esta alteração de rumo levou mesmo a instituição a alterar o seu nome, passando de Associação Terra Mãe - Lar e Centro de Acolhimento para Crianças e Jovens para Associação Terra Mãe - Solidariedade e Intervenção Social.
“Como a nossa ideia inicial não avançava e estávamos a fazer outras coisas que não estavam previstas no arranque da instituição era o que fazia mais sentido”, refere João Penetra, dando a conhecer outras respostas que a instituição dá à população de Viana do Alentejo: “Entretanto, começámos a fazer outras intervenções que não estavam contratualizadas com a Segurança Social, como recolhas de sangue para encaminhar para o hospital ou a colaborar com o Banco Alimentar, recolhendo alimentos e depois distribuindo-os pelas pessoas necessitadas. Depois, passámos a ter o PO APMC - Programa Operacional de Apoio às Pessoas Mais Carenciadas, que agora tem outra designação, e que ainda fazemos”.
Para além disto, durante muito tempo, “quando as escolas não estavam tão apetrechadas a nível de psicólogos, eram os nossos técnicos que se deslocavam às escolas do concelho”, lembra, revelando, orgulhosamente, o reconhecimento que a instituição tem da autarquia: “Temos um trabalho interessante no concelho, que levou, há uns 12 anos, a autarquia de Viana a distinguir-nos com a Medalha de Honra Municipal”.
A nível do SAAS, a Associação, desde que promove a valência, já apoiou 572 famílias, tendo no ano de 2023 acompanhado 184 famílias, num total de 433 pessoas. Já ao nível da Equipa Local de Intervenção, no âmbito do SNIPI (Sistema Nacional de Intervenção Precoce na Infância), concretamente no que à Intervenção Precoce na Infância diz respeito, a média de acompanhamentos é de 40, 42 crianças, “apesar do contrato ser só para 30”. Atualmente, a instituição apoia 38 petizes. Já no âmbito do PO APMC, recebem apoio alimentar 30 famílias, num total de 70 pessoas.
Com o projeto inicial de construção de um lar e centro de acolhimento inviabilizado por falta de financiamento, a Associação, até 2012, funcionou numa casa emprestada pela Fábrica da Igreja Paroquial de Alcáçovas. Entretanto, a instituição fez uma candidatura ao PRODER para construção das instalações onde hoje está instalada a sede.
“Estas instalações são uma parte do grande projeto que tínhamos, que incluía o lar e centro de acolhimento para jovens. Desse projeto, apenas construímos esta primeira fase, que é a sede que acolhe os serviços administrativos, técnicos e área de armazenamento. Estas instalações tiveram o financiamento de uma parte pelo PRODER, outra pela Câmara de Viana do Alentejo e outra que nós próprios arranjámos. Esta parte foi conseguida através de muitas iniciativas de angariação de fundos. Essas iniciativas foram essenciais para construir as instalações, mas também para ajudar a instituição viver”, sustenta João Penetra.
“Atualmente, o projeto do Lar já foi refeito, porque a legislação vai sempre sendo alterada, e já temos um outro projeto, apenas projeto de arquitetura, diferente e que está em carteira para o podermos construir”, sublinha o líder da instituição, avançando que o próximo passo depende mais de terceiros: “Ainda não o construímos porque ainda não foi publicitado nenhum concurso de financiamento para este tipo de obra. Isto também vai tudo depender de qual for a vontade política do Estado e parece-me que a aposta já não é tanto na institucionalização das crianças e jovens, mas a sua colocação em famílias de acolhimento. Ora, se assim for, o projeto já fica condicionado, mas se houver, da parte do Estado, a possibilidade de financiamento de uma resposta desta natureza, ou seja, um lar de infância e juventude, a instituição está disponível e pronta para avançar e concretizar o projeto que a fez nascer”.
Enquanto o lar de infância e juventude não avança, a Associação terra Mãe está aberta a receber outras valências, desde que necessárias e ainda não estejam implementadas na sua área de ação.
“O nosso objetivo é cobrir o que ainda não é feito por outras instituições do concelho. Não queremos duplicar respostas, pois isso seria desperdício de recursos. Agora, se surgirem respostas inovadores, nós estamos disponíveis para avançar. Não estamos disponíveis é para fazer concorrência a quem já está no terreno. Queremos ser complementares e não concorrentes”, assevera João Penetra, que sobre a situação financeira da instituição é muito claro: “Estamos bem, não temos dívidas a ninguém. Agora, se me perguntar se temos condições para fazer um investimento, possivelmente não. Na hipótese de abrir um concurso a nível do PRR, seguramente o capital que temos não chegaria para cobrir a parte que nos caberia. Mas também penso que, nessa eventualidade, a Câmara Municipal ajudaria. Financeiramente a instituição está bem, não tem é folga para grandes investimentos”.
Em Alcáçovas, segundo João Penetra, sucede algo que não é muito comum e que o deixa “muito orgulhoso, como alcaçovense”: “Aqui, temos uma tradição muito antiga em que as instituições se entreajudam e cooperam muito umas com as outras. Quando uma precisa de algo e pede ajuda às outras, estas disponibilizam-se de imediato para ajudar”.
E como seria Viana do Alentejo sem a Associação terra Mãe?
“Possivelmente, já teria surgido outra para ocupar este lugar, ou não. Agora, temos um papel muito importante no concelho e não é só em alturas críticas. Há muita família necessitada e nós estamos lá para ajudar, só precisamos de saber onde elas estão. Penso que somos uma mais-valia no concelho para mitigar a pobreza e torná-la menos dolorosa. O concelho de Viana ficaria a perder se não tivesse a Associação Terra Mãe”.
Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)
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