APPACDM VISEU

Aposta na inclusão biunívoca e levar a comunidade ao interior da instituição

Em 1995, quase a completar 20 anos, a APPACDM Viseu trabalhava para 30 utentes, 12 dos quais em formação profissional, enquanto hoje apoia cerca de 1.200 pessoas, 200 nas respostas de Lar Residencial, Centro de atividades e Capacitação para a Inclusão (CACI) e Residência de Autonomização e Inclusão (RAI) e os demais através da Formação Profissional, Centro de Recursos Local, Centro de Recursos para a Inclusão (CRI), Centro Incorpora e, algo inovador e pioneiro, Residência de Emancipação.
“Ao longo dos anos, a APPACDM Viseu tem alargado a sua área de intervenção, não só a pessoas com deficiência ou incapacidade, mas nas escolas, no CRI, na Formação Profissional e noutras situações abrangemos pessoas em vulnerabilidade social e em perigo de exclusão. No total são mais de 1.200 pessoas que a instituição apoia”, revela Pedro Antunes, presidente da APPACDM Viseu, acrescentando que a instituição “é a maior IPSS do distrito”.
A instituição viseense desenvolve a sua atividade, cujo orçamento anual fica perto dos 5,5 milhões de euros, em três equipamentos e que, ainda este ano, passarão a ser quatro.
Em fase de obra, está o novo polo da instituição em Resende, um equipamento com capacidade para 30 utentes em Lar Residencial e a mesma capacidade em CACI, e que deve estar pronto em novembro próximo. A âncora da instituição é na sede, em Viseu, uma quinta de 15 hectares onde tudo começou, há ainda o Estabelecimento Vila Pouca, em Santa Comba Dão, e ainda Estabelecimento Dr. Victor Fontes, que é da Segurança Social, mas de gestão da APPACDM.
Também neste equipamento são necessárias obras, que Pedro Antunes espera que avancem em breve, tal como está previsto: “Está perspetivada uma reconfiguração do edifício, que até seria pioneira em Portugal, que seria uma resposta para pais e filhos em Lar Residencial, mas se a Segurança Social nos passasse isto por comodato por mais uns 20 anos e, assim, a instituição estaria em condições de fazer a obra, com o apoio de um qualquer programa, como, por exemplo, o PARES. Como o estabelecimento não é nosso, não podemos avançar. No entanto, já saiu em Diário da República a autorização para uma obra de cerca de 800 mil euros para adaptar o melhor possível o edifício. Está previsto que o arranque da obra seja este verão”.
O novo projeto da APPACDM Viseu, em Resende, surge tal como surgira o de Santa Comba Dão.
“O Estabelecimento Vila Pouca apareceu da necessidade sentida pelo município de Santa Comba Dão, que nos contactou, porque já tinham 30 pessoas sinalizadas, disponibilizou uma antiga escola primária desativada e perguntou se a APPACDM não queria instalar-se lá. Com uma candidatura ao POPH avançámos e damos resposta às necessidades do concelho”, recorda Emília Dias, diretora de serviços, acrescentando: “Em Resende foi, precisamente, a mesma coisa. A autarquia referenciou uma série de jovens em casa, sem apoio, com enfoque na necessidade de Lar Residencial. E assim fizemos uma parceria com a autarquia, surgiu o Seminário Menor de Resende e apresentámos uma candidatura ao PARES 3.0 que foi aprovada. Agora estamos na fase de obra”.
Para Emília Dias, “o crescimento da instituição aconteceu porque a comunidade foi fazendo sentir as necessidades e a instituição foi dando resposta, sempre através de candidaturas e projetos”.
“Esta instituição nasceu e cresceu em força pelos pais e com os pais e os amigos e os parceiros. Houve sempre um corpo de colaboradores e diretores executivos muito empenhado. Aliás, é na Direção de Quadros que as decisões se tomam, porque há uma gestão colaborativa e participada, com cada um a colocar as suas ideias em cima da mesa. Há várias camadas de decisão, mas todos a pensar no bem-estar dos clientes e de uma maneira positivista fazer acontecer. E é assim que as coisas vão crescendo. Houve arrojo logo desde início com a aquisição desta quinta e uma gestão muito cuidada ao longo dos 48 anos”, argumenta Pedro Antunes.
Esse crescimento foi muito sustentado no alargamento das respostas à comunidade, para além do básico Lar Residencial e CACI.
“A nossa Formação Profissional é muito forte a nível nacional, com cursos de carpintaria, cozinha, bar, agricultura, jardinagem e outros”, sustenta o presidente da APPACDM, prosseguindo: “O Centro de Recursos presta informação e faz avaliação, orientação, colocação e acompanhamento no emprego a pessoas com deficiência e incapacidades inscritas no Centro de Emprego. Aliás, recentemente, fizemos algo inovador junto dos estabelecimentos de Ensino Superior de Viseu, com a criação do «Empodera-te ++» para fazer este acompanhamento na entrada no mercado de trabalho aos jovens que terminam os cursos. O serviço vai ser deslocalizado, não vai funcionar nas nossas instalações”.
A instituição tem também o Centro Incorpora, que “faz a mediação de integração e apoio à inclusão no mercado de trabalho” Centro Incorpora, que “faz a mediação de integração e apoio à inclusão no mercado de trabalho”, tendo como público-alvo pessoas em situação de vulnerabilidade social e com dificuldades no acesso ao emprego.
O financiamento do Centro Incorpora é da Fundação «la Caixa» e a APPACDM Viseu é quem tem a responsabilidade de coordenação regional, abrangendo os distritos de Aveiro, Castelo Branco, Coimbra, Guarda, Leiria, Santarém e Viseu.
Por outro lado, dada a falta de terapeutas nas escolas, a instituição também faz trabalho outsourcing nas escolas.
De momento, a instituição tem apenas uma RAI, em Viseu, que é a «Casa do Xico».
“Esta é uma resposta que queremos alargar. Estamos à espera de algum programa de apoio para avançar com uma RAI em Santa Comba Dão, outra em Viseu e, eventualmente, noutros locais. É difícil criar mais lugares em Lar Residencial, devido às políticas europeias, e esta é uma boa resposta. A aposta é na autonomia, mas esta é apenas para quem pode, porque nem todas as pessoas com deficiência intelectual têm condições para viver de forma autónoma”, defende Pedro Antunes, que, de seguida, dá a conhecer a mais recente inovação da APPACDM Viseu.
“O maior exemplo de que queremos andar sempre na vanguarda é a nossa Residência de Emancipação, uma resposta inovadora e que inaugurámos no Dia Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual. Tínhamos um apartamento T1+1, que não podia ser uma RAI, e, entretanto, formou-se um casal na nossa RAI e, então, arranjámos esse apartamento onde esse casal vai viver autonomamente”, conta, explicando: “Pagam uma renda acessível e inclusiva, ou seja, mais ou menos metade do valor de mercado. É uma resposta completamente inovadora, porque aqui, progressivamente, eles vão prescindindo dos apoios da instituição. Eles trabalham, ele tem o seu «papa-reformas», e agora queremos cá chamar o Governo porque gostávamos que esta experiência fosse replicada. Não deixa de ser um projeto-piloto, mas tem tudo para correr bem”.
Pedro Antunes defende que está no ADN da instituição olhar em frente e sempre no sentido da melhoria.
“Temos que ser proativos e positivos”, afirma, recordando um episódio recente: “Há uns dias recebemos a visita de uns deputados e a secretária de Estado dos Assuntos Europeus, Inês Domingues, chamou-me à parte para me dar os parabéns, porque, dizia ela que as IPSS têm muito aquele discurso da caridade e dos coitadinhos, mas que nós tínhamos uma atitude positiva e a lançar novos projetos. Mas esta é a prática da instituição desde sempre, porque há um colorido grande, no bom sentido. Agora vamos fazer um grande arraial, participar nas marchas e nas Carvalhadas de Viseu, que é o maior evento popular da cidade, sempre dispostos a passar a mensagem da inclusão”.
Para o líder da APPACDM Viseu “uma das energias da instituição é a interação com a comunidade, sempre de forma positiva”, por isso defende a “inclusão biunívoca”.
“Estas instituições têm uma obrigação e dever que também sentimos que é o da inclusão. A nossa missão, e que temos feito por a cumprir todos os dias, é incluir os nossos lá fora, mas cada vez mais queremos fazer o contrário, fazer com que as pessoas venham ao interior da instituição. Nesse sentido, queremos criar aqui na sede uma quinta pedagógica, que está a avançar lentamente. Cada vez mais, apostamos em trazer as pessoas de fora para dentro. A nossa aposta é na inclusão biunívoca”, sublinha, ao que a diretora de serviços acrescenta: “Em termos de atividades e iniciativas no exterior conseguimos, se calhar, 35 mil euros por ano, mas mais importante é o serem oportunidades para dar a conhecer o que fazemos e do que os nossos clientes são capazes de fazer”.
E se o crescimento da instituição continua em Resende, também na sede há obras, com a construção de mais um CACI, com capacidade para 30 utentes. Com financiamento do PRR e da instituição, a obra está orçada em quase 1,6 milhões de euros e decorre a bom ritmo para estar pronta em janeiro de 2025.
“Outro projeto que temos é abrir uma cafetaria, a Doce Mente II, na cidade. Já temos a Doce Mente I aqui na sede da instituição, mas fizemos uma candidatura ao BPI a ver se conseguimos concretizar o projeto. O negócio é rentável, apesar de fazer dinheiro não ser o primeiro objetivo, neste caso”, revela Pedro Antunes, aproveitando para acrescentar: “Cada vez mais, queremos fazer dinheiro, independentemente do Estado. Num orçamento de mais de cinco milhões de euros dependemos 90% do Estado! Costumo dizer que estes tostões, que não são tostões, que angariamos por nossa conta são o que permitem fazer a diferença. A APPACDM tem amigos que por vezes fazem umas doações, em especial empresas, e são essas doações que permitem muitas das vezes dar uns mimos. Mais uma carrinha, mais um equipamento para a sala de snoezelen, etc”.
Na dinâmica própria da instituição, cumprir a missão tem, na opinião do presidente da APPACDM Viseu, um grande obstáculo, que, no fundo, é generalizado no país…
“A grande dificuldade é a questão da remuneração dos colaboradores. Tem de haver uma resposta para que haja uma remuneração maior nas IPSS. O financiamento aumentou nos últimos anos, mas tem de aumentar muito mais para que os técnicos e demais colaboradores das IPSS tenham uma remuneração melhor. Há aqui pessoas com 20 e 30 anos de casa que estão a ganhar o mesmo que outras que entraram agora. De uma maneira lata, este é um dos maiores dramas das IPSS. E isto cria problemas emocionais também”, afirma, sublinhando: “Depois começamos a verificar a fuga de técnicos e outros colaboradores. Por exemplo, podendo ir para a Função Pública é de imediato, porque o salário é maior. E começamos também a sentir alguma dificuldade em recrutar, não só pessoal auxiliar, mas também técnicos”.
“Penso que os salários deveriam ser, pelo menos, equiparados à Função Pública. As diferenças salariais no pessoal técnico entre a Função Pública e as IPSS são enormes”, acrescenta Emília Dias.
E como seria Viseu sem a APPACDM?
“Seria, certamente e sem exagerar, uma comunidade menos humana, menos inclusiva, com menos inclusão, menos cor e menos essência. Uma cidade como a nossa tem de ter referências e a APPACDM é-a na inclusão. Não tenho pejo em dizer que era uma cidade com menos inclusão, menos humanitude e menos colorido”, sustenta Pedro Antunes, ao que Emília Dias acrescenta: “Seria dramático para as famílias que não teriam resposta para os seus filhos. Vemos diariamente esta aflição das famílias. A APPACDM faz muita falta na comunidade”.

Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2024-06-06



















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