Se há instituições com as quais as populações perfeitamente se identificam, o Centro Social Paroquial S. Martinho de Tavarede, na Figueira da Foz, é uma dessas. A expressão "O nosso Centro Social" é repetidamente ouvida quando se fala desta IPSS, que iniciou as suas actividades com ATL, Apoio Domiciliário e Centro de Dia para idosos em 1999. Sem inauguração oficial, mas com festa já pensada para breve, de homenagem a quem a ajudou a nascer, garantiram ao SOLIDARIEDADE o presidente e o vice-presidente da direcção, padre António de Matos Fernandes e Álvaro Martins Reis, respectivamente. O Centro Social Paroquial S. Martinho demorou quatro anos a ser construído e isso serviu, como nos sublinhou o padre António Matos Fernandes, para "unir as pessoas e gerar comunidade". De tal modo assim foi, que ainda hoje há quem recorde "os belos tempos em que todos aqui trabalhavam no duro", sem nada exigirem em troca. Presentemente, a ATL conta com 80 crianças, o Apoio Domiciliário presta serviços a 37 idosos e o Centro de Dia a 34, embora para cada uma destas últimas valências o acordo com a Segurança Social considere apenas 30 utentes.
O edifício, de três pisos, com salas amplas, onde a luz natural invade todos os espaços através de largas janelas, está orçado em cerca de 600 mil euros e é o suporte de muita vida social, num ambiente cuidado ao pormenor. Mas ali também desenvolve as suas actividades, no último andar, o Agrupamento dos Escuteiros, alimentando cada um dos três sectores um salutar encontro de gerações. "Foi nossa preocupação contribuir, com esta obra, para um convívio que estimule a troca de culturas e de saberes diferentes", frisou o padre António Matos. Nessa linha, as festas do ATL e dos Escuteiros, por exemplo, são normalmente oferecidas aos idosos do Centro de Dia e a outros.
Os nossos entrevistados enalteceram a importância do voluntariado em todo o serviço social, e não só, exemplificando com as dádivas e muito trabalho com que a população de Tavarede contribuiu para a construção do Centro. Porém, ainda hoje não deixa de prestar a sua ajuda, porque vê e sabe que a instituição precisa de todos. "Há uma enfermeira que passa quase todos os dias pelo Centro Social Paroquial, para ver como é que os idosos estão e se precisam de algum tratamento, mas ainda há outras pessoas que vêm regularmente para conversar e para ouvir os idosos", salientaram os nossos interlocutores.
"Se não for o voluntariado, tudo será mais difícil, porque os voluntários têm a vantagem de oferecer às instituições e seus utentes a sua riqueza, apresentada segundo os seus carismas", lembrou o padre António, que acrescentou: "É bom para os utentes e também para os outros que vêm cá, porque se sentem úteis à sociedade."
Como IPSS ligada à Igreja Católica, o Centro Social S. Martinho dá preferência, "naturalmente", aos mais carenciados, o que obriga "a uma grande ginástica da direcção", para procurar o equilíbrio financeiro, apesar das comparticipações normais recebidas da Segurança Social, adiantaram-nos o presidente e o vice-presidente da instituição.
Depois da construção do Centro, e porque era necessário continuarem todos unidos, foi criada uma Liga de Amigos. Cada membro da Liga contribui mensal ou anualmente com o que pode, "e isso também é uma ajuda importante". No entanto, ambos reconheceram que "as populações de Tavarede sempre colaboram, mesmo sem haver peditórios, porque vêem que há obra feita".
Entretanto, depois da conclusão do edifício, bem visível para quem passa pela igreja matriz, que tem por padroeiro S. Martinho, já construíram garagens, uma despensa nova, bem como compraram três carrinhas para o transporte de idosos, para o Apoio Domiciliário e para outros serviços. Contudo, porque a direcção quer criar uma equipa para trabalhos de higiene a idosos com mais carências e suas habitações, vão tentar comprar mais uma carrinha, com as ajudas que não hão-de faltar.
O padre António Matos e Álvaro Reis disseram ao SOLIDARIEDADE que ainda não sentiram a premência de um Lar de Idosos na freguesia. Todavia, consideram interessante e útil a ideia de um Centro de Noite, fundamentalmente para receber quem vive só, mas deseja durante o dia estar em sua própria casa. Por outro lado, sabem que têm de continuar a analisar as situações sociais da freguesia, numa perspectiva de lhes darem respostas adequadas em tempo oportuno.
Quando chegámos ao Centro de Dia, pelas 15 horas, rezava-se o terço, numa das salas. A directora, técnica de serviço social Paula Cardoso, referiu tratar-se de um hábito assumido pelos idosos, "sem qualquer pressão, seja de quem for". Disse que de manhã os utentes estão mais activos, ocupando-se, devidamente acompanhados, com jogos tradicionais, leitura de jornais e revistas, entre outras actividades, previamente organizadas.
Nessa linha, fazem rendas e bordados, enquanto participam em trabalhos dinamizados para assinalar datas marcantes. Com alguma regularidade, visitam a igreja porque gostam de rezar. O Centro organiza passeios, tendo a directora recordado os últimos, nomeadamente a Seia, Cantanhede, Caramulo e Fátima. A Câmara da Figueira da Foz oferece o transporte e todas as demais despesas são suportadas pela instituição.
Paula Cardoso frisou que no Centro Social Paroquial há idosos activos e motivados para se integrarem em qualquer tarefa, mas também não faltam outros com "inúmeras incapacidades", que exigem, obviamente, uma atenção especial, para que todos se sintam bem. E à pergunta que lhe dirigimos sobre se os utentes gostam do ambiente que lhes é oferecido, a directora respondeu prontamente: "Se não gostassem, não estavam aqui."
Numa das salas, falámos com uma ou outra idosa (as mulheres viúvas predominam no Centro S. Martinho). Luz Maria da Silva, 82 anos, diz que "está velhinha", mas sabe que se mantém muito lúcida, "graças a Deus". Gosta de trabalhar e de estar activa: faz renda e pegas, lê um bocadinho, vê televisão, come de tudo, gosta de rir, de contar e de ouvir uma boa anedota, mas também sabe e quer cantar. Veio para o Centro de Dia, porque a filha única, o genro e a netinha têm a vida deles e "não queria ficar sozinha em casa".
De passagem pela cozinha - que serve todas as valências do Centro Social Paroquial S. Martinho -, ampla e bem equipada, como bem equipada está a lavandaria, a responsável Conceição falou-nos dos cuidados que há com a alimentação: refeições variadas e equilibradas, pouco sal e pouco açúcar, sem gorduras, fritos muito raramente, tudo à base de cozidos, grelhados e assados. Ainda está atenta aos que precisam de uma dieta especial, como é o caso dos diabéticos.
No sector da ATL, a professora Paula, na altura a preparar a abertura do ano, referiu que todas as expressões (plásticas, físicas e teatro, entre outras) são dinamizadas no dia-a-dia, não faltando o acompanhamento escolar, durante uma hora por dia. Há uma sala de informática, com quatro computadores, e tempo e espaços para as mais diversas actividades, destinadas a celebrar os mais importantes dias do ano. Mas o padroeiro, S. Martinho, tem um programa especial, desenvolvido durante um mês inteiro.
Data de introdução: 2005-11-11