O Centro de Bem-Estar Social de Seixas, concelho de Caminha, desenvolve apenas a valência de ERPI, onde acolhe, de momento, 62 idosos, apoiados por uma equipa de 51 funcionários e ainda mais cinco prestadores de serviço, três dos quais médicos.
Olhando friamente aos números salta à vista que o rácio utentes-trabalhadores é muito elevado, sendo quase de um para um.
“Bem, se calhar, essa é das grandes evoluções que fizemos desde que aqui chegámos. Quando eu entrar no lar e sentir aquele cheiro característico de quando há 10 ou mais fraldas para mudar, direi que temos pessoal a mais, mas quando deambulo pelo lar e isso não se consegue notar, digo que temos o pessoal suficiente”, é assim que justifica Manuel Vilares, presidente da instituição há 12 anos, que acrescenta: “Entrar no refeitório e ouvir o silêncio de quem está a comer com satisfação, leva-me a considerar que não temos pessoal a mais”.
No entanto, Manuel Vilares considera que “há aspetos que são complicados em termos de integração numa IPSS, porque as receitas deixam muito a desejar”.
“Quando entrei aqui há 12 anos, a casa estava numa situação financeira muito difícil. Tínhamos uma dívida de 150 mil euros e todos os meses ela crescia 10 mil euros. Tivemos de fazer um trabalho duro! Havia poucos recursos humanos e muitos problemas sociais no seio da instituição. Nessa altura, no turno da manhã havia quatro funcionários, atualmente não admito que tenha menos de nove”, assevera, argumentando: “Estamos a gastar muito mais dinheiro do que nessa altura, mas, se gastamos, é porque o temos e, se o temos, não é para meter no cofre, é para investir no bem-estar das pessoas que aqui residem”.
O líder da instituição de Seixas aborda a questão por outro prisma, explicando por que razão se gasta mais dinheiro agora.
“Em 2011, quando aqui chegámos, custo por utente era de mais de 1.400 euros. Em três anos conseguimos reduzir esse custo para cerca de mil euros e foi essa melhor gestão que nos ajudou a equilibrar as finanças da casa. Agora, nos dois últimos anos, um utente custou-nos um pouco mais de 1.600 euros, o que é um valor mais alto do que os de outras instituições. E estamos com este custo já depois da pandemia e, no entanto, não conseguimos reduzi-lo”, sustenta, avançando uma explicação: “Há diversos fatores que contribuem para isto, como a pandemia, que aumentou muito os custos operacionais, e, principalmente, o aumento do vencimento mínimo. Uma boa parte dos nossos trabalhadores aumentaram de uma forma exponencial”.
Ainda assim, a situação financeira da instituição é equilibrada, mas não dá para muito mais.
“A casa, neste momento, consegue ganhar aquilo que gasta. Temos receitas que se equiparam com as despesas. Não temos muita expectativa é em termos de evolução, de melhoramento”, lamenta Manuel Vilares.
Atualmente, está em vias de finalização uma empreitada, patrocinada pelo PARES, relacionada com a melhoria da eficiência energética do equipamento, tendo já sido renovado o telhado e sido colocados painéis solares, janelas e portas, decorrendo ainda algumas obras em um dos pisos do edifício.
“São obras com um custo de mais de 800 mil euros em que temos uma comparticipação de cerca de 600 mil euros do PARES, mas para fazer isto já foi muito complicado, pois para fazer face a isto contraímos um empréstimo bancário de 300 mil euros. Uma obra destas implica despesas que não estão na candidatura, como 100 mil euros de IVA ou outras ocorrências no decurso da obra”, revela.
O Centro Social de Bem-Estar Social de Seixas nasce em 1951, na sequência de algo que foi transversal ao país nesses anos do século XX, como Sopa dos Pobres.
“Havia muita pobreza, eram gentes da pesca, e um ou dois benfeitores criaram essa obra”, conta Manuel Vilares, tendo em 1973 sido criado, num edifício, entretanto, adquirido, um asilo, “onde eram dados um cobertor e uma sopa”.
“Em 1987, aquele edificado foi desativado como asilo e os utentes integram o lar no novo equipamento. Entretanto, aquele edifício foi alugado à APPACDM e, em parte dele, funcionou durante muito tempo um salão de festas. Atualmente está desativado, por questões de segurança da estrutura, mas na parte que esteve alugada, criámos um albergue para os peregrinos dos Caminhos de Santiago”, recorda ainda o presidente da instituição.
E se o passado tem sido de altos e baixos, quanto ao futuro o Centro de Bem-Estar Social de Seixas mantém-se ambicioso.
Tendo deixado cair os projetos de criação de um Serviço de Apoio Domiciliário, de um Centro de Dia, de um Centro de Convívio e de uma Residência Temporária, Manuel Vilares mantém o sonho de edificar o Parque Residencial Sénior, porque para já não há condições para avançar.
“Houve uma altura em ambicionávamos ter mais do que uma ERPI, tentámos um Centro de Dia e não conseguimos, tal como o resto. Hoje mantemos dois projetos, que não sei se os conseguiremos concretizar. Um é um Parque Residencial Sénior e o outro é a recuperação de todo este edificado para ampliação desta ERPI, incorporando o edifício que está devoluto neste momento e fazer uma passagem que ligue os dois edifícios”, afirma, explicando: “Na ampliação deste edifício, queremos ter um auditório com 150 lugares sentados, algo que já tivemos, ao mesmo tempo teríamos uma parceria com a Câmara e Junta de Freguesia, para que a Junta tivesse ali um espaço. O resto seriam salas e centros de atividades para os 62 utentes do lar, mas abertos também a outros 30 idosos que há na comunidade e que estão sozinhos em casa. Neste momento, já temos recursos humanos para poder termos esse centro de atividades. E este edifício ficaria mais aliviado em termos de espaços”.
Por outro lado, o projeto permitiria recuperar algo de muito importante para a instituição: “Ali temos capacidade para recuperar tudo o que perdemos em termos recreativos, porque estatutariamente a instituição tem a obrigação de zelar por aspetos culturais e recreativos”.
O Parque Residencial surge da avaliação do que é hoje um lar.
“A evolução dos lares não tem sido no sentido das verdadeiras necessidades das pessoas com idade avançada. Hoje já não são asilos, são lares, remetendo para a ideia de casa e família. Depois passou a ser ERPI, mas não são as mudanças de nome que mudam as coisas. Hoje, as ERPI albergam pessoas cada vez mais velhas, com mais patologias e a sua heterogeneidade é muito grande, o que torna a gestão da casa algo complicada, tal a diversidade de pessoas que coabitam no seu interior. Criar ambientes saudáveis nestes contextos é muito difícil”, começa por contextualizar para explicar o que pretende a instituição: “O Parque Residencial Sénior surge como uma alternativa a estas dificuldades. Aqui pretende-se construir 30 casas, com capacidade para duas, três pessoas no máximo em cada, todas diferentes e envolvidas por um espaço verde. Estas seriam casas para cerca de 60 pessoas, ainda com autonomia e que a instituição possa estimular ainda mais essa autonomia”.
Concretizando este projeto, a atual ERPI ficaria com 40 residentes, totalmente dependentes, havendo o desejo de criar uma unidade de cuidados continuados.
“Está em banho-maria, à espera de uma candidatura ou de algum parceiro”, afirma.
E como seria Seixas sem o Centro de Bem-Estar Social?
“Com 73 anos de história e com todos os altos e baixos, penso que esta casa tem de se sentir realizada do ponto de vista social e de desenvolvimento concelhio. A mais-valia que a instituição é, é muito positiva”.
Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)
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