Nas duas últimas semanas, circularam mensagens de Boas Festas, muitas delas simplesmente impressas sem sequer terem a assinatura do remetente e algumas até sem palavras mais personalizadas. O envio de cartões é já um procedimento raro. É verdade que a utilização de e-mail, de Instagram ou WhatsApp permitem chegar a mais pessoas e instituições, de forma mais célere. Alguns votos são mais específicos e formulam felicidades para a celebração do Natal e muita prosperidade para o Ano Novo. Esta partilha de mensagens, a propósito de dois grandes acontecimentos anuais, faz todo o sentido, enquanto sinais do desejo de viver com mais progresso a nível pessoal e social. Porém, não basta fazer votos de prosperidade. Ela não acontece por geração espontânea. Constrói-se com o compromisso de cada um nas tarefas que lhe competem, profissionalmente, e nas que escolhe para exercer a sua cidadania, doando o seu tempo e as suas capacidades para gerar mais desenvolvimento integral no outrem e na sociedade.
Há que reconhecer que o ano findo não nos deixou condições favoráveis para que seja mesmo “novo” o que, agora, começa. Algumas evidências: os conflitos armados, alguns com altos níveis de perigosidade mundiais; a cada vez mais escandalosa desigual distribuição dos bens terrenos; o crescente número de pessoas e de drogas ilícitas traficadas; a venda de armamento bélico; a eleição de dirigentes de países, geopoliticamente, fundamentais para a pacificação do mundo e uma maior equidade económica…
Se o presidente eleito dos EUA cumprir o que foi anunciando no que respeita às suas relações económicas com os restantes países do mundo, a Europa, com as fragilidades internas que já tem, irá ressentir-se gravemente. Se tal acontecer, Portugal será um dos países que sofrerá maiores consequências a juntar a alguns problemas estruturais que ainda não conseguiu resolver, como o da pobreza e da exclusão social, assim como o da justa repartição da riqueza, não tendo ainda conseguido reabilitar a classe média, que foi devastada pelas duas grandes crises socioeconómicas anteriores. Não podemos esquecer, também, situações que perturbam a qualidade de vida de uma parte muito significativa da população portuguesa e que tardam em encontrar soluções, muitas delas para satisfações básicas. Refiro-me ao acesso à habitação com arrendamentos acessíveis; à falta de médicos a milhares de famílias e ao cuidado rápido a situações urgentes; à falta de lugares de crianças em creches; à persistente política de baixos salários e à dificuldade em superar a precariedade no trabalho…
Todas estas situações são já bastantes para justificar que se 2025, trouxe consigo muitas preocupações, também vem cheio de grandes desafios. Referirei apenas aqueles que me parecem ser os que se colocam às IPSS do nosso país. É perante as maiores dificuldades que se vê quem são os audazes. No universo da solidariedade social há provas dadas que existem muitos. Sem ter a pretensão de esgotar todas as possibilidades que se abrem, no presente ano, às IPSS e, muito menos intrometer-me no que é uma responsabilidade dos dirigentes da CNIS e das UDIPSS, o meu objetivo é apenas o de deixar algumas ideias propositivas.
Sem dúvida que já tarda um novo sistema de cooperação com o Estado. As IPSS não têm fins lucrativos, mas não podem assegurar a sustentabilidade financeira e a qualidade na prestação de serviços sem um maior investimento financeiro do Estado. Só assim, algumas poderão não correr o risco de deixar as classes mais vulneráveis para trás, incumprindo a sua preferencial missão. Há que pensar, com o objetivo de bem-fazer a todo o setor da solidariedade social, numa cooperação alavancada na diferenciação positiva.
O outro e emergente desafio é a descoberta de estratégias, delineadas conforme a realidade de cada comunidade, para a motivação da população, particularmente, da mais nova no sentido da prática do voluntariado. Este desafio não só faz com que as IPSS cumpram uma das suas finalidades que é a de gerar mais cidadania, mas também para assegurar a renovação, sempre que necessário, dos órgãos sociais.
Já muito se tem feito pelo dever da transparência na gestão dos recursos humanos e financeiros. Todavia, esta é uma área em que, cada vez mais, se deve investir, devendo ser toda a gestão sempre muito clara, com evidências objetivas e apresentadas com uma regularidade mais frequente do que a anual. Os primeiros destinatários desta obrigação seriam os associados ou a autoridade que, estatutariamente, lhes seja equivalente, depois os próprios colaboradores das instituições, a seguir a comunidade. Claro que não é necessário referir as instâncias estatutárias que, por mútuo acordo, este é um imperativo incontornável.
Embora não seja um desafio que possa ter resultados durante o corrente ano, vale a pena ir aprofundando as hipotéticas implicações que a Inteligência Artificial poderá vir a ter no setor da Solidariedade Social. Sem ter, ainda, refletido sobre este assunto, intuí que deve ser das áreas mais complexas, na medida em que a solidariedade exige comportamentos que, se são artificiais, são falsos e inúteis.
Apesar de ser destinado aos cristãos católicos, dado os tempos que vivemos, podemos muito aproveitar da iniciativa do Papa Francisco ao designar este ano o “Ano Jubilar da Esperança”. Este é outro desafio, senão o maior. 2025 traga as dificuldades que trouxer, as IPSS terão de ser sempre faróis de esperança, principalmente, junto dos mais desalentados. Deixo a palavra motivadora de Francisco: «Devemos manter acesa a chama da esperança que nos foi dada e fazer todo o possível para que cada um recupere a força e a certeza de olhar para o futuro com espírito aberto, coração confiante e mente clarividente. O próximo Jubileu poderá favorecer imenso a recomposição dum clima de esperança e confiança, como sinal dum renovado renascimento do qual todos sentimos a urgência. Por isso escolhi o lema Peregrinos de esperança. Entretanto tudo isto será possível se formos capazes de recuperar o sentido de fraternidade universal, se não fecharmos os olhos diante do drama da pobreza crescente que impede milhões de homens, mulheres, jovens e crianças de viverem de maneira digna de seres humanos.».
Eugénio Fonseca
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