No dia 7 de Abril decorreram as eleições para os órgãos sociais da UDIPSS-Setúbal. Concorreu apenas uma lista. Votaram 25 IPSS’s (cerca de 40% das filiadas). Houve 20 votos a favor da lista apresentada a sufrágio, 3 contra e 2 votos brancos. A UDIPSS-Setúbal tem, a partir de agora, como presidente da Assembleia-geral, o Dr. João Maria Rodrigues, da Cáritas de Setúbal, e, como presidente da Direcção, o Dr. António Modesto Figueiredo, do Centro Paroquial de Amora.
António Figueiredo nasceu em 1943 na cidade de Viseu.
É gestor, T.O.C. e consultor em áreas de gestão, organização, contabilidade e fiscalidade.
Vice-Presidente do Centro de Assistência Paroquial de Amora, desde 1992.
Membro do Conselho Consultivo da Rede Social de Freguesia de Amora.
Membro fundador do Lions Clube do Seixal e Presidente eleito para o ano lionistico 2006-2007.
O Solidariedade foi entrevistá-lo.
SOLIDARIEDADE - Por que motivo decidiu aceitar este desafio?
ANTÓNIO FIGUEIREDO - Quando estamos de corpo e alma no voluntariado social não devemos negar os desafios de liderança para defesa dos interesses das comunidades mais desfavorecidas e que acontece pela vida das instituições.
SOLIDARIEDADE - Quais os principais objectivos delineados para o mandato que agora se inicia?
ANTÓNIO FIGUEIREDO - O grupo de pessoas que comigo aceitaram constituir os órgãos sociais da UDIPSSS, para o triénio 2006-2008, definiram claramente no seu Programa de Acção os objectivos a alcançar:
(I) promover acções que visem o reforço da cooperação, o conhecimento e inter-ajuda das instituições;
(II) intervir nos domínios da formação e informação, que valorizem dirigentes, trabalhadores e voluntários na melhoria do seu desempenho;
(III) preservar a identidade das IPSS para que desenvolvam uma acção preferencial pelos grupos mais desfavorecidos, no sentido de alcançarem direitos de cidadania, dignidade e auto-estima;
(IV) eleger os princípios da ética e da justiça;
(V) garantir uma exigente independência face a partidos políticos, confissões religiosas ou ideológicas, orientando as IPSS por critérios de humanização e gratuidade.
SOLIDARIEDADE - Propõe-se executar um mandato de continuidade, em relação ao exercício da anterior direcção, ou pretende promover rupturas?
ANTÓNIO FIGUEIREDO - As instituições de solidariedade social estão em permanente mudança, face às políticas governamentais e pelo estádio de desenvolvimento social das comunidades em que se integram. Por isso, falar de ruptura em relação ao passado não faz muito sentido na passagem de testemunho. A direcção cessante viveu todas as dificuldades inerentes à nova estrutura da pirâmide organizacional das IPSS, a necessidade de refiliação das instituições e a experiência de novas dinâmicas. Ora, este trabalho está feito e, por isso, o que é esperado da nova direcção é um salto em frente no empenhamento por uma nova dinâmica das instituições.
Mas é evidente que vai haver uma ruptura quando nos propomos, por exemplo, reunir, de forma descentralizada, com todos os associados, afim de difundir boas práticas e estimular acções inovadoras. A ruptura resulta, evidentemente, da forma de estar e pensar as IPSS enquanto instituições não lucrativas.
SOLIDARIEDADE - Que dificuldades conta encontrar no desempenho do seu mandato?
ANTÓNIO FIGUEIREDO - A maior dificuldade será, por certo, a ligação às mais de 200 instituições existentes no distrito de Setúbal que, como se sabe, tem um geografia sócio-económica muito diversificada. Como estabelecer uma direcção de proximidade será o primeiro desempenho para vencer esta dificuldade. A segunda dificuldade reside na necessidade de desenvolver um plano de formação de quadros fundamental para que as instituições vençam as dificuldades que o futuro lhes vai apresentar e, fundamentalmente, para garantir aos voluntários que constituem as diversas direcções mais segurança e poder de resposta a alguns administrativos que se julgam sábios e senhores do conhecimento.
SOLIDARIEDADE - As IPSS de Setúbal recorrem com frequência aos serviços da UDIPSSS, ou é de opinião que recorrem poucas vezes?
ANTÓNIO FIGUEIREDO - A sensação que tenho é que recorrem poucas vezes, talvez porque não foi criado um gabinete jurídico de retaguarda que, estruturado, ajudasse a colmatar as respostas técnicas de que as direcções tanto necessitam. Por isso é nosso objectivo estruturar este gabinete.
SOLIDARIEDADE - O distrito de Setúbal dispõe de cobertura satisfatória de IPSS?
ANTÓNIO FIGUEIREDO - A cobertura é insuficiente e não tem havido por parte dos vários governos uma estratégia de fomentar o aparecimento de IPSS nas áreas onde socialmente são mais necessárias.
SOLIDARIEDADE - Há lacunas sectoriais, ou áreas geográficas justificando uma melhor cobertura? Em caso afirmativo, pode detalhar quais?
ANTÓNIO FIGUEIREDO - Preocupa-nos a situação na zona norte do distrito, por ser dormitório da capital com grande expansão demográfica, mas onde não surgem estruturas socias de apoio. Como nos preocupa a situação na zona sul do distrito onde há um mundo rural ignorado e onde as IPSS mais sofrem.
SOLIDARIEDADE - A proximidade do distrito ao centro de decisões políticas (Lisboa), tem beneficiado o distrito de Setúbal no que reporta à solidariedade social?
ANTÓNIO FIGUEIREDO - O poder político está afastado do distrito de Setúbal exactamente por razões de coloração política, criando-se mesmo rupturas no dever dos governos promoverem a igualdade social. A título de exemplo, a cidade de Amora tem uma população de aproximadamente 60.000 habitantes e só dispõe duma IPSS na área da protecção à criança e uma outra na área da protecção aos idosos. Nos últimos dez anos foram rejeitados todos os projectos apresentados para expansão da oferta, o que é grave e incompreensível à luz da necessidade de novas estruturas de apoio social.
SOLIDARIEDADE - Como classifica as relações da UDIPSS de Setúbal com a Segurança Social? Há muito a alterar?
ANTÓNIO FIGUEIREDO - O diálogo entre a Segurança Social e a UDIPSSS tem sido um diálogo de surdos e veja-se que a Comissão de Avaliação está suspensa há um ano! Pela nossa parte estamos abertos a dar todo o contributo para fortelecimento das relações pois é minha convicção muito forte de que as IPSS serão as executoras no terreno de muitas da políticas sociais dos governos, não tendo a Segurança Social capacidade de meios humanos para se substituir às IPSS. A única exigência da UDIPSSS é que se preserve a identidade das IPSS e que não sejam tratadas como figuras do direito pública mas, outrossim, respeitadas pelo trabalho de voluntariado social que exercem.
SOLIDARIEDADE - Como antevê a articulação da estrutura a que agora preside com a CNIS?
ANTÓNIO FIGUEIREDO - É nosso objectivo estar activamente presente na CNIS como porta-voz das causas, direitos e anseios legítimos dos nossos associados, pelo que espero uma articulação fácil com a CNIS.
Não há inqueritos válidos.