A causa da inclusão

1. A Solidariedade expressa os vínculos afectivos mais profundos e favorece a união na complementaridade entre as diferentes pessoas que constituem uma comunidade, entre as várias comunidades que, unidas entre si, reforçam, formam um Povo, uma Nação.
Deste modo, enraizados na cultura solidária que nos identifica, como Portugueses, temos sabido lançarmo-nos com ousadia e coragem no desafio da aventura de ir sempre mais além…. É salutar fazer memória do passado: nela encontramos a razão de melhor percebermos o presente e perspectivar o futuro…
Este "viver solidariedade" tem feito perceber que, para além de um bem "individual" das pessoas, de cada um, há um bem colectivo constituído pelos indivíduos unidos em comunidade social, que se traduz num vínculo forte de pertença. É efectivamente um bem que só é possível alcançar com a união de todos, cada pessoa em comunidade social e política. É esta solidariedade social que, desde sempre, nos fez e faz procurar e encontrar o bem de todos, não numa perspectiva meramente individual ou, se quisermos, "privada", mas socialmente unidos. É esta a causa solidária que ao longo dos tempos nos mobiliza como Povo, nas comunidades, nos locais em que nos encontramos. E nos dá o sentido de Oportunidade, que se traduz em compromisso com os que nos são e estão próximos, e o viver em Proximidade que se traduz na concretização real e factual do va-lor solidariedade.
Somos um Povo com uma identidade bem concreta e definida no valor da Solidariedade…. Atentos, Opor-tunos, Próximos, Sonhadores… E por isso seduzidos pelo bem comum, a causa solidária…
Expressão concreta e vital de tudo isto são as IPSS's: organizações que brotam do sonho e da ousadia de pessoas concretas, que têm rosto e o mostram. Que exercem cidadania, porque atentas à realidade.
Oportunas porque respondem às necessidades. Próximas porque vi-vem e sentem o quotidiano dos ex-cluídos, dos pobres, dos marginalizados, dos outros a quem querem ver sorrir...

2. Vivemos num momento de profundas mutações sociais, políticas e económicas….Os problemas da inclusão e da exclusão são fulcrais para o desenvolvimento do País, das comunidades, das pessoas.
A integração social entendida como aquisição de competências ligadas à vida social e colectiva e o seu efectivo exercício é um desafio à pluralidade, à partilha de todos e por todos, da cidadania, ao exercício efectivo das capacidades de opção, de escolha.
Se, como afirmamos e é nossa convicção, a solidariedade é o valor fulcral e estruturante das sociedades democráticas, choca-nos e provoca-nos indignação ver a existência persistente de pessoas, famílias e grupos viverem em condições de pobreza, de marginalidade. É indigno, é chocante!...
Implicitamente ligado ao valor da solidariedade está o que designamos de Justiça Social, também ela um valor estruturante de uma sociedade livre e democrática, pois permite o equilíbrio da vida colectiva na medida em que dá e permite o acesso a bens e serviços a todos em geral, e em particular aos que vivem em condições de verdadeira injustiça social e humana, objecto da nossa indiferença e "produto" de um sistema económico neo-liberal que em nada contribui para uma equilibrada e equitativa distribuição de bens e serviços, que promova a qualidade de vida da sociedade no seu todo.
Como contribuir eficazmente para uma sociedade inclusiva? Promo-vendo, dignificando, a educação integral das pessoas, dos indivíduos. Favorecendo capazmente a igualdade de oportunidades. Apostando na qualificação e emprego dos mais desfavorecidos, o que implicará o alargamento e a qualificação do mercado de emprego e, como é óbvio, a subida do rendimento dos mais pobres.
Valorizando o trabalho social das IPSS que, como Instituições de oportunidade e proximidade com equipamentos de apoio à família, acolhem as pessoas mais vulneráveis, excluídas, pobres, promovem um desenvolvimento sustentado e equilibrado. E dando capacidade às empresas para se fixarem na sua zona geográfica, na medida em que possibilitam a conciliação da vida familiar e o trabalho. E responsabilizando para que todos, também as empresas, assumam as suas inalienáveis responsabilidades sociais.
Integrar, incluir, pressupõe modelos de democracia directa e real, baseada não só no voto, mas em formas progressivas e cada vez mais amplas e articuladas que permitam a participação de todos:
- Universalidade, de todos para todos, com todos;
- Partilha, com troca de saberes e experiência entre pessoas, grupos e organizações;
- Gestão de recursos, pondo em comum o que se tem, revelando apetências e deixando perceber o que se deseja ter, para, em conjunto, encontrar soluções que tenham como destinatários os grupos, as pessoas, as comunidades.

3. No fundo a exclusão social constitui a demonstração de que o Estado, por si só, ainda não foi capaz de encontrar uma forma de cumprir integralmente os seus compromissos, dando primazia ao estado social, enraizado no princípio da subsidiariedade para com as organizações da sociedade civil, que de forma efectiva e consistente, exercendo a cidadania, contribuem para uma so-ciedade mais justa e solidária.

Estar em situação de exclusão é ser pobre. É não ter acesso ao emprego, ao trabalho. É conhecer o insucesso e o abandono escolar. É não ter acesso à sociedade de informação. É não ter acesso ao sistema de saúde. É ser segregado ou segregada por meras questões de género. É não ter acesso à habitação ou estar "acantonado num gueto". É viver em zonas de de-sertificação social e não ter os recursos básicos para uma vida digna… É estar à margem do exercício dos direitos fundamentais.
As razões da exclusão prendem-se com a solidariedade vivida como valor intrínseco à vida ou como slogan de momentos e de campanhas ….

É nesta medida que, agora e muito oportunamente, o Senhor Presidente da República desafia o Povo Português…
A Solidariedade é para nós um valor que nos une e arrasta para responder aos excluídos das nossas comunidades, do nosso País e com eles e por eles darmos lugar à criatividade que aprofunda e conhece as causas e ajuda a crescer e a desenvolver projectos de vida, de desenvolvimento social com sustentabilidade? Ou usamos e abusamos da palavra, retirando-lhe o conteúdo e o sentido e serve de bandeira e apanágio para momentos escolhidos e queridos por aqueles que em nada se identificam com o VALOR, mas o usam para através dos excluídos conseguirem os seus interesses? Solidariedade é um valor, não é nem está ao serviço de interesses particulares ou colectivos.
É seiva de um colectivo de uma Nação que é urgente revitalizar porque nele está e se encontra a nossa identidade.

Chegou a nossa hora: somos nós, IPSS's, as que estamos lá, as que não abandonamos, nem deixaremos de estar….
Tudo o resto poderá desaparecer. Mas nós, IPSS's, que fomos criadas e desenvolvidas pela vontade e ousadia de um Povo que acreditou e acredita na verdadeira e justa solidariedade, queremos comprometer-nos a assumir a Solidariedade como expressão da Liberdade, como elemento constitutivo da coesão social, como factor primordial de desenvolvimento.

 

Data de introdução: 2006-06-08



















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