Em 1931 duas senhoras de Lagos, Cesaltina Roque e Lucinda Anino dos Santos, criaram uma instituição que pretendia acolher, recolher e educar crianças desprotegidas. Começou por ser uma instituição de protecção a crianças do sexo feminino e foi designada por Patronato Nossa Senhora do Carmo. Tal como no resto do país, a ajuda dos particulares no acolhimento e educação de crianças abandonadas foi importante num momento histórico em que o poder político retirou capacidade de intervenção às ordens religiosas e o Estado não ocupou o espaço de promotor do bem social.
O Patronato de Nossa Senhora do Carmo iniciou as actividades funcionando em dependência do Convento do Carmo dando apoio a jovens desprotegidas. Inicialmente funcionou só em regime de semi-internato, mais tarde o internamento tornou-se necessário para acudir a situações de raparigas cuja situação familiar era débil ou mesmo inexistente.
Os estatutos de 1944 definiam claramente o objectivo do Patronato: “O seu fim é ministrar a essas crianças educação religiosa e moral, doméstica e social”. Mais especificamente: “A educação católica e as lides domésticas, costura, lavores, trabalhos tradicioanis, bem como conhecimentos de música, canto, especialmente religioso.”
A instituição passou por maus bocados em termos económicos: havia sócios que pagavam uma pequena quota, mas a sobrevivência dependia dos donativos de beneméritos que ajudavam de forma extraordinária. Apesar de tudo, cresceu sempre. As instalações do Convento do Carmo começaram a ficar pequenas, tendo que, em 1944, mudar de instalações para um prédio da Rua Dr. Mendonça.
Em 1954 foram elaborados novos estatutos que alteravam o nome. Abandonou a designação de Patronato e optou por Centro de Assistência Social Nossa Senhora do Carmo. No entanto, a alteração mais significativa foi a obtenção de estatuto de entidade pública, reconhecido pelo Estado. Concomitantemente alargou-se o âmbito da intervenção: assistência materno-infantil e assistência a menores.
À medida que aumentava a actividade humanitária e solidária as instalações pareciam encolher. Em 1959 foi necessária nova mudança, desta vez para o Palácio dos Veigas, enquanto se construía um edifício próprio. Passaram para lá o Lar de Jovens e as novas secções. Depois em 1971, abriu a creche e o jardim-de-infância. O Centro já não tinha só crianças carenciadas, mas também aquelas cujos pais o escolhiam para a educação dos filhos.
Em 1975 a Revolução afectou o funcionamento das instituições particulares de solidariedade social. Apesar de todas as vicissitudes de carácter político a actividade do Centro manteve-se e a autonomia também. Em 1982 o nome voltou a ser alterado. Passou a designar-se Centro de Assistência Social Lucinda Anino dos Santos, designação que se mantém até hoje. É por essa altura que chega à presidência da instituição uma equipa liderada por José António Carreiro, actual presidente.
Foi com ele que em 1987 foram produzidas as alterações estatutárias necessárias para que o Centro fosse considerado uma IPSS e beneficiasse dos subsídios atribuídos pelo Estado às instituições que desenvolvem trabalho social sem fins lucrativos e a bem da comunidade.
Em 2006 o Centro de Assistência Social Lucinda Anino dos Santos orgulha-se de estar a comemorar 75 anos de vida. São 75 anos de história que fazem desta instituição um exemplo.
LUCINDA ANINO DOS SANTOS
UMA VIDA DEDICADA AOS OUTROS Lucinda Anino dos Santos, que empresta o nome ao Centro, nasceu em Lagos em 21 de Fevereiro de 1891. Não fez mais do que a quarta classe e sempre esteve muito ligada à Igreja Católica, tendo sido militante no Movimento de Acção Católica. Ainda antes de ter criado o Patronato, em 1931, já receberia crianças desprotegidas na sua própria casa, com a ajuda da irmã que tinha um hotel em Lagos, segundo depoimentos recolhidos no catálogo “CASLAS – 75 anos” elaborado pela Câmara Municipal de Lagos, sob a coordenação de Jorge Rocha e José Serpa.
Em 1931 Dona Lucinda e Dona Cesaltina Roque criaram o Patronato Nossa Senhora do Carmo. Em 1933 Cesaltina Roque vai para Lisboa e Lucinda Anino dos Santos fica como responsável pelo Patronato. Na altura acolhia crianças e adolescentes.
Em 1954, quando a instituição passou a ser Centro de Assistência de Nossa Senhora do Carmo de Lagos ficou como tesoureira.
Em 1959 o Presidente da República agraciou-a com o grau de Cavaleiro da Ordem de Benemerência pela dedicação à causa das raparigas sem retaguarda familiar.
Faleceu em 1967 com 76 anos.
CASLAS A CAMINHO DO FUTURO Actualmente o Lar de Jovens Nossa Senhora do Carmo, em Lagos, abriga 40 raparigas e 15 rapazes com idades compreendidas entre os 3 e os 20 anos. O objectivo continua a ser o funcionamento como extensão alargada da família biológica. Os miúdos são integrados na comunidade através de um regime aberto de frequência da escola, da igreja, de associações, música, dança, desporto...
Há uma cultura de total abertura à comunidade. “Eles vieram para aqui pequeninos e, neste momento, já há rapazes e raparigas com 16, 17,18 anos. Temos necessidade de fazer uma separação por sexo. Vamos, por isso, investir num lar masculino para 30 utentes. Temos o projecto feito e será construído na cidade de Lagos, numa urbanização nova da Câmara que nos cedeu dois lotes.”
O Presidente do CASLAS, José António Carreiro, explica que este é o grande projecto do futuro da instituição que tem cinco conjuntos de equipamentos: A sede, no Rossio de S. João (Lagos), onde funcionam os serviços administrativos; Casa de Santo Amaro, também em Lagos (abriu em 1987); Centro Infantil de Bansafrim (abriu em 1988); Centro Infantil da Luz (abriu em 1988); e Centro Infantil do Chinicato (abriu em 1990). As respostas institucionais cobrem praticamente todas áreas sociais: ATL, centro comunitário, creches, jardins-de-infância, lar de jovens, centro juvenil, projectos de luta contra a pobreza, projectos para pessoas portadoras de deficiência (lar residencial, centro de actividades, unidade de reabilitação profissional), RSI.
O CASLAS tem um orçamento para 2006 de, aproximadamente, 3 milhões e 650 mil euros. Os trabalhadores são 205 e a instituição, no seu conjunto, acolhe mais de 850 utentes. Actualmente o maior número de utentes, cerca de 500, verifica-se nas valências Creche e Jardim-de-Infância.
José António Carreiro preside, há 24 anos, ao Centro de Assistência Social Lucinda Anino dos Santos e é também presidente da URIPSS do Algarve. Natural de Lagos, tem 60 anos, é reformado da função pública, tendo exercido as funções de chefe de contabilidade do Hospital de Lagos. Cabe-lhe definir os novos rumos do CASLAS tendo em conta as circunstâncias, as políticas sociais e, sobretudo, as necessidades das pessoas.
A crise económica e a indefinição das políticas sociais fazem do tempo corrente um tempo de crise. Para as instituições, a parte mais visível é a Educação onde a recente tendência é a de estatizar. As IPSS têm que se converter rapidamente, transformando os recursos e transformando-se noutras respostas à comunidade. “No ATL já definimos a nossa intervenção. Vamos melhorar a oferta e os pais vão ter que optar por nós ou pela Câmara. Não podemos funcionar como até aqui em complemento de serviços. Já estamos também a reconverter estruturas, equipamento e pessoas.”
A vantagem da experiência é, como dizia o filósofo, a segurança de saber que a única certeza é a necessidade de mudança. Na comemoração dos 75 anos José António Carreiro sabe-o melhor que ninguém: “O CASLAS no princípio, em 1931, acolheu raparigas dando-lhes competências sociais fundamentais, depois criou o dispensário materno-infantil com apoio de leigos, fazendo o que hoje é ocupação dos centros de saúde, criou creches e jardins-de-infância, criou ATL... Terá que se adaptar a novas formas e aos novos tempos. Se o CASLAS, como qualquer outra instituição, não se souber adaptar aos tempos, atendendo aos problemas sociais e criando respostas, não conseguirá sobreviver e não cumprirá a função social para que foi criado.”
Data de introdução: 2006-07-08