Os jovens portugueses são cada vez menos, casam mais tarde do que há trinta anos atrás e têm menos filhos, também em idades mais tardias, indicam os últimos dados oficiais. No Dia Internacional da Juventude, o mais recente perfil completo dos jovens portugueses dos 15 aos 29 anos só pode ser retratado pelo relatório "Jovens em Portugal", uma análise do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa através de dados estatísticos de 1960 a 1997, uma vez que a Secretaria de Estado da Juventude só terá dados actualizados no final do ano.
"A família continua a constituir uma referência central para a população jovem nos seus trânsitos para a idade adulta" e "a saída da família de origem para constituição de uma nova família continua a ser o momento central da entrada na vida adulta", destaca o relatório.
Os jovens entre os 15 e os 29 anos são predominantemente solteiros, mais os homens do que as mulheres, e ambos os sexos casam cada vez mais tarde, reflecte o documento. "Não obstante estarmos perante um modelo sócio-demográfico caracterizado por uma nupcialidade cada vez mais tardia, o casamento continua, efectivamente, a constituir a solução de conjugalidade mais frequente entre jovens portugueses", realça o relatório, salientando que apesar de se unirem cada vez mais pelo civil, o casamento religioso continua a ser predominante.
Os casos de divórcio aumentaram na camada jovem até ao início dos anos 1990, mas têm decrescido desde então, porque "na medida em que o casamento é adiado para mais tarde, é natural que o divórcio também o seja". Por sexos, os homens divorciam-se mais do que as mulheres e "é a partir do terceiro ano que as dissoluções começam a suceder com mais intensidade". "Contudo, o 'ano de saturação' da relação conjugal parece concentrar-se, sobretudo, ao fim do quarto ano de casamento, sendo o período em que mais frequentemente ocorrem divórcios entre cônjuges jovens", destaca o estudo.
Com casamentos mais tardios, os filhos também vêem mais tarde, de modo que "a idade média da mulher à altura do primeiro filho tem, desde 1980, vindo a aumentar", um factor a que está associada uma diminuição acentuada da natalidade em Portugal, nomeadamente entre as camadas mais jovens.
A média em 1960 era de três filhos por cada mulher em idade fértil e em 1996 desceu para 1,43, quando é necessário um índice de 2,1 para haver renovação de gerações. O número de jovens com filhos fora do casamento tem aumentado desde 1985, altura em que estes nascimentos representavam 12,9 por cento do total, quando em 1996 eram já de 20 por cento. Até à década de 1980, os nascimentos eram maioritariamente de mulheres domésticas e desde a década de 90 de mães jovens profissionalmente activas.
Quanto a comportamentos de risco, o consumo de tabaco tem tendência para decrescer e "metade da população jovem inquirida confirmou o consumo de bebidas alcoólicas". "E se é um hábito que tende a aumentar com a idade, saliente-se que entre os 15 e os 19 anos, 35 por cento já tem o hábito de beber várias vezes por semana", realça.
Os casos de Sida aumentaram entre os jovens, que no início de 1980 eram 19 por cento do total de infectados e até à primeira metade da década de 1990 aumentaram para 34 por cento. "Na base do aumento das percentagens poderá estar o carácter fortuito e acidental das relações que se estabelecem neste período, nas quais a maior preocupação é evitar uma possível gravidez e não a possibilidade de contrair qualquer doença sexualmente transmissível", é salientado no documento.
Em 1995, 56 por cento das mortes por 'overdose' devido a drogas foram de pessoas com idades entre os 15 e os 29 anos.
Os veículos a motor são a principal causa de sinistralidade rodoviária entre os jovens, especialmente na faixa 20-24 anos e no sexo masculino. A grande parte dos acidentes rodoviários é motivada pela condução de velocípedes a motor e por automóveis ligeiros de passageiros e mistos, sobressaindo a faixa etária 15-17 anos como as principais vítimas no primeiro caso e a de 25-29 anos no segundo.
No âmbito da demografia, o relatório destaca dados e estimativas do Instituto Nacional de Estatística (INE), segundo as quais a população jovem tem decrescido desde a década de 1990 e "irá, de facto, decrescer até ao ano 2020, qualquer que seja a sua faixa etária".
Salienta que nas últimas três décadas do século XX se verificou a crescente urbanização e litoralização da população juvenil, com destino às principais cidades do país, principalmente
Lisboa e Porto, e posteriormente aos seus subúrbios.
Destaca ainda como uma tendência mais recente a entrada em Portugal de muitos jovens como mão-de-obra estrangeira, mais de metade dos quais vindos de África, principalmente Cabo Verde, e ainda brasileiros e comunidades da Europa.
Data de introdução: 2006-08-12