“Não conseguimos dizer que não a quem nos pede ajuda”, é assim que Maria Helena Cerqueira, funcionária há 19 anos da Obra Diocesana de Promoção Social (ODPS), descreve o espírito de trabalho que se vive na instituição. Actualmente a ajudante de acção directa trabalha no Centro Social Pinheiro Torres, onde presta serviço de apoio domiciliário a idosos. “Vou a casa deles, faço-lhes a higiene pessoal, dou-lhes as refeições, mas o que eles mais precisam é de carinho”, explica a colaboradora, designação pela qual são tratados os mais de 400 trabalhadores da ODPS.
Espalhada por 12 centros sociais da cidade do Porto, a instituição presta serviço a mais de 3 mil utentes desde a infância até à terceira idade, em valências variadas desde ATL’s, centros do dia, apoio domiciliário, gabinete de atendimento a jovens e a famílias, naquela que é a maior instituição particular de solidariedade social da cidade e do distrito do Porto. Directamente dependente do Bispo do Porto, a ODPS nasceu em 1964 fruto das vontades conjugadas da Diocese, da Câmara Municipal e da Segurança Social da cidade. Desde aí, tem acompanhado o crescimento da cidade e actualmente possui 12 centros, espalhados por diversos bairros sociais como o Lagarteiro, a Pasteleira, o Cerco do Porto, o São João de Deus, entre outros.
Para gerir, coordenar e administrar a Obra, em 1999 foram criados os Serviços Centrais, a funcionar na Rua D. Manuel II, onde toda a logística é tratada, retirando essa função a cada centro. Mónica Carvalho é responsável pela direcção dos Recursos Humanos e Jurídicos da Obra Diocesana e considera que esta centralização veio facilitar muito a coordenação do serviço e da própria comunicação, já que agora todos os centros estão ligados em rede e a grande parte da informação interna é transmitida via e-mail. “Em Ermesinde temos um armazém central onde ficam armazenados todos os bens alimentares que a Obra dispõe, a maioria doados pelo Banco Alimentar, que depois são distribuídos pelos diversos centros. Temos também uma lavandaria central e estamos progressivamente a extinguir as lavandarias que existem espalhadas pelos centros, numa tentativa de rentabilizar recursos e melhorar a qualidade do serviço”, explica a colaboradora.
O actual Conselho de Administração afirma ter como grande objectivo elevar o patamar de qualidade do serviço prestado pela instituição e tem feito apostas na renovação e melhoramento dos espaços e equipamentos dos centros sociais, além de várias mudanças de orgânica para potencializar os recursos da instituição. Há pouco mais de um ano contrataram uma psicóloga que dá apoio aos casos mais urgentes, desde as crianças aos idosos. “Os nossos utentes precisam muito, porque é um estrato social que não irá se socorrer de um psicólogo. Por exemplo, encontramos diversos casos de crianças negligenciadas, filhos de pais alcoólicos, famílias completamente desconfiguradas que precisam de muita ajuda”, alerta Mónica Carvalho.
A conversa com a coordenadora revela aquilo que já não é novidade para ninguém: os muitos pedidos silenciosos de ajuda que se escondem por detrás de numerosos rostos dos utentes que acompanham, desde crianças vítimas de maus tratos a idosos completamente negligenciados pelas famílias, que chegam a passar fome ao fim-de-semana, quando não têm abertas as portas dos centros sociais que frequentam. “Antes de termos apoio domiciliário ao fim-de-semana, haviam situações muito dramáticas de idosos que ficavam sem alimentação durante esses dias, sem higiene pessoal. É uma das áreas onde temos mais procura e muitos mais pedidos do que aqueles que podemos atender, porque não temos capacidade de resposta face a tantas solicitações”, lamenta Mónica Carvalho.
O facto de trabalharem em bairros sociais, alguns deles muito problemáticos, faz com que Fátima Leite, directora do Centro Social Dr. Nuno Pinheiro Torres classifique o espaço como “um patamar de salvação para muitos utentes, que encontram aqui todo o carinho, cuidados e atenção que não tem em mais lado nenhum”, explica. Na sala do convívio, muitos idosos vão-se entretendo nas actividades diárias. “Agora estamos a fazer pompons para vender no Rally Paper que a Obra vai realizar em Setembro. Queremos tentar angariar dinheiro para comprar uma máquina fotográfica”, explica uma das funcionárias, enquanto ajuda uma utente com a pompom.
Já na periferia da cidade, fomos conhecer o Centro Social do Cerco do Porto, que dá apoio a 70 crianças e a cerca de 130 idosos. Quando chegamos as crianças brincavam alegremente no recreio, alheias ao ambiente que as envolve, não fosse este um dos bairros mais problemáticos da cidade. Filomena Semana é a directora do centro e já há mais de 22 anos que presta serviço à Obra Diocesana. À pergunta se tem medo de trabalhar num local considerado perigoso, a colaboradora responde prontamente que não. “Quando alguém vem trabalhar para cá tem sempre algum receio, medo de ser assaltado ou até agredido, porque é essa a imagem que passa para o exterior dos bairros sociais, mas depois essas preocupações desvanecem-se”, assegura a directora. “A população conhece-nos bem, conhece o nosso trabalho e respeita-nos”, garante.
Também Fátima Leite, directora do Centro Social do bairro Pinheiro Torres partilha da mesma opinião, apesar de reconhecer que a localidade dificulta o trabalho. “Estamos num bairro degradado, com muita droga, mas nós tentamos criar bom ambiente”, explica-nos. “Somos todas respeitadas e se alguém se mete connosco há logo outro morador que chama a atenção, nesse aspecto não temos qualquer problema”, garante Fátima Leite.
Embora seja a maior instituição da cidade, a Obra Diocesana é ainda desconhecida do grande público, facto que pretende ser mudado pelo Conselho de Administração que quer divulgar a ODPS e abrir as portas da instituição a todos os que quiserem colaborar. O periódico “Espaço Solidário”, lançado em Janeiro deste ano, foi uma das formas encontradas para levar o nome da instituição a um público mais vasto e “dar a conhecer o trabalho de mais de 400 pessoas que todos os dias partilham a alegria de fazer o bem ao próximo”, explica André Rangel, responsável pelo boletim informativo. No final do mês de Setembro, a ODPS vai realizar o I Rally Paper da instituição, numa tentativa de mostrar aos portuenses e à sociedade em geral o trabalho que vem desenvolvendo ao longo de quatro décadas e que cada vez mais precisa da ajuda e do apoio de todos.
Data de introdução: 2006-09-03