AMÉRICO RIBEIRO, PRESIDENTE DA ODPS

“O serviço que prestamos exige muita humanidade”

Américo Joaquim Costa Ribeiro tem 53 anos, é casado e vive em Santa Maria da Feira, de onde é natural. Actualmente, é director do Banco Português de Negócios no Porto, mas apesar de uma actividade profissional intensa, há mais de três décadas que está envolvido em associações de cariz social, humanitário e desportivo. Em Janeiro de 2005 foi nomeado presidente do Conselho de Administração da Obra Diocesana de Promoção Social durante três anos.

SOLIDARIEDADE - Qual é o grande desafio proposto para este mandato?
AMÉRICO RIBEIRO
- Elevar o nível de qualidade. Refiro-me à qualidade dos serviços, da solidariedade, do profissionalismo, à qualidade em tudo o que nós fazemos. Quando digo “nós” refiro-me a todas as pessoas envolvidas na Obra Diocesana, desde o Conselho de Administração aos colaboradores.

SOLIDARIEDADE - E para atingir esse patamar de qualidade, quais são as medidas que têm sido postas em prática?
AMÉRICO RIBEIRO
- Temos criado condições de trabalho, de habitabilidade, de melhor funcionamento dos serviços em todos os campos, um espírito de profissionalismo e de responsabilidade nos nossos colaboradores, para que se possa chegar o mais rapidamente possível a esse patamar da qualidade. Para além do profissionalismo, os nossos colaboradores têm que ser um pouco mais, têm que ter amor ao próximo. O serviço que prestamos não é uma actividade profissional qualquer, exige muita humanidade.

SOLIDARIEDADE - Outra das grandes preocupações que tem tido diz respeito às questões da imagem da Obra Diocesana. Há de facto uma vontade assumida de divulgar e promover a instituição na cidade e para a sociedade em geral?
AMÉRICO RIBEIRO
- Quando chegámos à Obra, encontrámos uma instituição com diversas carências, uma delas era de facto ser desconhecida dos portuenses. Julgo que a aposta na divulgação da Obra Diocesana tem sido uma aposta ganha, temos vindo a fazer um trabalho extraordinariamente válido nesse sentido e já criámos, inclusivamente, uma área de informação e comunicação. De algum modo é uma forma de chegar ao Amigo da Obra, seja ele portuense ou o cidadão incógnito e que nos pode ajudar a levar a nossa missão mais longe.

SOLIDARIEDADE - Actualmente quais são os grandes problemas que a instituição enfrenta?
AMÉRICO RIBEIRO
- Em primeiro lugar, temos que entender a dimensão que a Obra tem. Temos 12 centros sociais, mais de 400 trabalhadores e prestamos serviço a cerca de três mil utentes. O grande desafio é de facto a capacidade de gestão e de orientação para uma instituição tão grande. Há decerto dificuldades, como em tudo, mas vamos tentar ultrapassá-las. Vamos tentar fazer alguma contenção na despesa, pois já fizemos grandes investimentos em 2005 e continuamos a fazê-los em 2006.

SOLIDARIEDADE - Investimentos de que ordem?
AMÉRICO RIBEIRO
- Posso dizer que, partindo sempre do objectivo da qualidade, a primeira coisa que fizemos foi remodelar todo o equipamento mobiliário de todos os centros sociais. Nós hoje temos exactamente a mesma qualidade em todos os centros, fiquem eles na Pasteleira ou no bairro S. João de Deus. Tentámos, em colaboração com a Câmara Municipal do Porto, mudar o local dos centros em consonância com o acordo que temos com a autarquia. Também fizemos remodelações, a nosso custo, em vários centros para que todos possam acompanhar este objectivo comum da qualidade. Estamos, lentamente, a criar condições para melhorar o aspecto dos nossos utentes, por exemplo, todas as nossas crianças têm um pólo identificativo da Obra Diocesana e dentro em breve terão também uma t-shirt. É preciso perceber que o nosso utente é um utente, à partida, mais carenciado do que noutros centros sociais. Não me refiro só ao aspecto financeiro, mas em tudo: no carinho que deveria ter e não tem, na assistência e no apoio que deveria ter. É esse o nosso principal papel.

SOLIDARIEDADE – E em relação ao apoio externo que recebem das entidades da cidade e da própria Diocese do Porto, considera-o suficiente, ou poderia ser melhor?
AMÉRICO RIBEIRO
- Há três entidades envolvidas na criação da Obra Diocesana: o Estado, através da Segurança Social, a Câmara Municipal do Porto e a Diocese do Porto. Naturalmente que cada uma tem objectivos e formas de pensar diferentes. No entanto, entendemos que a Segurança Social cumpre o seu papel através dos subsídios que recebemos mensalmente, segundo os acordos estabelecidos; a Câmara do Porto, antigamente atribuía-nos um certo montante em dinheiro mas, hoje em dia, a sua ajuda é dada através da realização de obras nos centros e nós exigimos à Câmara aquilo que queremos para a nossa casa. A Diocese também nos dá algum apoio, embora limitado.

SOLIDARIEDADE - Mas que tipo de apoio é que provém da Diocese?
AMÉRICO RIBEIRO
- Neste momento, é um tipo de apoio sobretudo de rectaguarda, ou seja, tem as portas abertas para nos ajudar. Foi a Diocese que nos cedeu o espaço onde estão a funcionar os Serviços Centrais e tem reservado outro espaço na Rua do Rosário, onde pretendemos criar uma unidade para tratamento de doentes paliativos e em fase terminal. Esta é a maior instituição social da cidade do Porto e a Diocese orgulha-se dela. O Conselho de Administração sabe que a Diocese tem as portas abertas para qualquer ajuda que precisemos. O relacionamento entre a mim e o Reverendíssimo Bispo do Porto, D. Armindo Lopes Coelho, é excelente e de total diálogo.

SOLIDARIEDADE - É evidente uma grande preocupação da direcção para que a Obra Diocesana seja conhecida como uma instituição única e não vários centros sociais isolados, como acontecia até há bem pouco tempo. A união faz a força?
AMÉRICO RIBEIRO
- Exactamente. Antigamente, só para dar um exemplo, as pessoas conotavam os centros como centros sociais de cada bairro onde estavam inseridos, o que não é verdade. Se há uma instituição da envergadura, do alcance e da objectividade da Obra, temos que dizer que é a Obra Diocesana do Centro Pinheiro Torres e não o centro em si. A instituição tem que passar para o exterior. Muitas vezes, em variadas situações apresento-me como presidente da Obra Diocesana e as pessoas perguntam-me “o que é isso?”. Outro exemplo dos frutos da divulgação da Obra é a Ceia de Reis que organizámos. Na Ceia de 2005 participaram pouco mais de 200 pessoas, mas em 2006 tivemos mais de 400. As entidades estiveram presentes, desde a Governadora Civil do Porto, à Vereadora da Acção Social da Câmara Municipal, à Segurança Social. As pessoas já começam a estar receptivas ao nosso convite, a conhecer a Obra e a vê-la de outra forma.

SOLIDARIEDADE - Para terminar…Uma Obra da cidade e para a cidade, é assim que pretendem ser conhecidos?
AMÉRICO RIBEIRO
- É, sem dúvida, uma Obra da cidade, para a cidade e todos os cidadãos com potencialidade, não só financeira, mas também de dádiva e amor ao próximo devem estar predispostos a ajudar a Obra Diocesana. É uma instituição que está a apoiar os mais carenciados e, volto a sublinhar, não só no aspecto financeiro, mas também no amor e no carinho. Entendo que toda a pessoa que gosta realmente de ajudar deveria colaborar com este projecto, embora isto não quer dizer que a instituição esteja a mendigar seja o que for. Com o boletim informativo que lançamos recentemente sai também um prospecto a sensibilizar o leitor a colaborar com a Obra, porque nós queremos ir mais longe. Queremos criar um espaço para doentes paliativos, mas precisamos da ajuda da sociedade. Estamos a preparar o Primeiro Rally Paper da Obra pela cidade, que vai passar por todos os centros sociais, como mais uma forma de divulgar a instituição e a sua missão. Temos muitas ideias, mas temos que ser conscientes de que os objectivos não são concretizados no imediato. O Conselho de Administração só tem três pessoas e três pessoas para gerir a imensidão que é a Obra….Tem que haver muito voluntariado e amor ao próximo.

 

Data de introdução: 2006-09-03



















editorial

O COMPROMISSO DE COOPERAÇÃO: SAÚDE

De acordo com o previsto no Compromisso de Cooperação para o Setor Social e Solidário, o Ministério da Saúde “garante que os profissionais de saúde dos agrupamentos de centros de saúde asseguram a...

Não há inqueritos válidos.

opinião

EUGÉNIO FONSECA

Imigração e desenvolvimento
As migrações não são um fenómeno novo na história global, assim como na do nosso país, desde os seus primórdios. Nem sequer se trata de uma realidade...

opinião

PAULO PEDROSO, SOCIÓLOGO, EX-MINISTRO DO TRABALHO E SOLIDARIEDADE

Portugal está sem Estratégia para a Integração da Comunidade Cigana
No mês de junho Portugal foi visitado por uma delegação da Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância do Conselho da Europa, que se debruçou, sobre a...