Mais de meia centena de trabalhos manuais elaborados pelos idosos dos lares e centros de dia da Santa Casa da Misericórdia de Chaves estiveram expostos ao público, no Espaço ADRAT, em Chaves, no passado mês de Maio. Entre objectos de decoração realizados através do emprego de variadíssimos materiais, a imaginação dos mais velhos foi posta à prova.
A iniciativa insere-se na componente de animação sócio-cultural de que os idosos dispõem na instituição. Deste modo, ao longo do ano são muitas as actividades que realizam dentro e fora dos lares. Como lembrou o vice provedor da Santa Casa da Misericórdia de Chaves, para além da prática de trabalhos manuais existem outras vertentes, "toda a envolvente da animação como a ginástica, exercícios de manutenção, teatro, ou o programa de rádio traduzem a forma de estar da Santa Casa, se eles entram activos é importante mantê-los o mais tempo possível activos".
Contrariando a ideia de que ter idade é sinónimo de sedentarismo, Jorge Fernandes acrescentou que "a instituição não tem só pessoas incapacitadas, na maioria são pessoas totalmente independentes. É claro que com o tempo e com a idade passam a estar um pouco mais limitadas, mas isso não as impede de realizar actividades".
A mostra convida os visitantes de todas as idades a apreciarem aquilo que eles sabem e gostam de fazer e também a desvendarem os segredos do aproveitamento de alguns materiais de uso diário na confecção de objectos de adorno e não só.
Talentos que pelos vistos ainda são capazes de surpreender. Que o diga um dos alunos do segundo ano de um jardim-escola local que ao visitar a exposição perguntou a uma das autoras de alguns dos trabalhos expostos "como teve tanta imaginação?". A resposta foi simples: "criei uma espécie de molde, agarrei na agulha e nas linhas e fui fazendo sempre, conforme o gosto. No final, como gostei, deixei estar", disse Maria Alves.
Imprimir dinamismo ao dia a dia dos idosos não só através da prática de trabalhos manuais mas também de outras realizações, constitui um aspecto fundamental na qualidade de vida dos utentes.
APROVEITAMENTO DE MATERIAIS
"Combater a solidão mantendo os idosos ocupados e aproveitar a mobilidade que eles ainda vão tendo da melhor maneira, fazendo com que eles se sintam úteis e porque deveras ainda o são" constitui o principal desafio de Luísa Teixeira, técnica de animação sócio-cultural da Misericórdia de Chaves.
Apesar dos trabalhos dos idosos já terem estado expostos na última edição da Feira dos Santos, uma feira anual que conta com expositores nacionais e internacionais, mas sob o propósito de venda. Desta vez, a ideia da exposição tem a finalidade de "proporcionar à comunidade um contacto mais próximo com o dia-a-dia dos utentes", referiu.
O projecto tem para a responsável pela organização do evento, uma perspectiva muito prática: "pretendia-se trabalhar com materiais de uso frequente que são facilmente manuseáveis, acessíveis em termos económicos e, a partir daí, criar formas e texturas".
Molas, massa de uso culinário, tecidos, colas, tintas, esferovite, gesso, ráfia, foram alguns dos materiais utilizados no processo de elaboração dos trabalhos.
INTERCÂMBIO DE ACTIVIDADES
Para Amélia Perfeito, que no mês de Julho completa cinco anos como utente daquela instituição, não foi tarefa difícil fazer as meias e as peúgas de lã. "Durante muito tempo teci e fiz camisolas e nunca levei dinheiro a ninguém por isso", disse.
E porque não perdeu o engenho e a arte, "se estiver com disposição sou capaz de fazer as meias num dia", acrescentou.
De entre as várias actividades que os idosos desenvolvem ao longo do ano, abrangendo visitas a museus, santuários e exposições, intercâmbio de actividades com as crianças, através do conto de histórias, participação em actividades culturais do município flaviense, como o desfile de Carnaval e a Feira dos Santos são alguns dos exemplos que podem ser vistos pelos vários registos fotográficos espalhados pela exposição.
A iniciativa teve ao longo de uma semana muita adesão, o que pode servir de pretexto para aguçar a curiosidade do público mantendo-o expectante por ver o muito que estes imaginativos artistas ainda têm para mostrar.
Solidariedade, Junho de 2004
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