A população portuguesa vai continuar a envelhecer, sendo esperado que até 2050 a natalidade baixe acentuadamente e que menos 60 por cento de jovens ingressem no mercado de trabalho, segundo um programa inédito de cálculo demográfico. A Associação Portuguesa das Famílias Numerosas vai apresentar, no dia 27 de Janeiro, o Programa Cálculo de Projecções de População Residente (CPPR), elaborado em colaboração com dois docentes da Universidade Nova de Lisboa (UNL), cujos resultados estão em linha com o calculado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) e Eurostat, afirmam os promotores da iniciativa.
No mais provável dos cenários (Cenário Base), espera-se uma "forte erosão da base da pirâmide etária portuguesa", com um decréscimo acentuado da taxa de natalidade, menos 40 por cento de crianças em idade de entrar no ensino obrigatório, menos 30 por cento de jovens com 18 anos e uma redução de 60 por cento no número de jovens com 21 anos, idade para entrar no mercado de trabalho.
Assim, traduzindo para números concretos, a população atinge a idade média de 49 anos em 2050, contando com 75 mil crianças de seis anos (actualmente são 115 mil), 85 mil jovens de 18 anos (hoje em dia são 120 mil) e 95 mil com 21 anos (contra os actuais 160 mil).
A APFN utilizou ainda para o estudo mais três cenários, menos prováveis do que este: Cenário Natural, Cenário Ideal e Cenário Baixo. Tanto o Cenário Base como o Baixo apontam para um aumento da população mais velha: o número de idosos por cada 100 jovens passa dos actuais 115 para 275.
Deste modo, a pirâmide etária obtida no Cenário Baixo também deixa de ter a figura geométrica, uma vez que se verifica igualmente uma forte erosão da base. A população atingirá a idade média de 51 anos e as crianças com idade de ingressar no primeiro ciclo do ensino básico não serão mais do que 58 mil, a par de uma descida para 70 mil do número de jovens com 18 anos e para 85 mil (cerca de metade do actual) de jovens a entrar no mercado de trabalho.
Mais optimistas, os cenários Natural e Ideal apontam para 41 e 42 anos de idade média, com tendência de redução no final do período analisado. No cenário Natural, calcula-se em 150 mil as crianças que em 2050 terão seis anos e em 135 mil as que vão ter 18 anos, números que sobem até quase 180 mil e 150 mil, respectivamente, no cenário Ideal. Nestes cenários, em ambos os casos, os números sobem face aos actuais.
Com idade para ingressar no mercado de trabalho, calcula-se para as hipóteses Natural e Ideal que sejam 140 e 150 mil, respectivamente, valores que em todo o caso continuam abaixo dos actuais 160 mil.
A taxa de natalidade é sempre decrescente nos Cenários Base (de 1,1 por cento para 0,7 por cento) e Baixo (de 1,1 por cento para 0,5 por cento), e sobe ligeiramente, embora com uma forte ondulação, nos cenários Natural (para 1,2 por cento) e Ideal (para 1,4 por cento). Para este estudo, a APFN utilizou os valores de emigração observados em 2005, com a evolução prevista pelo INE para 2050 e o Índice Sintético de Natalidade (ISN).
As variações verificadas nos diferentes cenários foram dadas pelo ISN, que foi mantido constante (1,40) para os cálculos do cenário Base e aumentado até 2,1 (número médio de filhos desejados de acordo com o último "Inquérito à Família e Fecundidade" efectuado pelo INE) para o cenário Natural.
Para os cálculos do Cenário Ideal, subiu-se para 2,5 o ISN, sendo que a APFN salvaguarda que "esta hipótese é puramente académica para se mostrar os efeitos de uma taxa de natalidade superior a 2,1, nomeadamente na travagem do envelhecimento da população". Finalmente, no Cenário Baixo o ISN reduz 0,3 em 50 anos, dos actuais 1,4 para 1,1.
Para desenvolver este estudo foi utilizado um novo software que permite a qualquer pessoa realizar cálculos de projecção até 100 anos da população portuguesa, bastando para tal inserir as variáveis do Índice Sintético de Natalidade e do movimento migratório previstas.
Este novo programa de Cálculo de Projecções de População Residente possui como base de funcionamento a pirâmide etária de 2004, o modelo de mortalidade em Portugal desenvolvido pelos dois docentes da UNL, um aumento previsto da esperança média de vida de um ano a cada cinco anos e a taxa média de natalidade por mulher em idade fértil observada nos últimos anos.
Todos estes dados e o programa informático que permitiu realizar o estudo vão ser publicamente apresentados no dia 27 de Janeiro, em Lisboa, durante o seminário "Inverno Demográfico. Que respostas?".
23.01.2007
Data de introdução: 2007-01-23