Duas povoações do interior de Portugal, uma no Algarve e outra no Alentejo, aproximam-se de um modelo "inovador" que pretende transformar em "aldeias lar" para apoiar idosos as povoações em risco de desertificação. Trata-se da aldeia de São José de Alcalar, construída de raiz na freguesia da Mexilhoeira Grande, em Portimão, e de São Martinho das Amoreiras, no concelho alentejano de Odemira (Beja).
O modelo de "aldeias lar" é uma das "respostas concretas" para combater o envelhecimento da população e a desertificação do interior do país, que João Martins, professor universitário de Beja, vai propor na sua tese de doutoramento em Planificação Integral e Desenvolvimento Regional.
Em declarações à agência Lusa, o autor explicou que o modelo consiste em "revitalizar" as aldeias e vilas do interior do país com população envelhecida e em risco de desertificação, transformando-as em "aldeias lar". "Através de investimento público, privado ou misto, as casas devolutas ou abandonadas nestas povoações poderão ser adquiridas e reconvertidas em apartamentos para a habitação de idosos", precisou.
Além das habitações e dos equipamentos e serviços normais em qualquer localidade, continuou, o modelo sugere a criação de "unidades de apoio a idosos", onde, exemplificou, "poderão ser prestados serviços médico-sociais, como cuidados geriátricos ou paliativos".
De acordo com João Martins, São José de Alcalar, a nove quilómetros de Portimão, "apesar de ter sido construída de raiz, aproxima-se do modelo proposto de «aldeias lar»”. São José de Alcalar é a concretização do "sonho" do padre da Mexilhoeira Grande, Domingos Costa, que, explicou à Lusa, decidiu construir uma aldeia para "alojar idosos carenciados, sobretudo casais, que não podem continuar nas suas casas, mas também não se sentem bem nos lares tradicionais".
Na aldeia algarvia, propriedade da Fábrica da Igreja Paroquial da Mexilhoeira Grande e que começou a funcionar em 1995, vivem actualmente 105 idosos, de várias zonas do país, em 52 moradias dispostas em dois blocos circulares, um com 26 T1 e o outro com 26 T3.
Além das moradias, a aldeia dispõe também de um edifício central, com um refeitório, um bar, uma sala de actividades de tempos livres, uma lavandaria e um posto de saúde, onde um médico e uma enfermeira prestam cuidados de saúde primários aos idosos. Com uma área de cinco hectares, a aldeia dispõe ainda de uma capela e de um centro juvenil, frequentado por 170 crianças. Os serviços centrais da aldeia, que empregam 28 pessoas, além das refeições diárias, apoiam ainda os idosos nos cuidados de higiene pessoal e das habitações e promovem actividades de animação.
Depois da aldeia dos idosos, Domingos Costa já está a preparar a construção, que deverá começar em 2008, de um "novo sonho", a Aldeia dos Querubins, destinada a crianças.
No Alentejo, à entrada de São Martinho das Amoreiras, existe um lar "inovador", que começou a funcionar há quase um ano e, segundo João Martins, é uma valência que pode funcionar como "ponto de partida" para a aldeia se "transformar" numa "aldeia lar".
Propriedade da Casa do Povo, o Lar de São Martinho das Amoreiras, além de funcionar como centro de dia para 20 idosos e prestar apoio domiciliário a 30 utentes, dispõe da valência de internamento, com uma capacidade total de 25 camas.
Nesta valência, além de sete quartos com duas camas cada, o lar dispõe de seis apartamentos (um com um quarto individual e cinco com um quarto duplo cada), todos equipados com cozinha e casa de banho e preparados para pessoas com deficiência.
"Os apartamentos são uma valência de internamento inovadora, pelo menos no concelho, onde os outros lares dispõem apenas de quartos normais", salientou à agência Lusa o presidente da Casa do Povo, Mário Neves. De acordo com o responsável, a valência de internamento "está esgotada", com idosos, na sua maioria, provenientes do concelho de Odemira, e, actualmente,
"tem uma lista de espera de 60 pessoas". "É pena o lar não dispor de uma maior capacidade", lamentou Mário Neves, frisando que "se mais quartos e apartamentos houvessem, mais estariam ocupados".
Com o "moderno" lar, orçado em um milhão de euros e co-financiado em 80 por cento pela Segurança Social, salientou Mário Neves, "criou-se emprego" e a "maior parte" dos utentes (50), que frequentam o centro de dia e recebem apoio domiciliário, "não teve que abandonar as suas casas e ir para um lar".
Os 25 idosos "internados" no lar, que dormem nos quartos ou vivem nos apartamentos, frisou, "pelo menos, não tiveram que sair da aldeia ou do concelho e vivem em melhores condições e com apoio".
Por Luís Miguel Lourenço, da agência Lusa
17.06.2007
Data de introdução: 2007-06-17