A esquizofrenia, doença que afecta entre 60 a 100 mil portugueses, está a gerar problemas sociais dramáticos devido à falta de uma rede de apoio capaz de responder às necessidades destes doentes sem capacidade para uma vida social normal. "Esta doença crónica leva à insuficiência social dos doentes, que perdem a capacidade de levar uma vida social activa e autónoma", afirmou à Lusa o psiquiatra Marques Teixeira, presidente do IV Congresso Internacional de Esquizofrenia que decorre no Porto.
Marques Teixeira recordou que os doentes esquizofrénicos, devido à sua incapacidade para uma vida social normal, "na maior parte dos casos, não casam, não procriam e acabam por ficar sozinhos com os seus familiares". "O problema é que os familiares envelhecem e morrem, o que normalmente acontece numa altura em que o doente tem 45 ou 50 anos", frisou o especialista,
alertando que esta situação é "um drama actual".
Segundo um estudo que será apresentado durante o congresso, 64,4 por cento dos doentes portugueses com esquizofrenia vivem dependentes da família, 35 por cento estão desempregados e 33,7 por cento reformados. "Em muitos casos, estes doentes, como não existe uma rede de apoio capaz de responder às suas necessidades, acabam por viver da caridade alheia e transformam-se em sem-abrigo", afirmou Marques Teixeira, que também dirige
a Unidade de Investigação em Saúde Mental e Psiquiatria do Hospital Conde Ferreira, no Porto.
Actualmente, estima-se que existam em Portugal entre 60 a 100 mil doentes esquizofrénicos, tendo Marques Teixeira admitido que "cerca de metade podem ser confrontados a curto prazo com este problema de isolamento". "Este drama nacional dos familiares dos doentes esquizofrénicos só pode ser resolvido com uma estratégia de política de saúde que permita aliviar as famílias, substituindo-as nos serviços em que isso for possível", defendeu
Marques Teixeira.
Para este especialista, apesar das restrições económicas e da contenção de custos em que o país vive, deve ser dada "prioridade" a esta questão, que "é um problema permanente e não temporário". "Um doente com 20 anos a quem seja hoje diagnosticada a doença, continuará a ter esse problema daqui a 30 anos", frisou, admitindo que a perspectiva de faltar o apoio familiar coloca "em pânico" muitos doentes esquizofrénicos.
O mesmo estudo refere que 41,5 por cento destes doentes não têm actividades sociais com amigos ou familiares. Relativamente à qualidade de vida, as conclusões deste trabalho indicam que 70,6 por cento dos doentes com esquizofrenia em Portugal sentem dificuldades em realizar as suas actividades diárias e que um em cada quatro destes doentes não é capaz de realizar tarefas relacionadas com cuidados pessoais.
As estatísticas referem que a maioria dos doentes esquizofrénicos portugueses são homens (65,6 por cento), com uma idade média de 36,5 anos. Os dados relativos a Portugal constam de um estudo intitulado Schizophrenic Outpatients Health Outcomes, o maior do género alguma vez realizado, que envolveu o acompanhamento de 11 mil doentes em 10 países europeus durante
três anos.
Uma das principais conclusões deste estudo refere que a regressão da doença é mais significativa em mulheres casadas, socialmente independentes e com actividade laboral remunerada.
A esquizofrenia é uma perturbação mental grave, que se caracteriza por uma perda de contacto com a realidade, alucinações, delírios, pensamentos anormais e alterações do funcionamento social e laboral.
Esta doença, que se estima que tenha a nível mundial uma prevalência de um por cento, se for devidamente tratada e acompanhada pode permitir que o doente tenha uma vida pessoal e profissional quase normal, melhorando de forma significativa a sua qualidade de vida.
21.06.2007
Data de introdução: 2007-06-21